Maio/2020.Escrito por Ayrton Junior -
Psicólogo CRP 06/147208
A
intenção do artigo é chamar a atenção do leitor(a) a observar e refletir sobre
as brigas ou desentendimentos na relação familiar, conjugal, amorosa, no
trabalho e até na igreja com o arquétipo Deus e outros membros do clero. Há
centenas de razões e motivos para as pessoas se desentenderem com seus cônjuges,
parentes, amigos, colegas de trabalho e até com o criador. Entretanto, existe
uma causa que perpassa todas estas centenas de razões, que é a não compreensão
das diferenças individuais.
Desentender,
é claro, significa não entender. Alguém diz: Eu não consigo entender como [ele
ou ela] possa ter feito/e ou dito isso. Puxa, quando vemos esta expressão
compreendemos que a pessoa a qual disse isso, diz entender o fato. Ciclano fez
ou disse isso ou aquilo. Porém o que o indivíduo não entende é a razão, a causa
de ter feito. Agora o entendimento, assim, de maneira inversa, fica fácil de saber
que para criar o entendimento devemos criar empatia, que é nada mais ou nada
menos do que a capacidade de se colocar no lugar do outro, mesmo sabendo que
não é o outro(a), de ver o mundo como seus olhos, de se colocar em sua pele, em
sua posição. Por exemplo, a mãe pode não entender como seu marido, tendo
condições de escolher, prefere trabalhar em um sábado à tarde, ao invés de
realizar um pequeno passeio com seus filhos.
Quer
dizer, ela entende o que está acontecendo [o fato de ele trabalhar em vez de
sair]. Porém, o que ela não consegue compreender é que ela, iria fazer
diferente no lugar dele. Este é apenas um exemplo, mas se formos investigar a
fundo veremos que este argumento é válido para quase todos os casos. Não
compreendemos e, por isso nos desentendemos, pois não conseguimos perceber o
mundo com os olhos da outra pessoa. Conseguimos compreender a ideia da esposa
que queria um sábado de diversão em família. Entretanto, se nos colocarmos na
posição do pai, veremos que ele precisa trabalhar para ganhar mais ou precisa
trabalhar para cumprir um prazo determinado para pagar as contas ou até está de
algum modo fugindo a responsabilidade de sair com a família por existir algum
conflito familiar entre o marido e a esposa.
Isto
não quer dizer que ele não queria o passeio. Significa apenas que, dadas as
opções, ele prefere em seu senso de justiça pessoal ser responsável com o
trabalho do que ser irresponsável. Outro, exemplo, um indivíduo passa por
processos seletivos constantes em diversas vagas almejando emprego em
determinadas instituições com bom salário, benefícios, carga horária de
trabalho flexível, mas infelizmente não consegue o trabalho e pode não entender
como Deus não deseja que ele trabalhe nestes locais e gratifique-se.
O
indivíduo até entende o que está acontecendo [que não é vontade de Deus que
esteja trabalhando nestes locais]. Contudo, o que ele não consegue compreender
é os motivos para Deus não permitir trabalhar ali. O fato do sujeito ter seu
desejo adiado ou impedido de realização, pode ser o suficiente para usar dois
mecanismos de defesa a projeção, pois projeta sobre as pessoas a sua volta o
descontentamento com a figura do arquétipo e sobre o clero religioso e através
do mecanismo de defesa do deslocamento, desloca a raiva em forma de afastamento
da relação com Deus, com os membros da igreja que acaba por interferir na fé
racional.
O
indivíduo não compreende e, por isso se desentende com Deus, por não conseguir
perceber seu desejo com os olhos de Deus. Consegue compreender a ideia do seu
desejo devido as gratificações proporcionadas pelo emprego. Todavia, se ele se
colocar na posição de Deus, perceberá que existe algo além do seu desejo que
não foi desvelado ainda e esta falta de compreensão causa o desentendimento
entre o indivíduo e Deus.
