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Algo Dentro de Você Não Está Bem!

 Ano 2021. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208

O presente artigo chama a atenção do leit@r a observar se já se deparou com uma sensação de vazio em sua vida? Muitas pessoas, em diversos momentos de suas vidas, já se depararam com uma sensação de vazio. Ela ocorre em diversos momentos da vida, por razões diversas. Psicólogos afirmam que essa sensação de vazio pode ser, por exemplo, por sentir falta de alguma coisa em dado momento. Para se sentir melhor é preciso reconhecer a sensação de vazio/ e ou tristeza. E nesse ponto é importante ainda, que seja gentil consigo mesmo. Não se sinta culpado por esse sentimento nem ao menos tente descartá-lo ou mudá-lo. [...] Através do sentimento de culpa, a cultura domina nossa inclinação à agressividade, debilitando-a, desarmando-a, e colocando em seu interior um agente para cuidar dela “como uma guarnição numa cidade conquistada” (FREUD, 1997, p.84).

Para ocorrer mudança é preciso que haja a compreensão primeiro. Por exemplo, se você perceber que essa sensação de vazio é oriunda do desemprego e não consegue se empregar no mercado de trabalho, procure não se culpar, pois existem outros fatores que fogem ao seu conhecimento. Por tanto é um luto recente. Sentimentos vão e vem. Além disso, é muito comum o indivíduo entrar em estágio de negação no luto do desemprego ou da saída do isolamento social provocado pela pandemia para a rotina. Basicamente, a pessoa ignora que o desemprego não aconteceu e parece que não dá importância a ele. Contudo, basicamente, o que se faz é manter o buraco que o desemprego lhe causou. Age assim por não entender a perda e recai na compulsão a repetição do objeto faltante/ e ou saudade de algo. [...] Freud no seu texto “Recordar repetir e elaborar” (1914), texto esse em que começa a pensar a questão da compulsão à repetição, fala do repetir enquanto transferência do passado esquecido dentro de nós. Agimos o que não pudemos recordar, e agimos tanto mais, quanto maior for a resistência a recordar, quanto maior for a angústia ou o desprazer que esse passado recalcado desperta em nós.

E, às vezes, essa sensação de estar faltando algum objeto volta para assombrar o indivíduo e lembrar da perda. Esse é apenas um exemplo. Há muitas causas para a sensação de vazio que podem ser desilusões amorosas, excesso de trabalho, transtornos psicológicos, morte de ente, modificar rotina e hábitos devido a saída do isolamento social e o que você pensar enquanto lê o artigo. Por isso é importante perceber o vazio para compreender a real causa dele. Caso a sensação de vazio seja muito persistente, pode ser interessante fazer um exercício de introspecção. Passe alguns dias consigo mesmo, fazendo coisas que gosta e também lhe propiciando autocuidado. Tire uma folga do que está fazendo se for possível. Propicie a si mesmo uma folga de buscar empregar-se no mercado de trabalho através da busca de vagas por E-mail ou qualquer outro meio usado na internet.

Explore e compreenda o que está sentindo no presente em relação a seus sentimentos. A sensação de vazio é o alerta que indica que algo dentro de você não está bem. Pode ser uma tristeza passageira, porém pode indicar algo mais sério e que deve ser percebido com cuidado e atenção. Neste caso um processo terapêutico é fundamental. Exemplo, saudades da rotina antes da pandemia Covid-19, e do tempo em que trabalhava, da harmonia familiar antes do isolamento social, porque a quarentena trouxe consigo conflitos familiares, pois a sensação de vazio está acompanhada de sentimentos desagradáveis como tristeza, a frustração, o esgotamento mental, a decepção externa, a falta de energia libidinal e por aí vai.

Esta ausência de alguma coisa importante não é negativa, uma vez que é importante o ser humano escutar suas emoções para poder ir mais além do que está ou se encontra. Ou seja, para repensar além da situação que se encontra.  Pensar em algo que se localiza o oposto do que se observa ou pensa, algo que está muito adiante/ e ou que está para o ponto de vista de lá. O que é realmente negativo diante de uma situação deste tipo é desejar reprimir este mal-estar com a esperança de que o problema seja solucionado simplesmente com o passar do tempo sem que aja a necessidade de alguma intervenção como a reflexão.

