Outubro/2020.Escrito por Ayrton Junior - Psicólogo CRP 06/147208
A intenção deste artigo é, chamar a atenção do leitor(a) para olhar seus Sentimentos e os motivos para não falar sobre eles, mas sim guarda-los ou responsabilizar os outros ou ainda descarregar as emoções no corpo gerando doenças psicossomáticas ao longo do tempo. Algumas pessoas não costumam falar de seus sentimentos com o outro por motivos de desconfiança, outros estão sozinhos em determinadas situações e não tem com quem se abrir naquele exato momento, outros falam, mas depois se arrependem de ter cotando a fulano de tal e até o surdo e mudo tem a necessidade de falar de seus sentimentos. Há ainda aqueles que buscam o pastor da igreja, o padre, outros o vizinho, o amigo e etc. Tudo isto é valido. Mas e você tem procurado falar sobre seus sentimentos? Ou está sofrendo em silêncio. [...] “A angústia é, dentre todos os sentimentos e modos da existência humana, aquele que pode reconduzir o homem ao encontro de sua totalidade como ser e juntar os pedaços a que é reduzido pela imersão na monotonia e na indiferenciação da vida cotidiana. A angústia faria o homem elevar-se da traição cometida contra si mesmo, quando se deixa dominar pelas mesquinharias do dia-a-dia, até o autoconhecimento em sua dimensão mais profunda” (CHAUÍ, 1996 p.8-9).
Os sentimentos são gerados por emoções e sentir emoções significa ter sentimentos. O reconhecimento de nossas emoções e a identificação dos nossos sentimentos e desejos constituem fatores de extrema importância para o equilíbrio psíquico. É através da expressão de nossas emoções que vivemos a vida, e não apenas passamos por ela. Continuamente somos tomados por sentimentos provocados por fatos que ocorrem em torno de nós, exemplo, rotina, desemprego, luto, divórcio e o que você conseguir imaginar enquanto lê o artigo. Nos zangamos, ficamos alegres, entusiasmados, excitados, nos sentimos tristes, culpados, rejeitados, amados.
Essas emoções dependem, além de outros fatores, do que está se passando ao nosso redor, isto é, não são apenas eventualidades. Cada um de nós, dependendo da história de vida, faz uma leitura mental e interpretação subjetiva aos fatos presenciados. Porém, na maioria das vezes, agimos como se apenas as circunstâncias externas ou as outras pessoas determinassem nossos sentimentos.
Quando nos sentimos mal, temos a tendência de responsabilizar os outros, esquecendo a nossa parte na história. Nossos sentimentos são nossos e não do outro, entretanto os outros indivíduos podem corroborar para que eles ocorram, eles se manifestam essencialmente em função da nossa percepção, sensibilidade, leitura mental e interpretação e tudo isso está, em grande parte, associado a vivências passadas. Outra possibilidade, no entanto, é descarregar emoções sufocadas no corpo, por meio do mecanismo de defesa deslocamento e somatização. Quando a raiva, tristeza são abafadas, podem aparecer em forma de sintomas físicos [como exemplo disso podemos citar certas alergias; dor de garganta; dor de cabeça; gastrite, lesão por esforço repetitivo mais conhecida como LER [Tendinite, Bursite, Epicondilite] e outros.]. [...]Somatização, Dor psíquica e emocional crônica que chega ao físico. Podem ser doenças ou sintomas isolados. Nota: Um recurso extremo, muito comum, é quando inconscientemente após muitas tentativas de lidarmos com algo perturbador no psiquismo, somatizamos, o que significa dirigir o desequilíbrio para o corpo. É claro que é uma ação inconsciente. Algumas pessoas em especial somatizam como um recurso usual e corriqueiro para lidar com as ameaças ao ego.