A
convivência familiar não é nada simples. Personalidades e interesses se
misturam de forma que às vezes não é possível chegar a um acordo entre muitas
situações e se produzem discussões normais em qualquer família. Quando um
membro da família faz uma coisa que você não goste, diga algo que lhe ofenda, e
o que poderia ser resolvido com uma conversa franca acaba em discussão. Como
defesa, o outro contra-ataca, fazendo inconscientemente uso do mecanismo defesa
deslocamento da raiva, virando uma disputa, um tentando convencer o outro de
suas verdades.
Quando
se derem conta, a treta está formada e o problema, que originou a discussão,
não foi e nem será resolvido. Pode-se mudar a abordagem para evitar discussões
desnecessárias e ainda ter a oportunidade de melhorar seu relacionamento, a
única coisa necessária a se fazer é mudar a maneira como a treta começou. Exemplo,
em vez de falar: você não larga desse celular, está com ele dá hora que levanta
até a hora de dormir. Experimente falar: quando você fica muito no celular, eu
me sinto sozinho, desinteressante e fico triste, magoado me sinto trocado. [...] O ser humano é esse
nada, livre para ser alguma coisa. “Suspendendo-se dentro do nada o ser aí
sempre está além do ente em sua totalidade. Este estar além do ente designamos
a transcendência. Se o ser-aí, nas raízes de sua essência, não exercesse o ato
de transcender, e isto expressamos agora dizendo: se o ser-aí não estivesse
suspenso previamente dentro do nada, ele jamais poderia entrar em relação com o
ente e, portanto, também não consigo mesmo. Sem a originária revelação do nada não
há ser-si-mesmo, nem liberdade. (HEIDEGGER, 1996, p. 41).
Dessa
forma você conseguiu descrever o que você sente, expressar o mesmo sentimento
do celular, mas sem acusar o outro, sem dizer que as atitudes da pessoa são expressadas
de modo proposital e que merecem algum tipo de punição. Ao expressar a frase
deste modo, você está comunicando através da linguagem carregada de emoções,
seus sentimentos de maneira assertiva, podendo ou não o levar a reflexão sobre
como seu comportamento no celular contribui para gerar a discussão. Desta forma
se consegue alterar a acusação em uma descrição dos sentimentos, a culpa vira
responsabilidade compartilhada. Assim, o que poderia ser defeito da outra
pessoa, se torna um problema comum do casal.
Todo
casal briga e as vezes, por uma questão de momento ou de fase, um dos dois está
vivendo o estresse e acaba descontando a raiva no parceiro. Ou então, os dois
estão nervosos e a situação piora ainda mais. Só que, quando essas brigas
acontecem a todo o momento e são graves a ponto de atrapalhar a vida de casal,
é sinal de que algo não vai bem no relacionamento. Afinal, como fazer para
brigar menos? Existem vários tipos de casais. Aqueles que brigam a cada cinco
minutos, mas são pequenas discussões leves e que tudo volta ao normal
rapidamente. E aqueles que, quando brigam, é por algo mais sério, gerando uma
grande batalha de egos, argumentos e pontos de vista.
Não
existe uma maneira certa ou mais adequada de agir, isso varia conforme a
personalidade do casal. Agora, o que não é saudável para o relacionamento é
quando as brigas se tornam momentos de agressão e xingamentos. Quando deixa de
ser uma discussão sadia, com troca de pontos de vista e opiniões, e se torna,
simplesmente, uma chuva de desaforos. Isso mostra que o respeito e a tolerância
já não fazem mais parte do relacionamento. Brigar com muita frequência também
acaba gerando um desgaste na relação. Justamente por isso, é bom evitar essa
situação se realmente não for um motivo válido. E, se for aprender a ter uma
discussão respeitosa e que renda bons frutos.
Procure
um psicólogo, quando as discussões chegam a um ponto no qual o diálogo não
acontece, ou seja, torna-se apenas uma troca de desaforos, é o momento de
procurar um psicólogo. É ele que pode ajudar a entender a origem desses
problemas e trabalhar para que a pessoa saiba lidar melhor com as situações que
causam estresse e angústia. O psicólogo, se perceber que é necessário, pode,
inclusive, sugerir a terapia de casal, para ambos participarem e recuperarem a
conexão do relacionamento.