Em uma situação de carecimento se irrompe também um impulso em forma de saudade pela sensação de ter perdido um objeto [trabalho, amor, carro, apto, empresa, autonomia, liberdade] um bem que antes era motivo de satisfação, prazer. E a ausência deste bem está vinculado a essa sensação de vazio. O indivíduo não sabe o que fazer exatamente para recuperar-se, ou seja, não sabe o que fazer para preencher esse vazio que é a falta do objeto que gera a compulsão a repetição da falta. O sujeito repete, recorda e elabora as ações sempre buscando os objetos da perda.

O que mostra a existência da ausência de objeto, nada mais é aquilo que o sujeito sente através da falta de alegria, fantasia, motivações estimulantes, desafios gratificantes, expectação e esperança, amor e outros. O indivíduo se sente falto de grandes recursos internos em sua bagagem consciência. Isto não significa que a pessoa que sente a privação não se sente amada. Há pessoas que tentam preencher esse vazio com amor, com comida, com drogas,  enchendo a sua agenda social, trabalhos voluntários, post nas redes sociais, viagens, compras de roupas, escrevendo, pintando quadros de arte, prospecção de clientes de modo desordenado, dedicando mais tempo às coisas que gosta ou descontando na academia. Sentem-se derrotadas, não querem pensar e reflexionar, sua energia libidinal se enfraquece e se recusa por meio do mecanismo de negação a lembrar que esse vazio existe e gera um mal. Se pudesse escolher um adjetivo para definir o vazio, seria insuportável. [...] Mecanismo defesa Fantasia, é um processo psíquico em que o indivíduo concebe uma situação em sua mente, que satisfaz uma necessidade ou desejo, que não pode ser, na vida real, satisfeito. É um roteiro imaginário em que o sujeito está presente e que representa, de modo mais ou menos deformado pelos processos defensivos, a realização de um desejo e, em última análise, de um desejo inconsciente.

No sujeito faltante a angustia é insuportável porque é incompreensível, porque tudo faz recordar, repetir e elaborar a necessidade de alguma coisa que as vezes o sujeito não consegui determinar o que é. Quando uma pessoa se sente privada de algo, é como se uma série de emoções negativas decidissem se aliar, tomar controle e complicar a vida. Manifestam-se a desilusão, a insatisfação, a angústia ou a tristeza dominando o indivíduo. A Falta de compreensão contra o vazio que representa a falta do objeto não é fácil. Externar o que o indivíduo senti e falar sobre o que o atormenta costuma ser uma boa maneira de começar a curar as feridas emocionais. [...] “A angústia é, dentre todos os sentimentos e modos da existência humana, aquele que pode reconduzir o homem ao encontro de sua totalidade como ser e juntar os pedaços a que é reduzido pela imersão na monotonia e na indiferenciação da vida cotidiana. A angústia faria o homem elevar-se da traição cometida contra si mesmo, quando se deixa dominar pelas mesquinharias do dia-a-dia, até o autoconhecimento em sua dimensão mais profunda” (CHAUÍ, 1996 p.8-9).

Deixe a vergonha para lá e peça ajuda; pois nem sempre o ser humano tem todas as ferramentas necessárias para solucionar os problemas. Pedir ajuda não significa ser incapaz, entretanto ter a capacidade de compreender que precisa de ajuda profissional para encarar o seu problema. Fica a dica: Procure valorizar o que você tem; não se trata ser conformista, mas de entender a realidade tal e como é. Concentre-se naquilo que lhe faz sentir-se bem, potencialize as suas virtudes e competências. Perceba que ser adulto é das melhores coisas do mundo, pois, só na posição de adulto o indivíduo pode realmente escolher entre uma coisa e outra.

Sim, porque as feridas que a pessoa foi ganhando ao longo da sua vida, não foram escolhas, foram introjetadas no Superego sem permissão consciente, intencionalmente ou não, por todos os sujeitos com significado, exemplo, pais, irmãos, amigos, educadores, professores, mercado de trabalho, tecnologia e outros. Esses indivíduos criaram uma imagem no indivíduo que o mesmo assumiu como sua, porém que nem sempre corresponde àquilo que verdadeiramente é o sujeito.

