Ano 2021. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo
CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do leit@r a observar a entrada da psicologia na
igreja e o preconceito que ela sofre diante de alguns fiéis, de algumas lideranças
e profissionais da psicologia, onde rotulam a psicologia, de psicologia cristã
para interesses próprios e ainda o estereótipo de psicólogo cristão. Será que a
função social do psicólogo na igreja é percebida como importante? A
espiritualidade acompanha o homem ao longo da história. Enquanto um componente
da vida humana, sua influência não se restringe ao âmbito sociocultural,
aparecendo também na constituição da subjetividade do indivíduo, expressa em
crenças, valores, emoções e comportamentos a ela relacionados. Desta forma, se
faz presente nos atendimentos clínicos de Psicologia, trazida como parte da
constituição psicológica dos clientes que procuram auxílio profissional para
seus aborrecimentos.
Embora
haja muitas divergências e contradições entre a Psicologia e a Teologia, não
podemos negar o fato de que hoje em dia se faz necessário o estudo e
conhecimento da psique do ser humano, através de seus comportamentos e
atitudes. É necessário que um líder da igreja, esteja preparado, para saber
como lidar corretamente, aconselhando, orientando, encorajando ou até mesmo
encaminhado a pessoa a buscar ajuda de um profissional da área da saúde.
Na
história da igreja evangélica, nada tem induzido os crentes ao abandono da fé
na suficiência da Palavra de Deus mais do que a pseudociência do aconselhamento
psicológico. Este discurso sinaliza um pensamento carregado de linguagem e
emoções preconceituosa, temerosa que desconhece e não reconhece e ainda
descrimina a psicologia como ciência. Considerando que a igreja evangélica é um
serviço mais que tudo de referência no aconselhamento pastoral. Algumas igrejas
possuem psicólogos licenciados em seu quadro de funcionários.
Parece
que algumas igrejas missionárias estão exigindo que os seus candidatos a
missionários sejam avaliados e aprovados por psicólogos profissionais
licenciados, antes de serem admitidos ao serviço. Pois os mesmos estarão se
defrontando com muitos conflitos ao saírem de sua terra natal.
Outras
igrejas oferecem apoio psicológico voluntário e gratuito, onde o psicólogo atua
em Plantão Psicológico, e o principal objetivo do projeto é acolher, atender e
proporcionar às pessoas em sofrimento emocional um tratamento sem custos
financeiros, oferecido gratuitamente à população. Mas a psicoterapia de grupo
tem vagas limitadas e é oferecida a pessoas de baixa renda, ou seja, às pessoas
que não são contempladas nos serviços gratuitos do município.
Alguns
psicólogos e conselheiros cristãos tornam-se sempre mais conhecidos e
respeitados pelos evangélicos as vezes mais do que os pregadores e professores
no ambiente igreja e isto não é percebido com bons olhos pela liderança. Uma
maioria de evangélicos está convencida de que não precisa de psicoterapia, pois,
a Bíblia é necessária para suprir o que falta, no que se refere às necessidades
mentais, emocionais e comportamentais. Então, qual o problema com a
psicoterapia? De acordo com alguns cristãos, ela raramente funciona [e quando o
faz é apenas superficialmente sendo conhecida como prejudicial].
Ou
seja, não há envolvimento nem compromisso da parte do sujeito, ou ainda não funciona
por que o indivíduo procura a psicoterapia na intenção de obter um milagre
divino e quando não acontece o milagre ele a percebe como prejudicial, por ter
investido dinheiro e tempo na psicoterapia. A partir desta percepção/ e ou perspectiva
bíblica, ela é um engodo anticristão, o que leva o sujeito a recair na
compulsão a repetição da pseudo esperança de cura por meio da religião. Ou
seja, o indivíduo volta a buscar novamente na religião a cura do seu sintoma
que não aconteceu por meio da psicoterapia.[...] Freud no seu texto
“Recordar repetir e elaborar” (1914), texto esse em que começa a pensar a
questão da compulsão à repetição, fala do repetir enquanto transferência do
passado esquecido dentro de nós. Agimos o que não pudemos recordar, e agimos tanto
mais, quanto maior for a resistência a recordar, quanto maior for a angústia ou
o desprazer que esse passado recalcado desperta em nós.