Desentendimentos
e conflitos fazem parte de um relacionamento. No entanto, há momentos em que as
brigas passam dos limites e deixam de ser uma etapa saudável de discussão. O
que acontece é que, com o estresse do dia a dia, problemas externos e pressão
profissional, muitas vezes as pessoas trazem esses problemas para dentro da
vida do casal, descontando suas angústias e frustrações no parceiro. São poucas
as situações em que vale a pena discutir. É preciso entender que os conflitos e
diferenças de opinião são normais e nem sempre é possível mudar o modo da outra
pessoa enxergar a vida e o mundo.
O
respeito é fundamental nessas horas para que o casal concorde em discordar e
deixe de brigar por coisas que não vão mudar. Quando as discussões não levam a
lugar nenhum, é sinal de que o casal não está mais conseguindo se comunicar, se
colocar um no lugar do outro e tentar entender o ponto de vista alheio. Esse é
o limite, chegou a hora de tomar uma atitude, procurar a ajuda de um psicólogo
e tentar recuperar a harmonia e entendimento do relacionamento. Troca de
ofensas, imagina que um casal está junto, é sinal de que se ama e se respeita.
Ou, pelo menos, é assim que deveria ser. Se durante as discussões, os parceiros
trocam ofensas, xingamentos e palavrões, o respeito já não faz mais parte da
relação, ou seja, o medo de um machucar ao outro, já não se faz presente na
relação. [...]
Esse medo marcará nossa memória, de forma desprazerosa, e será experimentado
como desamparo, “portanto uma situação de perigo é uma situação reconhecida,
lembrada e esperada de desamparo” (Freud, 2006, p.162)
Não
se permitam que esse tipo de tratamento se torne comum no relacionamento, pois
isso não é normal e nem saudável para ambos, e pode destruir a autoestima e o
romantismo. Brigas repetidas por causa das louças na pia da cozinha, deixar as
roupas com urina dos filho em cima do tanque por vários dias ali, colocar
panelas na geladeira ao invés de tapwere, não lavar as roupas adequadamente,
deixar a televisão ligada por horas enquanto as crianças brincam, ter que pedir
constantemente ao esposo(a) para executarem as tarefas do lar de modo
espontâneo e outros. [...] Freud no seu texto “Recordar repetir e elaborar” (1914),
texto esse em que começa a pensar a questão da compulsão à repetição, fala do
repetir enquanto transferência do passado esquecido dentro de nós. Agimos o que
não pudemos recordar, e agimos tanto mais, quanto maior for a resistência a
recordar, quanto maior for a angústia ou o desprazer que esse passado recalcado
desperta em nós.
Se
vocês já discutiram o assunto uma vez ou mais e não conseguiram entrar em um
acordo, voltar mais uma, duas ou três vezes para aquele mesmo tema não vai ser
a solução. Quando as brigas começam a se repetir e são sempre motivadas pelas
mesmas questões, é um grande alerta de que o casal não está conseguindo ser
mais flexível, ter tolerância e vontade de melhorar a qualidade do relacionamento.
Agressões verbais ou físicas, infelizmente, há situações em que as brigas de
casais envolvem agressões físicas. Isso é inadmissível e não pode ser tolerado
em hipótese alguma. Se isso acontece com você, afaste-se do seu parceiro(a),
procure ajuda e denuncie a situação.
Uma
briga de família pode surgir por diversos motivos, exemplo, dinheiro, choque de
personalidades, descaso, ciúmes, modos de se vestir, atividades domésticas não
executadas no lar, educação dos filhos ou até mesmo negócios e decisões
pessoais. Porém, é justamente em torno da instituição familiar que as formas de
organização social se baseiam. Distúrbios no núcleo e no relacionamento
familiar podem trazer sérias consequências para todos os integrantes, e,
principalmente, para as crianças. Muitos conflitos familiares são frutos de
decepções e frustrações que surgem a partir da confirmação de que as
expectativas criadas em torno da relação não serão satisfeitas. [...] O homem é projeto. A
necessidade de viver é uma necessidade de preencher esse vazio, de projetar-se
no futuro. É o anseio de ser o que não somos, é o anseio de continuar sendo. O
homem só pode transcender se for capaz de projetar-se. Assim, ele sempre busca
um sentido para sua vida. “A angústia contém na sua unidade emocional,
sentimental, essas duas notas ontológicas características; de um lado, a
afirmação do anseio de ser, e de outro lado, a radical temeridade diante do
nada. O nada amedronta ao homem; e então a angústia de poder não ser o atenaza,
e sobre ela se levanta a preocupação, e sobre a preocupação a ação para ser,
para continuar sendo, para existir (MORENTE, 1980, p.316)
Em
muitos casos, esses compromissos firmados antes dão lugar a discussões
intermináveis. Também é muito comum que os conflitos familiares sejam gerados a
partir de mal-entendidos. Os integrantes não conseguem ouvir outros pontos de
vista [de psicólogos, de pais, de mães] e argumentam aparentemente a mesma
coisa, de modo diferente. É essencial saber respeitar, perdoar e compreender os
outros. Esse é o primeiro passo para reestruturar a vida familiar e dar fim às
brigas em família.