No consultório percebo e depreendo que muitos dos problemas que se desvelam as pessoas estão, de alguma forma, relacionados com uma sensação de falta existencial, que cada um, na sua forma particular de funcionar, procura preencher para diminuir o sofrimento. O cliente pode procurar preencher essa ausência com coisas materiais, relações amorosas, com profissionais do sexo, trabalho, drogas, academia, comida e outros. Porém, estas formas de preencher o vazio satisfazem apenas momentaneamente e, rapidamente, o vazio volta a dar sinais de que ainda está lá, causando novamente angústia, tristeza, ansiedade, raiva, medo e todos os pensamentos e emoções negativas que daí advêm, predominando uma sensação de inquietude profunda que oprime aperta o órgão coração. [...] Esse medo marcará nossa memória, de forma desprazerosa, e será experimentado como desamparo, “portanto uma situação de perigo é uma situação reconhecida, lembrada e esperada de desamparo” (Freud, 2006, p.162)

E só quando o indivíduo começar a refletir poderá verdadeiramente questionar tudo o que lhe foi incutido e que descortina através da sua percepção. O que o sujeito é, só será realmente seu quando realizar este processo interior de questionamento, procura e interiorização. E essa é a tal escolha que pode, ou não, fazer quando se é adulto. O vazio existencial está presente na vida de todo ser humano, em maior ou menor grau. É sentido e vivenciado em inúmeras circunstâncias da existência humana. Ele emerge diante de situações peculiares e às vezes estressantes na vida do sujeito. Também pode ser observado diante dos vários lutos e perdas vividas ao longo da vida do indivíduo, exemplo, sucessão de desemprego, desastres ambientais, despejos de moradia, desilusão amorosas, perdas financeiras e outros.

O agravamento do sofrimento psíquico em decorrência do vazio da falta pode acarretar num estado em que o indivíduo se sente incapaz de se autorregular. Chega de repente, então, a depressão como forma de expressar essa lacuna na mente, que usualmente leva a pessoa a uma sensação de perda do sentido da vida. Do mesmo modo como se faz presente diante de inúmeras situações de vida, a carência também pode ser entendida, preenchida, amenizada, acolhida em algumas circunstâncias, sejam elas através da filosofia que tenta apreender e explicar a sua essência; através do trabalho que proporciona ao indivíduo um sentido de utilidade e bem-estar com sentimento de pertença e identidade.

Agora por meio das artes plásticas de uma forma geral, visto que as mesmas preenchem ou extravasam sentimentos e vivências; e através da religião que consegue dar ao indivíduo um sentido e sentimento de transcendência; ou até mesmo através da Psicoterapia que proporciona ao cliente um verdadeiro mergulho na sua essência, possibilitando-o entender-se e aceitar-se tal como verdadeiramente é. [...] o acolhimento da psicoterapia às buscas efetivadas pelo paciente pelos caminhos da religiosidade não implica a necessidade de o psicoterapeuta comungar das mesmas crenças religiosas dele. Acolher é respeitar e aceitar as diferenças de maneira que estas não sejam impeditivas do pleno desenvolvimento do processo psiquiátrico. (Angerami, 2008, p.11).

Sentir-se destituído é pensar que a existência não tem sentido, mesmo quando o ambiente lhe mostra exatamente o contrário. Poucos estados vitais são tão paralisantes quanto a se sentir falto de alguma coisa o qual ainda não se tem certeza do que é. Apesar do vazio ser descrito como ausência de algo específico, no campo da psicologia esta dimensão se define por uma angustia, um mal-estar e uma profunda tristeza. A frustração pessoal, a dor de uma infância complicada, o fracasso dos propósitos na vida ou mesmo o estresse e a ansiedade podem evoluir para este buraco negro existencial.

É uma saudade quase que insuportável, pois não se pode suportar aquilo que não se compreende de imediato. Quando uma pessoa se sente vazia, é como se uma série de emoções negativas decidissem se juntar, ganhar domínio e, em conjunto, desencadear uma 3espécie de engessamento. Aparece então a desilusão, a insatisfação com a vida, a angústia aliada a uma tristeza sem motivo aparente. Este conflito contra o vazio emocional não é fácil. Entretanto, deve ser detectado e ser alterado. Mas como? Algumas perguntas devem ser feitas a princípio, como; o que me traz satisfação?

Alguma coisa dentro do sujeito morreu, e a angustia e a ausência são expressões. O sujeito que está em crise existencial procura no objeto um estimulo emocional através do veio sexual. No vazio, há uma inversão de papéis, pois aquele que busca, reivindica sexualmente a atenção por parte do objeto faltante. Tais adultos ficam na dependência emocional e sexualmente porque dependem de um objeto para ter prazer. O vazio existencial é um conflito da ordem da negação de excitações que constituem o sujeito. Os homens são os que mais fazem isto a eles mesmos, pois, assim, creem que serão homens.

