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SEI QUE O PSICÓLOGO ESTÁ LÁ, mas não vou!

 Ano 2021. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208

O presente artigo chama a atenção do leit@r a reflexionar sobre as atitudes na hora de buscar um profissional da saúde. O indivíduo sente um pseudo-alívio, apenas em pensar que determinado profissional de áreas especificas se encontram num local também especifico, exemplo o médico atua em pronto socorro do hospital. Só em ter a convicção que existe médico naquele ambiente é necessário para produzir um estimulo na pessoa, mesmo que o sujeito não se mova até o local. Está pessoa age de acordo com este estimulo quando entende que está passando por doença e que deve procurar um médico. Mas o contrário também ocorre, levando o sujeito a procrastinar/ e ou resistir a procura de profissional mesmo sabendo que está doente.

Este sujeito tem pensamentos e juízos de valores equivocados que o fazem não se mover, mas apenas permanecer na resistência. Exemplo, da desculpa que ir até o pronto socorro é dificultoso e lá passará por horas até ser atendido; o médico não é aquele que ele tem idealizado, por que médico de pronto do SUS não olha nem no rosto do paciente enquanto pergunta o que está sentindo, e neste momento sofre decepção. A pessoa julga que os sintomas não são de natureza grave para a busca de um médico.  O fato de ter perdido o convenio médico da empresa a qual trabalhava agora gera resistência para buscar no SUS atendimento, pois perdeu o conforto que tinha nas clínicas e não deseja passar por contrariedades, pois apenas se fazia uso do telefone e agendava a consulta, isto era uma maravilha, mas ficou no passado. [...] Em sua obra “Além do Princípio do Prazer” (1920, p.34), Freud afirma: a compulsão a repetição também rememora do passado experiências que não incluem possibilidade alguma de prazer e que nunca, mesmo há longo tempo, trouxeram satisfação, mesmo para impulsos instintuais que foram reprimidos.

O indivíduo se automedicaliza diante de alguns sintomas para escapar de ir ao médico. As vezes o motivo pode ser a precarização de dinheiro na vida da pessoa que a impede de procurar um profissional da saúde. A pessoa busca a cura na religião, como meio de fugir do profissional da saúde. E com todos esses percalços agindo na sua consciência, sinaliza a aproximação - desejo em buscar o médico, porém o afastamento -medo que o impede de agir com eficácia sobre a própria vida. Dentro de organizações multinacionais existe o Psicólogo organizacional que está lá para auxiliar o colaborador e assim mesmo o colaborador tem receio de procurar o psicólogo para contar sobre suas diferenças de opinião com a supervisão, gestão, pois tem medo que seus segredos serão descortinados para a gerência correndo o risco de ser demitido. O mesmo fato ocorre com o Psicólogo do futebol ou esporte, pois o jogador tem receio de procurar o profissional para conversar sobre seus conflitos com os colegas e o treinador, pois tem medo de não participar de campeonatos.

Agindo de acordo com seu juízo de valor, continuará a evitar o profissional da saúde que está lá para ampará-lo. [...] o acolhimento da psicoterapia às buscas efetivadas pelo paciente pelos caminhos da religiosidade não implica a necessidade de o psicoterapeuta comungar das mesmas crenças religiosas dele. Acolher é respeitar e aceitar as diferenças de maneira que estas não sejam impeditivas do pleno desenvolvimento do processo psiquiátrico. (Angerami, 2008, p.11).

Sei que o profissional está lá, mas não vou! O indivíduo reproduz o comportamento aprendido com outros seres humanos, está agindo de maneira alienada e não consciente dos prejuízos que virão no futuro desta ação. Citei aqui o exemplo de médico, pois são ações clássicas que observamos nas pessoas quando se trata da busca de um profissional da saúde, seja, médico, enfermeiro, oftalmologista, ginecologista, clinico geral, buco maxilo, dentista e o que você pensar agora enquanto está lendo o artigo.

Mas agora vamos discorrer os percalços que dificulta a ida do indivíduo ao psicólogo. Se vamos a um dentista para tratar os dentes ou ao médico quando contraímos a Covid-19, por que não consultamos um psicólogo quando não sabemos como administrar determinadas situações, quando estamos estressados ou temos conflitos familiares, ou os filhos sofrem bullying na escola?