O
diálogo é extremamente importante para resolver qualquer tipo de conflito.
Porém, é preciso saber escutar e, muitas vezes, evitar absorver o que o outro
fala. De nada adianta ficar discutindo e faltando com respeito para com o outro
se você não consegue parar, escutar e tentar entender um ponto de vista
contrário ao seu. Exerça a empatia, que é preciso entender que o ser humano
acerta e erra, causa orgulhos e decepções, e que isso é normal. Não exija que o
outro seja perfeito. Aceitar a forma que cada um demonstra seu amor é
fundamental para um relacionamento familiar saudável, assim como entender que
os outros possuem opiniões diferentes também.
Procure
entender o ponto de vista de seus familiares e o porquê de pensarem assim.
Pratique o perdão, pois guardar mágoas em relação a seus familiares só irá
prolongar uma situação que poderia ter sido resolvida de maneira muito mais
rápida. Libere suas tristezas, abra seu coração e fale a respeito de como você
está se sentindo em relação à briga. O perdão é a ponte entre o passado e o
futuro; não se pode apagar o que já aconteceu, mas pode-se mudar a forma como
você levará o resto da vida. Assuma quando está errado e saiba reconhecer seus
próprios erros é fundamental para a resolução de um desentendimento. É
necessário assumir sua parcela de responsabilidade / e ou culpa no que gerou o
problema, mas, também, devolver o restante da culpa para a outra pessoa.
A
briga nos revela a fraqueza humana, o nosso lado ainda imaturo e em constante
desenvolvimento, um verdadeiro engatinhar. Brigar pode ser saudável quando
temos a capacidade de autoconhecimento de nossa imperfeição. É preciso buscar
compreender o lado pedagógico que as brigas podem ter na nossa vida, se
estivermos atentos.
Brigar
tem um caráter didático quando, num momento posterior, aporta o reconhecimento,
as desculpas e o perdão. Se nenhum desses elementos não chegarem depois,
pode-se dizer que a lição da briga foi em vão. Um ditado popular corrobora com
essa ideia e enuncia mais ou menos o seguinte: o parvo é aquele que não aprende
com os próprios erros, o inteligente é aquele que percebe que errou e aprende
consigo mesmo a fim de não incorrer no mesmo erro e o sábio é aquele que
aprende com o erro dos outros simplesmente pela observação.
A
regra deve ser a observação da situação ao nosso redor, isto é, as brigas que
ocorrem e seus motivos, as separações e os desentendimentos, para assim nos
questionarmos e como poderíamos contorná-los se estivéssemos envolvidos? É um
exercício de se colocar no lugar alheio para aprender a apartar o conflito com
seu próprio meio. Brigar é viver, na medida em que viver seja aprender com as
brigas. O apontar dedos é uma atitude imatura que quase todos nós
invariavelmente fazemos a fim de achar subterfúgio para jogar a culpa às costas
do outro, porém justamente aqui está o caráter mais deslumbrante e educativo
que uma briga pode ter, a socialização dos riscos e a solidariedade dos danos.