Percebo
que alguns pensam que a psicologia tem sabotado cristãos na fé, no que se refere
à capacidade espiritual da Bíblia. Considerando que os psicólogos afirmam
possuir insights dentro da natureza humana e também métodos para mudar atitudes,
métodos esses que não se encontram na Bíblia, isso quer dizer que a Bíblia não
é satisfatória para aconselhar nem conduzir os crentes em suas necessidades
mentais, emocionais e comportamentais. [...] O
terapeuta se preocupa com o seu cliente de uma forma não possessiva, que o
aprecia mais na sua totalidade do que de uma forma condicional, que não se
contenta com aceitar simplesmente o seu cliente quando este segue determinados
caminhos e desaprová-lo quando segue outros. (Rogers, 1961 apud Carrenho,
Tassinari e Pinto, 2010, p. 81)
A
psicoterapia jamais alienaria a igreja ao engano de que psicologia e Bíblia
podem ser apensadas isso deveria ser escandaloso para todo crente inteligente e
maduro na fé. Percebido como a psicologia e a Bíblia são totalmente distintas,
deveria ser óbvia a impossibilidade de uma real acomodação em seus ensinos.
Finalmente, a chamada psicologia cristã não pode reconciliar a ciência com a
fé. Pois não há possibilidade de ancorar a psicologia na Bíblia, nem muito
menos adaptar a Bíblia a psicologia. E também por que não existe o curso de
psicologia cristã na universidade. Porque a psicologia é uma ciência e não pode
ser cristianizada. Sem dúvida, existem cristãos licenciados e psicoterapeutas, porém
não em cargo algum se autointitulando como cristão na sociedade.
Será
que existe psicólogo cristão? O que existe é o indivíduo singular que professa o
cristianismo e com formação acadêmica em psicologia, por tanto não existe psicólogo
cristão no mercado de trabalho, nem curso de psicologia cristã na universidade,
porém sim o profissional psicólogo independente da crença. Ou seja, o profissional
recebe o rotulo dos fieis de psicólogo cristão, médico cristão, psicanalista
cristão e esta marca acaba perseguindo o profissional que não pediu tal estereótipo.
Exemplo, já ouviram propaganda de médico cristão, médico candomblé, médico
espirita ou mesmo no livro da Unimed, onde consta uma variedade de
especialidades médicas, inclusive a psicologia e a psiquiatria, acaso se encontra
o termo cristão associado a profissão do nome do indivíduo?
Já se perguntaram por que deste estereótipo apenas
na igreja evangélica, acaso a igreja católica marca o psicólogo de psicólogo
católico. Onde será que estão os psicólogos espiritas, psicólogos sem reigião,
psicólogos candomblé, psicólogo judeu, por que será que ainda não receberam o título.
Isto é antiético. Alguns profissionais uma minoria operando por meio do
ilusionismo se vinculam ao termo psicólogo cristão intencional ou não e acabam
se beneficiando do título de algum modo. Contudo o Conselho Federal de Psicologia não
reconhece o psicólogo cristão na categoria profissional de psicólogos.
É
lógico que não podemos generalizar todos os profissionais, pois existem
psicólogos que são chamados de cristão no meio evangélico e atuam com ética de
acordo com o Conselho Federal de Psicologia. Ou seja, alguns desejam se mostrar
mais confiáveis que os psicólogos que seguem outras crenças por serem sujeitos
desejante e faltantes de atenção, prestígio, status. [...] Em Freud
(1900/2007a), o desejo é caracterizado por um impulso na busca da reprodução de
uma satisfação original, mas de forma alucinatória; ou seja, faz referência a
um objeto atrelado originariamente à satisfação e não mais encontrado, um
objeto perdido e, então, representado na ordem do Simbólico. Assim, o desejo
pode se realizar sem nunca se satisfazer - diferentemente do que acontece com a
necessidade -, e sempre de forma parcial, na medida em que o encontro com o
objeto, tomado pelo desejo circunstancialmente, também produz remissão ao
mítico objeto perdido para sempre, reabrindo a insatisfação e relançando o
desejo em sua incansável circularidade.
Por
trás do título concedido por si mesmo/ e ou recebido de graça dos fieis de
[psicólogo cristão] há a transferência da imagem e semelhança de Deus, de
poder, de fé ao atender o crente, operando por meio do mecanismo defesa da
projeção com isso cativa a confiança do paciente cristão. Mas no momento não
existe qualquer psicologia cristã aceitável, que seja significativamente superior
a psicologia não cristã. É difícil conceber que os cristãos desejam funcionar de
um modo totalmente diferenciado dos colegas não cristãos. Assim como não existe
uma teoria aceitável, um modo de pesquisa ou uma metodologia de tratamento
distintamente cristão.