Nem tudo se reduz à alienação mental. A psicologia atualmente influencia e pode melhorar todos os campos e contextos da pessoa. No entanto, apesar de ser cada vez mais valorizada, a consulta com um Psicólogo continua sendo muito caro para determinadas classes sociais. As pessoas criam infinitas desculpas para não ir ao psicólogo. Vamos entender as mais estigmatizadas. Quais são as mais utilizadas? O indivíduo avalia a si mesmo e a situação descrevendo que não tem tempo; não tem dinheiro e as vezes de fato isso é uma realidade da pessoa naquele exato momento; como também as vezes não tem o desejo de fazer um movimento retirando gastos supérfluos para aplicar na psicoterapia e as vezes tem se o dinheiro, mas não quer se valer dos serviços psicológicos; não se encontra em estado de loucura ou doente; os seus problemas são causados por terceiros o que significa que ela não é responsável pelos acontecimentos na vida, mas atribui a culpa ao terceiro; leva muito tempo para surtir efeito a psicoterapia ou qualquer outro tipo de serviço psicológico; já toma medicação prescrita, pois passou por psiquiatra e julga que não é necessário investir dinheiro com psicólogo, porque investiu com psiquiatra. [...] Através do sentimento de culpa, a cultura domina nossa inclinação à agressividade, debilitando-a, desarmando-a, e colocando em seu interior um agente para cuidar dela “como uma guarnição numa cidade conquistada” (FREUD, 1997, p.84).

Basta investir tempo e fé na religião que é suficiente; procura desesperadamente no Yotube por vídeos referente aos seus sintomas e tenta aplicar na resolução dos problemas correndo o risco de não ter a  menor eficácia; gasta dinheiro com livros de autoajuda, mas não quer investir em serviços psicológicos; tudo pode se resolver com apenas a sua força de vontade e procurar por psicólogo é um sinal de fraqueza e se seus amigos descobrirem corre o risco de sofrer bullying. O tabu da sociedade, ou seja, a interdição social ou cultural implícita de abordar determinado assunto como preconceituoso a ida ao psicólogo tem influenciando o indivíduo a adotar este comportamento como padrão e praticar a não procura pelo profissional; as crenças introjetadas na infância e adolescência por pais, avós, primos, amigos e outras pessoas de que psicólogo é só para ricos, levando a atitudes infantis. [...] Regressão é um retorno a um nível de desenvolvimento anterior ou a um modo de expressão mais simples ou mais infantil. É um modo de aliviar a ansiedade escapando do pensamento realístico para comportamentos que, em anos anteriores, reduziram a ansiedade. Linus, nas estórias em quadrinhos de Charley Brown, sempre volta a um espaço psicológico seguro quando está sob tensão. Ele se sente seguro quando agarra seu cobertor, tal como faria ou fazia quando bebê. A regressão é um modo de defesa bastante primitivo e, embora reduza a tensão, freqüentemente deixa sem solução a fonte de ansiedade original. Finalmente, na regressão as pessoas, geralmente em estados patológicos, assumem comportamentos infantís na busca de afeto. Defesa contra uma frustração pelo retorno a uma modalidade de comportamento e de satisfação anterior;

O psicólogo vai ficar me analisando e julgando, vou me sentir envergonhado, tímido; buscar um serviço psicológico gratuito exige esforço e não quer entrar na fila de espera, pois a ansiedade a leva a pensar que deve ser atendida de imediato não importa como, talvez com aquele jeitinho brasileiro que o todos estão acostumados a driblar certos sistemas, regras e outros. Surge o medo inconsciente e até consciente de ir ao psicólogo, que é algo muito mais comum do que as pessoas imaginam. Na verdade, esse medo é perfeitamente compreensível. Se pensarmos bem, a ideia de aceitar que há algo de errado com nossas emoções e procurar a ajuda de um desconhecido, ainda que seja um profissional, é um ato que exige coragem. Procurar ajuda profissional é uma mostra de humildade, maturidade e sobretudo, de coragem. [...] Esse medo marcará nossa memória, de forma desprazerosa, e será experimentado como desamparo, “portanto uma situação de perigo é uma situação reconhecida, lembrada e esperada de desamparo” (Freud, 2006, p.162)