A
exclusão da culpa quando o assunto é briga, nunca ocorrerá unilateralmente,
pois assim como ela, a resolução do conflito deve ser mútua. A linguagem da
briga é, pois, um jogo de espetos entre a língua do que ataca achando
argumentos plausíveis para suas atitudes e a língua do que se defende, e
contra-ataca, pensando estar na posse da verdade dos fatos e resguardado pela
razão. Pessoas com tendência a ter
sempre um modelo pronto e muito específico em suas mentes quanto ao que espera
do outro poderá ser mais propenso a iniciar pequenas brigas.
Casais
que não treinam a comunicação também poderão não conseguir um acordo e pequenas
brigas serão mais frequentes. Casais onde não há empatia, ou seja, capacidade
de entender o ponto de vista do outro também serão mais propensos a pequenas
brigas. Reinvente-se. Se você quer algo novo em sua vida você pode se repensar,
ou seja, se você é tão exigente a ponto de colocar a perder seu relacionamento
você já fez uma escolha, você preferiu suas exigências, exemplo, deixar a louça
suja em cima da pia, só varrer a casa quando solicitada(a), ficar a maior parte do tempo no celular e
assistir tv, só lavar as roupas quando pedir o que mostra falta de iniciativa e
outros que você imaginar em seu relacionamento enquanto lê o artigo a ter uma
boa relação. [...] “A angústia é, dentre todos os sentimentos e modos da existência humana,
aquele que pode reconduzir o homem ao encontro de sua totalidade como ser e
juntar os pedaços a que é reduzido pela imersão na monotonia e na
indiferenciação da vida cotidiana. A angústia faria o homem elevar-se da
traição cometida contra si mesmo, quando se deixa dominar pelas mesquinharias
do dia-a-dia, até o autoconhecimento em sua dimensão mais profunda” (CHAUÍ,
1996 p.8-9).
Para
mudar isso cada uma das partes pode escolher o relacionamento como prioridade e
repensar a si mesmo. Antes de reclamar de algo avalie se esta situação merece
mesmo que você emita sua opinião ou se trata de algo pequeno que pode ser
superado. Reveja suas prioridades, você prefere que cada pequena coisa aconteça
exatamente como você gostaria ou pode abrir mão de alguma coisa para ter um
relacionamento harmonioso? Reveja a forma como coloca sua preferencias,
exemplo, deixar a louça em cima da pia até que fique rodeadas por moscas ou
lavá-las imediatamente. Será que estas mesmas coisas não poderiam ser ditas ou
feitas de forma mais amena e sem ironias?
Caso
não consiga sozinho procure um psicólogo para que ele o ajude a entender o porquê
de você contaminar este relacionamento com estas pequenas brigas por meio de
seu comportamento. É possível que algo maior como um trauma o esteja impelindo
a provocar brigas que nem você quer. Cada pessoa tem a sua individualidade, seu
modo de pensar e agir. Na convivência de um casal há diferenças que no começo
do relacionamento podem ser mais fáceis de lidar, já que há uma disponibilidade
maior do casal a conhecer o parceiro(a).
Com
o passar do tempo, a rotina do casal se mistura com o estresse do trabalho e
problemas corriqueiros e o homem e a mulher tendem a se voltar para o que está
acontecendo consigo mesmo e não se tornando mais tão disponível para olhar,
escutar e entender o outro. Nesse momento é que começam a ocorrer as brigas domésticas
ou aquelas que para um dos cônjuges parece não ter importância, a irritação
entre os casais aumenta e as pequenas diferenças que existem entre eles que
antes eram toleradas, compreendidas passam a ser um problema maior. [...] Em sua obra “Além do Princípio do Prazer” (1920, p.34), Freud
afirma: a compulsão a repetição também rememora do passado experiências que não
incluem possibilidade alguma de prazer e que nunca, mesmo há longo tempo,
trouxeram satisfação, mesmo para impulsos instintuais que foram reprimidos.
Neste
caso o diálogo e a confiança podem ser essenciais para evitar as brigas e o
desgaste dentro do relacionamento. Se o casal não conversa talvez não consigam
manter um vínculo de cumplicidade e de confiança para resolverem problemas.
Pode ser importante que o casal estabeleça uma rotina de conversa desde o
começo do namoro confidenciando suas alegrias e tristezas, para que cada um
saiba que pode confiar e ter um apoio quando for necessário. Além disso o casal
precisa estabelecer uma identidade, se aproximando cada vez mais do respeito e
da compreensão de suas diferenças.