O
psicólogo ao se posicionar como psicólogo cristão no ambiente igreja acaba
induzindo os fiéis a convicções religiosas neste caso, por atuar de modo
alienado, se pensar apenas na sua função social e abrangência social para a
comunidade evangélica. Por função social, entendem-se os efeitos que a atuação
do psicólogo produz na comunidade evangélica. Esse efeito é identificado em
termos da abrangência e do significado social da atuação do profissional.
Por
abrangência da função social entende-se o número de fiéis beneficiados pelo
trabalho do psicólogo e a natureza social delas nas igrejas evangélicas. Por
significado social da profissão entende-se a natureza do efeito produzido pelo
psicólogo na igreja, por exemplo, se ele contribui para a transformação emocional,
comportamental e social dos fieis na sociedade. Entretanto ainda há preconceito
desvelado em pleno século XXI de que psicologia é para gente doida. Se posso
conversar com meus amigos, não preciso de psicólogo. Não tenho problemas nem
doença nenhuma, então não preciso de psicoterapia. Terapia é supérflua, é jogar dinheiro fora.
Terapia
é para pessoas com a mente fraca. Eu já tenho Jesus, não preciso de psicólogo.
O evangélico por se achar auto suficiente e imbatível, ou seja, o super crente
resiste em reconhecer que está com angustias e por esta razão demora em buscar
ajuda, pois inconscientemente está apegado ao preconceito, estereótipo e
discriminação e quando o faz, ainda por medo, busca a ajuda de um profissional
da psicologia que professe o cristianismo e dificilmente o não cristão. [...]
Segundo Allport (1954) o preconceito é o resultado das frustrações das
pessoas, que, em determinadas circunstâncias, podem se transformar em raiva e
hostilidade. As pessoas que se sentem exploradas e oprimidas frequentemente não
podem manifestar sua raiva contra um alvo identificável ou adequado; assim,
deslocam sua hostilidade para aqueles que estão ainda mais “baixo” na escala
social. O resultado é o preconceito e a discriminação.
Mas
antes da tomada de decisão busca aconselhamento pastoral e aí está o perigo.
Existe liderança preconceituosa que aconselha que o evangélico não deve buscar
ajuda de um psicólogo, pois Deus vai curar. Porém a pessoa já cansou de pedir
para Deus curar, e a cura ainda não ocorreu. Mas uma pequena minoria incentiva
a procurar por ajuda de psicólogo ou psiquiatra independente da crença. E
outros ainda se buscar um psicólogo, procure apenas o psicólogo cristão. [...]
o acolhimento da psicoterapia às buscas efetivadas pelo paciente pelos
caminhos da religiosidade não implica a necessidade de o psicoterapeuta
comungar das mesmas crenças religiosas dele. Acolher é respeitar e aceitar as
diferenças de maneira que estas não sejam impeditivas do pleno desenvolvimento
do processo psiquiátrico. (Angerami, 2008, p.11).
Muitas
pessoas independentes do seu credo buscam ajuda na Psicologia para saírem de
várias contrariedades como conflito familiar, alcoolismo, medo, neurose, ansiedade,
síndrome de pânico e por aí vai. A Psicologia seria uma grande ferramenta no
trabalho pastoral, ela tem um papel imprescindível dentro da Igreja, se não
existisse preconceito/ e ou medo da parte de alguns líderes que ainda não
conseguiram despojar-se do velho homem, grifo meu. [..] Efésios
4:22 22 - Que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se
corrompe pelas concupiscências do engano.
Compreendo
que nunca o homem foi tão livre por fora e tão cativo no oculto do seu ser. Ou
seja, mesmo tendo o livre arbítrio, nunca o homem esteve tão escravo no mundo
de seus pensamentos e na zona de conforto de suas emoções, na tecnologia, nas
redes sociais, no smartphone, no facebook, no whatsapp e outros em busca de
prazer. O que o sujeito não soluciona em sua psiquê, seu corpo converte em doença
psicossomática. [...] Em sua obra “Além do Princípio do Prazer” (1920,
p.34), Freud afirma: a compulsão a repetição também rememora do passado
experiências que não incluem possibilidade alguma de prazer e que nunca, mesmo
há longo tempo, trouxeram satisfação, mesmo para impulsos instintuais que foram
reprimidos.