As pessoas tendem a pensar que não conseguirão se abrir, mas isso raramente é verdade. A diferença entre consultar um terapeuta e um colega conhecido; é que o terapeuta pode fornecer ao sujeito as ferramentas para realmente ajudar a resolver seus conflitos, já o amigo não irá fornecer recurso algum a não ser o ombro amigo. Acontece que os sentimentos já existem independentemente da sua vontade de evitá-los, eles irão permanecer lá, e muitas vezes, os problemas também. Deve existir uma necessidade de mudança para que isso acabe e ignorar os problemas não os fará desaparecerem. Em alguns casos, ignorar os sentimentos fará com que o corpo sinalize para o indivíduo de alguma forma, aparecendo sintomas psicossomáticos,sem explicação médica, exemplo, enxaqueca, insônia, ansiedade, alergias, síndrome de pânico e outros.

Caso o leit@r esteja entre pessoas que não gosta de fazer uso de remédios, não precisa se preocupar. Psicólogos não receitam remédios, nem mesmo florais [tal prática é contra o código de ética do psicólogo]. Quem receita medicamento são os psiquiatras, que são médicos. O Psicólogo também não discute sobre a religião do paciente por questão do código de ética do profissional. Se o cliente é evangélico ele irá resolver sobre sua espiritualidade com o seu pastor da sua denominação.

Infelizmente, as pessoas tendem a gastar muito com coisas materiais [celulares, internet, tv a cabo, academia, viagens, roupas e outros.] e pouco com a própria saúde mental. Nem sempre o acompanhamento com um psicólogo sai caro, isso dependerá do ponto de vista da pessoa. Pense, o indivíduo estará cuidando de si mesmo, investindo na sua saúde e bem-estar. Além disso, o profissional que lhe atender estudou muitos anos para poder sentar naquela cadeira e orientá-lo. [...] O terapeuta se preocupa com o seu cliente de uma forma não possessiva, que o aprecia mais na sua totalidade do que de uma forma condicional, que não se contenta com aceitar simplesmente o seu cliente quando este segue determinados caminhos e desaprová-lo quando segue outros. (Rogers, 1961 apud Carrenho, Tassinari e Pinto, 2010, p. 81)

Não deixe que a experiência negativa de uma outra pessoa impeça você de se ajudar. Cada indivíduo recebe uma orientação única e por essa razão é imprudente basear-se na experiência alheia. Também vale lembrar que existem maus profissionais em todas as áreas. Não é porque seu conhecido teve uma experiência ruim que o mesmo ocorrerá com você. Cada um tem as suas próprias experiências, seus pontos de vista, crenças, costumes e sentimentos. É, como diz um ditado popular, muitas vezes as comparações que os sujeitos fazem são odiosas. Uma ideia baseada nas más experiências alheias não é uma ideia, é um preconceito. Por outro lado, como em todas as profissões, nem todos os psicólogos são bons ou têm como prioridade o bem-estar do paciente. Isso não significa que a maioria dos profissionais não sejam bons. [...] “A angústia é, dentre todos os sentimentos e modos da existência humana, aquele que pode reconduzir o homem ao encontro de sua totalidade como ser e juntar os pedaços a que é reduzido pela imersão na monotonia e na indiferenciação da vida cotidiana. A angústia faria o homem elevar-se da traição cometida contra si mesmo, quando se deixa dominar pelas mesquinharias do dia-a-dia, até o autoconhecimento em sua dimensão mais profunda” (CHAUÍ, 1996 p.8-9).