Exemplo, o adulto envolvido com algum objeto [emprego, lecionar para adolescentes, telemarketing, namoro, educador social], tem algum poder sobre o objeto, podendo ser exercido tanto pela sedução quanto pela coerção sobre ele. Já à abordagem ambígua deste adulto em relação ao objeto, ele deixa margem para que falte o objeto no que tange a abordagem sexual feita por ele.  Neste caso o vazio emocional é expressão de uma dimensão da experiência humana, que coloca o sujeito diante de um conjunto de excitações que foram negadas, negligenciadas ou que a pessoa tentou eliminar de si mesmo.

O desejoso gera a angustia que remete a estados regressivos, por meio do mecanismo de defesa da regressão, onde a diferenciação entre carência e necessidade não se fez. Ela se refere à negação das faltas que constituem o sujeito. São carências de prazer que não foram atendidas e que tornam o indivíduo vazio, alguém imaturo sexual e afetivamente. Ele é alguém que precisa de uma prerrogativa para ter prazer, e, por isso, toma a falta do trabalho, a falta do casamento como objeto de desejo, como se ele fosse uma extensão de seu mundo, por exemplo. [...] Regressão é um retorno a um nível de desenvolvimento anterior ou a um modo de expressão mais simples ou mais infantil. É um modo de aliviar a ansiedade escapando do pensamento realístico para comportamentos que, em anos anteriores, reduziram a ansiedade. Linus, nas estórias em quadrinhos de Charley Brown, sempre volta a um espaço psicológico seguro quando está sob tensão. Ele se sente seguro quando agarra seu cobertor, tal como faria ou fazia quando bebê. A regressão é um modo de defesa bastante primitivo e, embora reduza a tensão, freqüentemente deixa sem solução a fonte de ansiedade original. Finalmente, na regressão as pessoas, geralmente em estados patológicos, assumem comportamentos infantís na busca de afeto. Defesa contra uma frustração pelo retorno a uma modalidade de comportamento e de satisfação anterior;

O sujeito em falta consigo procura por exemplo, no trabalho, no casamento, nas redes sociais, na agenda lotada um incentivo através do veio sexual. Aquele que nega em si o que o excita, constitui-se como um outro na clandestinidade. Portanto, o que irá reduzir a sensação de angústia será não só a satisfação da necessidade, entretanto a certeza de ter alguém que cuida, exemplo, ter um emprego em uma instituição, ter um casamento, ter amizades nas redes sociais que nomeia o que acontece com ele, ou seja, um continente.

Por tanto o emprego é tomado como objeto de desejo e que não foi cumprido e por isso não é culpado, como muitos homens que, ao negarem suas necessidades mais primitivas sob o risco de perderem a masculinidade, também se culpam. Para eles, o vazio emocional que representa a ausência de um objeto específico, está em recusar ou tentar suprimir determinadas excitações, porque elas são inadequadas à ideia de masculinidade na sociedade.

A insaciabilidade de algo se produz numa inversão na qual o adulto procurar sair da sua condição para ser atendido em suas demandas por um emprego, um namoro, uma amizade e por aí vai. Ele se sente impotente diante da própria vida, e, por isso, busca um emprego específico/ e ou objeto que possa manipular, afrontar ou ameaçar, ter algum tipo de poder, status, autonomia, liberdade. A pessoa que se sente em vazio com saudades de algum objeto tem a intenção de atrair a atenção sobre si, sobretudo através de comportamentos, ações exageradas ou absurdas por meio do gosto por se exibir, por se mostrar vazio, confuso.

Observo que o mercado de trabalho era visto como menos ameaçador e menos agressivo no passado, e era obrigação dos trabalhadores conquistar a atenção dele. Os empregados procuravam vencer a vontade das organizações, controlando seus comportamentos por meio de ameaças, culpas e punições. [...] Em sua obra “Além do Princípio do Prazer” (1920, p.34), Freud afirma: a compulsão a repetição também rememora do passado experiências que não incluem possibilidade alguma de prazer e que nunca, mesmo há longo tempo, trouxeram satisfação, mesmo para impulsos instintuais que foram reprimidos.

Para compreender o desguarnecido se faz necessário observar quais atividades lhe dão prazer? Quais são as suas vontades ou interesses? Se consegue sentir felicidade em algum momento do dia? Seja consciente de que a perfeição não existe; perceba os pontos positivos e negativos. Olhe para a sua autoestima e autoconceito.