Alguns
indivíduos associam ciência e fé. Ninguém contesta, por exemplo, que certos
tipos de queixas competem ao médico, e só a ele, medicar. Quando alguém próximo
fica doente, o indivíduo ora a Deus pedindo a cura, mais nem por isso deixa de
levá-lo ao médico. O mesmo deve ocorrer na psicologia; dentro do universo das
chamadas doenças mentais, alguém com quadro de sofrimento psíquico deve ser
encaminhado ao psicólogo, isso não exclui o poder da oração dos fiéis, porém apenas
a oração não garante melhora alguma.
Não
é difícil encontrar em alguns contextos [agora é importante não generalizar] membros
de igrejas com sofrimento psíquico ou algum quadro de transtorno mental
relatando sobre suas idas a determinados cultos. Nesse ambiente, não são raros
relatos semelhantes ao seguinte; um sujeito toma remédio forte com prescrição médica
controlada. A interrupção brusca do medicamento pode causar efeitos colaterais
ou mesmo agravar sintomas de angustia. Mas em certos lugares, quando começa a
participar no culto, o indivíduo recebe a informação de que o remédio é inútil
ou insuficiente e deve renunciar a ele, que Deus o libertará. [...] “A
angústia é, dentre todos os sentimentos e modos da existência humana, aquele
que pode reconduzir o homem ao encontro de sua totalidade como ser e juntar os
pedaços a que é reduzido pela imersão na monotonia e na indiferenciação da vida
cotidiana. A angústia faria o homem elevar-se da traição cometida contra si
mesmo, quando se deixa dominar pelas mesquinharias do dia-a-dia, até o
autoconhecimento em sua dimensão mais profunda” (CHAUÍ, 1996 p.8-9).
Os
temas variam, porém, giram em torno da recomendação de que a participação pura
e simples no culto garante o milagre. Quanto mais fervorosa a participação ou
oração, maior será a garantia. Confiando no milagre o indivíduo adere ao culto,
com uma expectativa de cura tão maior quanto a sua fé que retornam cada vez
mais os efeitos fisiológicos anteriores ao uso do remédio. Nesses cultos, a
promessa do milagre opera em via contrária ao uso dos remédios, o mesmo requer
a ausência deles e basta apenas crer ter fé em Deus.
As
práticas desses cultos deixam algo claro, há um adicionamento, feito por
determinadas correntes religiosas, entre religião e psicologia, entre o que
compete ao padre ou pastor e o que compete ao psicólogo. Criando uma ilusão,
uma pseudo fantasia de cura, de libertação. Como se a psicologia fosse
secundária e subjugada a interesses religiosos. Ou em outras palavras, como se
o psicólogo se resumisse a uma espécie de agente religioso que ignoraria a
própria ciência ou a colocaria explicitamente a serviço da religião. Certos
contextos religiosos chegam a levar essa combinação a práticas errôneas, mal estruturadas
e consideradas antiéticas. [...] Mecanismo defesa Fantasia, é um
processo psíquico em que o indivíduo concebe uma situação em sua mente, que
satisfaz uma necessidade ou desejo, que não pode ser, na vida real, satisfeito.
É um roteiro imaginário em que o sujeito está presente e que representa, de
modo mais ou menos deformado pelos processos defensivos, a realização de um
desejo e, em última análise, de um desejo inconsciente.
Um
exemplo, uma corrente de psicólogos e/ou religiosos usando a máscara social se auto
intitulados psicólogos evangélicos. Alguns deles inclusive receberam reprovação
pública do Conselho Federal de Psicologia (CFP), por prometerem uma terapia
para os indivíduos supostamente deixarem a homossexualidade. Chama atenção a
frequente demanda de fiéis evangélicos por fazer terapia especificamente com
psicólogos evangélicos. Entendo que o bom psicólogo nada tem a ver com sua
formação religiosa. Compreendo que os clientes fazem essa procura seletiva por
uma questão de identificação, com o jargão cristão ou evangélico, entretanto isso
não garante, de modo algum, o sucesso da terapia.