Ir ao Psicólogo não é algo de outro mundo ou sobrenatural, nem uma medida para casos extremos, como muitos ainda acreditam. Hoje a ideia que os profissionais tentam difundir é que a prevenção deve ser a grande preocupação de todas as pessoas quando o assunto é saúde mental. Assim, não é raro vermos quem ainda associe psicoterapia como solução para desequilíbrio ou loucura. Isso mesmo, você pode ir ao psicólogo simplesmente porque tem curiosidade ou vontade de fazer psicoterapia! É possível que você se surpreenda muito com esse encontro e que o processo te ajude a se desenvolver em muitos aspectos. O aspecto preventivo, mostra que hoje quase todo mundo já se convenceu da importância de se fazer exames médicos periódicos, ter uma boa alimentação e praticar exercícios físicos regularmente. Espero que você leitor já esteja convencido do que citei a pouco. São atitudes básicas que nos ajudam a prevenir doenças e ter uma qualidade de vida melhor. Estamos ainda quebrando barreiras quando falamos de prevenção em saúde mental, mas já existe uma evolução.

O fato é que a saúde emocional é tão importante quanto a física, afinal, estão ligadas. Existem muitas pesquisas na área da psicossomática que indicam a influência das emoções em nossa saúde como um todo, incluindo o desenvolvimento de doenças e o tratamento e prevenção das mesmas. Nossa preocupação com a longevidade e boa qualidade de vida deve envolver um cuidado também psicológico e, neste sentido, é muito importante buscarmos a orientação profissional

Uma grande maioria prefere apenas ter conhecimento de que o Psicólogo está lá, mas não vai, e fica fantasiando que a angustia vai desaparecer de modo sobrenatural, e no entanto uma pequena minoria tem compreensão de que o psicólogo está lá e toma a decisão de fazer uso dos serviços psicológicos gratuitos ou pagos, por que ir ao psicólogo lhe traz benefícios, exemplo, pense que é uma maneira de se livrar de suas queixas e angústias. Assim como não há sentido em suportar uma dor física [de um dente, dores na coluna, dores nos músculos e outras], também não devemos manter a dor emocional. [...] Mecanismo defesa Fantasia, é um processo psíquico em que o indivíduo concebe uma situação em sua mente, que satisfaz uma necessidade ou desejo, que não pode ser, na vida real, satisfeito. É um roteiro imaginário em que o sujeito está presente e que representa, de modo mais ou menos deformado pelos processos defensivos, a realização de um desejo e, em última análise, de um desejo inconsciente.

Falar vai fazer a pessoa se sentir bem. A pessoa terá recursos internos para agir em dados momentos. A pessoa receberá outra opinião sobre o assunto levando a reflexão e tomada de decisões. O Psicólogo não julga o indivíduo. A pessoa se permite entender o assunto em questão. É um espaço sigiloso para a pessoa desvelar seus segredos mais íntimos. Abandonar hábitos prejudicais e vícios. Lidar com Problemas familiares e de relacionamento.

Aprenderá a Controlar o estresse e a ansiedade. Aprender a lidar com a morte de um ente querido ou perdas que ocorrem na vida do sujeito. Busca de autoconhecimento. Lidar com Sentimentos constantes de tristeza, ansiedade, estresse, raiva, desânimo. Lidar com Situações difíceis no trabalho. Compreender sentimento de culpa ou dificuldade de lidar com o passado e por aí vai.

 

 Referência Bibliográfica

ANGERAMI, VALDEMAR AUGUSTO (org.) Psicologia e religião. São Paulo: Cengage, 2008. 

CARRENHO, ESTHER. TASSINARI, MARCIS. PINTO, Marcos Alberto da Silva. Praticando a abordagem centrada na pessoa: dúvidas e perguntas mais frequentes. São Paulo: Carrenho Editorial, 2010.

CHAUÍ, MARILENA. HEIDEGGER, vida e obra. In: Prefácio. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

FREUD, S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.

FREUD, S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914). "Recordar, repetir e elaborar ", v. XII

FREUD, S. O ego e os mecanismos de defesa. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal

Popular, 1968

FREUD, S. (1930) O Mal-estar na civilização. Rio de Janeiro: Imago, 1997.

FREUD, S. (2007e). Más allá del principio de placer (Obras Completas, Vol 18, pp. 1-62). Buenos Aires, Argentina: Amorrortu. (Originalmente publicado em 1920).

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