Procure valorizar as qualidades e vá corrigindo o que não está bom com o tempo. Para desvencilhar deste vazio que significa a falta é também de suma importância cuidar não só do aspecto psicológico, mas também do corpo físico e da aparência. Portanto, durma no mínimo oito horas; faça as refeições em horários corretos e regulares; hidrate-se bastante e caminhe meia hora por dia. O objetivo final é preencher esta nostalgia em um espaço para oportunidades gratificantes, atividades físicas, ouvir música, escrever, trabalhar e outros por exemplo.

A psicoterapia não existe apenas para as patologias, sem embargo também para todas as pessoas que sintam que precisam realizar este trabalho interior que é um reencontro consigo mesmas. Preencher esse vazio é um trabalho árduo, entretanto vale a pena o resultado, quando há novas apostas e nova atitude diante da vida. É preciso ter desejo e vontade para esquecer a morte, desastres ambientais, o desemprego, o divórcio, a saída do isolamento social e encarar a realidade e mudanças de rotina e hábitos que a pandemia provocou para ter uma qualidade de vida melhor e mais confortável. [...] O terapeuta se preocupa com o seu cliente de uma forma não possessiva, que o aprecia mais na sua totalidade do que de uma forma condicional, que não se contenta com aceitar simplesmente o seu cliente quando este segue determinados caminhos e desaprová-lo quando segue outros. (Rogers, 1961 apud Carrenho, Tassinari e Pinto, 2010, p. 81)

Na interrupção de algo especifico, o adulto guarda consigo a expectação de realizar, em cada ato libidinoso envolvendo o emprego, o casamento, a amizade nas redes sociais o impossível da relação sexual, e que o liga à fantasia tecida por aquele desejo. Aquele que se apercebe falto é aquele que põe o emprego específico como objeto de seu desejo e, a todo custo, usa, abusa e ultrapassa os limites sexuais de si mesmo, ou seja, o emprego em alguma instituição é colocado como fetiche, exemplo, objeto que se presta culto por se lhe atribuir poder mágico ou sobrenatural,  provocando prejuízos psíquicos e sociais ao sujeito que se depara com esse pensamento, crença. E não repensa além das possibilidades. [...] Em Freud (1900/2007a), o desejo é caracterizado por um impulso na busca da reprodução de uma satisfação original, mas de forma alucinatória; ou seja, faz referência a um objeto atrelado originariamente à satisfação e não mais encontrado, um objeto perdido e, então, representado na ordem do Simbólico. Assim, o desejo pode se realizar sem nunca se satisfazer- diferentemente do que acontece com a necessidade -, e sempre de forma parcial, na medida em que o encontro com o objeto, tomado pelo desejo circunstancialmente, também produz remissão ao mítico objeto perdido para sempre, reabrindo a insatisfação e relançando o desejo em sua incansável circularidade.

Sendo assim, o indivíduo carente [aquele que sofre a falta de algo], procura identificar-se com algum objeto e faz deste objeto [emprego específico, namoro, amizades] o que ele próprio gostaria de experimentar que é o prazer. O sujeito privado de algum emprego se apercebe colocado num patamar divergente dos demais indivíduos, sendo vistos como pessoa possuidora de desejos sexuais trabalhista da normalidade, pois, sua prática implica numa periculosidade muito maior, seu objeto sexual é um emprego, um objetivo específico, e não um objeto qualquer; suas ações implicam em inúmeros outros fatores.

 

 


Referência Bibliográfica

ANGERAMI, VALDEMAR AUGUSTO (org.) Psicologia e religião. São Paulo: Cengage, 2008. 

CARRENHO, ESTHER. TASSINARI, MARCIS. PINTO, Marcos Alberto da Silva. Praticando a abordagem centrada na pessoa: dúvidas e perguntas mais frequentes. São Paulo: Carrenho Editorial, 2010.

CHAUÍ, MARILENA. HEIDEGGER, vida e obra. In: Prefácio. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

FREUD, S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.

FREUD, S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914). "Recordar, repetir e elaborar ", v. XII

FREUD, S. O ego e os mecanismos de defesa. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal

Popular, 1968

FREUD, S. (1930) O Mal-estar na civilização. Rio de Janeiro: Imago, 1997.

FREUD, S. (2007e). Más allá del principio de placer (Obras Completas, Vol 18, pp. 1-62). Buenos Aires, Argentina: Amorrortu. (Originalmente publicado em 1920).

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