Parece
que o fiel inconscientemente tem medo/ e ou culpa de relatar sua história de
vida para um desconhecido ao qual nem sequer sabe sobre a sua crença, pois para
o evangélico o peso da crença religiosa tem um valor fundamental na escolha
sobre o profissional de psicologia. Ou seja, o fundamental é saber que a
punição não virá de fora, ela já está presente consciente ou inconscientemente,
pois pecou contra Deus por pensar /e ou buscar ajuda de profissional da
psicologia. O que não acontece muito em relação a outros profissionais da saúde
como médicos, enfermeiros, dentistas, oftalmologistas, ginecologistas e outros.
[...] Através do sentimento de culpa, a cultura domina nossa inclinação
à agressividade, debilitando-a, desarmando-a, e colocando em seu interior um
agente para cuidar dela “como uma guarnição numa cidade conquistada” (FREUD,
1997, p.84).
Outro
eixo discursivo observado, interpreta a demanda evangélica como fruto de uma
visão ingênua ou destituída de informações, decorrentes de percepções
distorcidas sobre a Psicologia e o fazer psicoterapêutico. Tais equívocos
seriam também explicados por preconceito de profissionais contra a ideologia
religiosa, bem como de líderes religiosos contra o saber psicológico. Entendo que
muitos fiéis evangélicos têm esta demanda de certa maneira por medo e/ou culpa.
[...] Esse medo marcará nossa memória, de forma desprazerosa, e será
experimentado como desamparo, “portanto uma situação de perigo é uma situação
reconhecida, lembrada e esperada de desamparo” (Freud, 2006, p.162)
Psicologia
ainda é vista em muitas denominações religiosas como algo do demônio ou pelo
menos que não é de Deus. Crente não precisa de terapia, porque Jesus é o maior
psicólogo. Grifo meu, no livro de Mateus 9:12 - Jesus, porém, ouvindo,
disse-lhes: Não necessitam de médico os sãos, mas, sim, os doentes. É possível
a compreensão que Jesus está claramente dizendo que as pessoas saudáveis, não
necessitam de médico, contudo aqueles que se encontram enfermos necessitam de
médico. Por acaso síndrome de pânico, crise de ansiedade, depressão não indica que
o indivíduo está doente.
Comunico
que por meio da Psicologia da Religião é possível estudar os fenômenos
religiosos como fenômenos da cultura, constituintes do ser humano. Ou seja, a
Psicologia não pode se misturar a práticas que envolvam fé ou misticismo, uma
vez que ela se propõe, através da atuação de seus profissionais, uma relação
diferente da proposta por esses campos. Deste modo, a religião tem como função
psicológica básica, fornecer símbolos [imagens, narrativas e rituais] que interferem
na relação da consciência com o inconsciente, oferecendo um sistema de
referência que promove a segurança e estabilidade do Ego.
Configura-se
que o Psicólogo não usa sua profissão para induzir a determinadas convicções. O
Psicólogo é proibido pelo Código de Ética de usar sua profissão para induzir a
convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de
orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito. Psicólogo é um
profissional que busca entender os comportamentos e as funções mentais do ser
humano. Ele aplica métodos científicos para compreender a psiquê humana e atuar
no tratamento e prevenção de doenças mentais e melhorar sua qualidade de vida.
Nenhuma
ciência está tão próxima da religião quanto à psicologia. O psicólogo deve ter
uma base sobre como manter sua religiosidade enquanto atuante de uma ciência
que o obriga a não associa-la com a vida religiosa vivida pelo mesmo, de modo a
não comprometer seus estudos e torná-lo imparcial diante dos atendimentos
prestados a indivíduos de diferentes costumes e credos, inclusive, pessoas sem
religião.
Por
tanto a ligação entre religião e psicologia na Grécia, foi entendida que a alma
era a sede do pensamento, e a igreja monopolizava o pensamento, na idade média,
dois pensadores postularam teorias relacionadas à psicologia. Santo Agostinho,
assim como Platão dizia que a alma era imortal, e defendia que também seria a
manifestação de Deus no homem. Já São Tomás de Aquino defendia que apenas Deus
teria uma essência e existência iguais, e isso justificaria a busca por Deus,
pois o homem seria um ser incompleto. Então enquanto a Igreja Católica mantinha
seu interesse sobre a psicologia houve uma relação entre as duas. Os estudos da
igreja católica estavam centrados em manter essa ligação para usá-la em prol da
fiel religiosidade dos seguidores. Apoiava apenas os estudos que considerava
sagrados e repudiava tudo o que poderia trazer interferências a seu domínio.