A dificuldade em expressar os sentimentos por meio de palavras é mais comum do que pensamos. Ela pode ocorrer por diversos motivos, desde a timidez até o medo de ser ridicularizado em público [ou em participar de psicoterapia de grupo] ou por outra pessoa qualquer. Guardar tudo aquilo que sentimos só para nós mesmos pode levar a uma série de distúrbios mentais e de saúde. Falar dos sentimentos é essencial e quando não conseguimos expressá-los, o mais indicado é procurar um psicólogo para obter ajuda profissional adequada. O hábito de falar dos sentimentos não denota que somos frágeis ou sensíveis demais. Pelo contrário, se não os expressamos acabamos nos sentindo frustrados e, muitas vezes, levados ao estresse, a prejuízos cognitivos, afetivos e sociais acabamos por adoecer. [...] Freud no seu texto “Recordar repetir e elaborar” (1914), texto esse em que começa a pensar a questão da compulsão à repetição, fala do repetir enquanto transferência do passado esquecido dentro de nós. Agimos o que não pudemos recordar, e agimos tanto mais, quanto maior for a resistência a recordar, quanto maior for a angústia ou o desprazer que esse passado recalcado desperta em nós
Repare que desânimo, irritação, ansiedade e tristeza são alguns dos sintomas emocionais mais comuns daqueles que guardam tudo que sentem para si. Além disso, existem também sintomas físicos como insônia, dores no corpo, baixa imunidade, afecções na pele e dificuldade de respiração. Alguns indivíduos, muitas vezes, consideram que falar dos sentimentos principalmente os ruins, é reconhecer que não são perfeitos ou então significa evidenciar um sinal de fraqueza. Por isso, guardam para si ao invés de se expressarem. O medo da rejeição é um dos fatores que mais agem sobre aqueles que preferem guardar os sentimentos a falar sobre eles. Muito comum é o receio de expressar os sentimentos amorosos, por já ter sido rejeitado outras vezes. Quando a pessoa sofreu com muitas críticas ou não teve a devida atenção durante a infância, isto pode vir a influenciar na vida adulta, fazendo com que a pessoa prefira guardar os sentimentos para si para não se machucar. [...] Esse medo marcará nossa memória, de forma desprazerosa, e será experimentado como desamparo, “portanto uma situação de perigo é uma situação reconhecida, lembrada e esperada de desamparo” (Freud, 2006, p.162)
Detestar confronto faz com que as pessoas deixem de falar dos seus sentimentos, para não causar desconforto ou incomodar os outros. Ao expressarem seus sentimentos pode levar a uma calorosa discussão, então elas preferem ficar quietas, tanto para evitar a situação, quanto pelo medo de perder o controle das emoções. Muitos acreditam que não precisam se expor e que os outros, principalmente os mais próximos, são capazes de adivinhar quais são os seus sentimentos. [...] Em sua obra “Além do Princípio do Prazer” (1920, p.34), Freud afirma: a compulsão a repetição também rememora do passado experiências que não incluem possibilidade alguma de prazer e que nunca, mesmo há longo tempo, trouxeram satisfação, mesmo para impulsos instintuais que foram reprimidos.
Isso normalmente ocorre nas famílias ou com amigos mais chegados. O pensamento negativo também prejudica o processo, ao ponto de a pessoa considerar que não há motivos para falar dos sentimentos por achar que não há solução. Esse sentimento gera muita tristeza devido à percepção negativa que traz e acaba por paralisar o indivíduo. A baixa autoestima também incapacita a pessoa de expressar os próprios sentimentos, pois a faz pensar que não tem direito de pedir algo e que a sua opinião não tem valor. [...] Freud, em O mal-estar na civilização (1930/1976), afirma que a civilização constitui um processo a serviço de Eros, cujo propósito é combinar indivíduos isolados, famílias, nações, povos e raça numa unidade – a humanidade. A pulsão de morte, a agressividade e a hostilidade de cada um contra todos e a de todos contra um se opõem a esse programa da civilização.
O indivíduo, então, prefere guardar as coisas que sente. Se o sujeito não reconhecer o seu valor também vai acreditar que não vale a pena se expressar. Seja por apresentar um problema psicológico, como mecanismo de defesa, ou simplesmente por considerar uma forma de sensibilidade exagerada, a dificuldade em falar sobre seus sentimentos requer ajuda, pois, em todos os casos, traz uma série de prejuízos. O recurso terapêutico com um psicólogo é muito eficiente, pois estimula a troca de ideias. A Psicoterapia ajuda na construção de diálogos, promove o autoconhecimento e auxilia a pessoa a desenvolver a espontaneidade, ocasionando uma automodificação.
Referência Bibliográfica
CHAUÍ, MARILENA. HEIDEGGER, vida e obra. In: Prefácio. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
FREUD, S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.
FREUD, S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914). "Recordar, repetir e elaborar ", v. XII
FREUD, A. O ego e os mecanismos de defesa. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal
Popular, 1968
FREUD, S.Mal-estar na civilização. (1930[1929]) In: ______. Edição Standard brasileira das obras psicológicas completas. Trad. Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1976.v.XXI, p. 75 -174.
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