A
igreja nos dias de hoje, diz: precisamos da psicologia. Já não contamos com o
Espírito Santo para produzir as mudanças necessárias na vida dos crentes. Os
pastores, já não são competentes para aconselhar e curar por imposição de mãos.
Têm que enviar os crentes aos psicoterapeutas. Noto a manifestação de alguns profissionais
da psicologia com o mesmo comportamento da igreja católica na idade média, onde
agora etiquetam por conta própria a psicologia, para psicologia cristã em prol
da fiel religiosidade dos seguidores como meio de interesses escusos prometendo
uma psicologia evangélica de cura, mas não de modo desvelado embora exercida
por uma minoria que se alicerçam na máscara social de psicólogos cristãos, psicanalistas
cristão, pois é um rótulo apreciado dentro do ambiente igreja com a intenção de
causar notoriedade ao sujeito diferenciando do psicólogo comum, e no
consultório particular também.
Já
o código de ética dos psicólogos tem claras regras sobre a religiosidade: “Art.
02 – Ao psicólogo é vedado [entre outros]: […] e) Induzir a convicções
políticas, filosóficas, morais ou religiosas, quando do exercício de suas
funções profissionais.” Em outras palavras, enquanto profissional, o psicólogo
não pode induzir ninguém a fazer parte de suas crenças religiosas, caso
contrário sofrerá penalidades. Por tanto é uma (in)verdade a existência de
psicologia evangélica ou cristã.
Agora
reflitam, o psicólogo é um profissional que está sujeito a fazer psicoterapia
para cuidar de sua saúde mental, para dar atendimento adequado ao paciente. A
disciplina Psicologia social estuda o comportamento, preconceitos, estereótipos
e discriminação na sociedade. Se o psicólogo cristão então buscar no mercado de
trabalho o profissional psicólogo cristão, não encontrará a não ser no seu meio
evangélico. Entendo que o psicólogo até
pode procurar outro profissional que professe o seu credo religioso, para se
sentir mais seguro, entretanto se optar por fazer psicoterapia com outro
profissional que não professa o cristianismo, estará contribuindo intencional
ou não para o preconceito contra os outros colegas de profissão que tem outra
crença.
A
base do preconceito é o medo. Ou seja, entende-se o preconceito como uma atitude
negativa que um indivíduo está predisposto a sentir, pensar, e conduzir-se em
relação a determinado grupo [psicólogos não cristãos] de uma forma negativa
previsível. Este pode ser o pensar do psicólogo cristão que estudou psicologia
e agora atua alienado no preconceito.
Atualmente,
temas ligados à espiritualidade e à religiosidade tem se tornado cada vez mais
presentes no cotidiano de nossa sociedade e, como afirmam Cambuy, Amatuzzi e
Antunes (2006, p. 79), tem incidido com muita frequência na clínica
psicológica. Paralelo a isso, observo também da parte dos profissionais da
psicologia um distanciamento ou evitação de se abordar este tema, desprazeroso,
pois, para atender a estas demandas é necessário que o psicólogo compreenda
esta manifestação humana que, embora tenha um significado muito próximo ao
conceito de espiritualidade, difere deste em alguns aspectos.
Através
de uma relação de suporte, o terapeuta clarifica as vivências do cliente,
permitindo-lhe entender, modificar e compreender os valores e sentidos que tais
experiências trouxeram para sua vida, e qual a importância que a religião ocupa
em sua história pessoal. A partir do diálogo entre a psicologia e a religião
amplia-se o olhar do terapeuta, permitindo-lhe enxergar o cliente que se revela
e precisa ser compreendido como um todo e acolhido com suas vivências, valores
e crenças. Apenas através desse caminho da compreensão será possível entender a
pessoa em sua verdadeira humanidade.
Aceitar
a questão da religiosidade dos clientes significa entender qual a importância
que a religião ocupa na vida do cliente, estabelecendo com ele uma relação
empática que lhe proporcionará um sentimento de ter sido acolhido independente
de sua crença. Se você ainda pensa que pode ser possível psicologia evangélica,
está totalmente equivocado, não existe a menor possibilidade. Ou ainda a
existência de psicólogo cristão.
Referência
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