O
vínculo com a família é um dos mais importantes na vida de qualquer pessoa.
Embora o amor seja incondicional, não é incomum ter brigas e desentendimentos,
especialmente entre pais e filhos. Se você tem vários filhos, sabe que às vezes
as personalidades colidem e causam mais problemas com um deles em particular.
No entanto, a psicologia garante que o filho com quem mais briga é aquele que
mais se parece com você. Além disso, deve-se considerar que as crianças repetem
o que veem em seus pais, o que sustenta essa teoria. Isso poderia significar
que o comportamento das crianças que irrita seus pais poderia ter sido
adquirido deles mesmos. Em suma, os chefes da família rejeitam ações que eles
mesmos cometem, mas o fazem inconscientemente.
Na
psicologia, esse comportamento tem um nome, projeção. É um mecanismo de defesa
do ego, comum em seres humanos, que usamos para não assumir a responsabilidade
por aqueles aspectos que negamos como nossos e que nos irritam quando os vemos
traduzidos em outros. Para evitarmos conflitos, é necessário se aceitar e
reconhecer o que você não gosta. Além disso, é importante não julgar os outros
com tanta severidade, especialmente seus filhos, porque eles ainda estão
aprendendo. [...] Porém, a projeção não é
unicamente um meio de defesa. Podemos observá-la também em casos onde não
existe conflito. A projeção para o exterior de percepções interiores é um
mecanismo primitivo, ao qual nossas percepções sensoriais se acham também
submetidas, e que desempenham um papel essencial em nossa representação do
mundo exterior. (FREUD, 1913/1948, p.454).
Ter
conflitos e desentendimentos em um relacionamento não só é normal como também é
saudável. Em um casal que concorda em tudo, geralmente um dos dois está sendo
omisso. Duas pessoas podem se amar e se relacionar muito bem, ter sonhos e formas
de pensar parecidos em alguns assuntos, mas terão também características divergentes,
ideias que se chocam, atitudes e desejos que parecem incompatíveis.
Nesses
momentos, o que faz a diferença é a maneira de lidar com os conflitos, que pode
ser de duas formas: construtiva ou destrutiva. Quando os conflitos entre o
casal costumam ser resolvidos com respeito, sem ofensas e humilhações, se os
parceiros são capazes de conversar sobre suas questões de forma assertiva, no
intuito de resolver o problema em questão, estão lidando com seus problemas de
forma construtiva, ou seja, estão construindo uma relação saudável.
Quando
os filhos presenciam discussões assim estão aprendendo a respeitar as opiniões
diferentes e criando uma imagem positiva sobre relacionamentos interpessoais.
De forma contrária, as discussões se tornam destrutivas quando o casal não é
capaz de estabelecer um diálogo assertivo, gritam de forma exaltada, se ofendem
e humilham, reclamam de situações passadas e até deixam de conversar com o
parceiro. Nesses casos o casal está mais preocupado em culpar um ao outro do
que buscar uma solução para o conflito e são os filhos quem pagam um alto preço
pelos problemas dos pais.
Engana-se
quem pensa que os filhos não percebem nada, eles percebem tudo, só não sabem
como agir. Quanto mais os pais brigam entre si, mais a criança fica perdida e
tem a tendência de ter um desenvolvimento emocional conturbado, muitas vezes se
sentindo culpada pelas brigas dos pais. A criança com um emocional abalado vive
muita tristeza, angústia, muitas vezes vai se afastando das pessoas e pode
ficar muito solitária por não querer compartilhar seus sentimentos.
Psicólogos
esperam nos alertar sobre as doenças psicossomáticas, então, para o fato de que
nossas emoções afetam, e muito, a qualidade da nossa saúde. Trabalhar para
administrar crises de raiva ou conseguir falar sobre seus sentimentos são
tarefas fundamentais para quem quer viver bem e por mais tempo. E você, como
lida com aquilo que sente?
É
como um terremoto, as placas estão mal ajustadas e com o movimento brusco
acabam se encaixando melhor, o que faz com que se ajustem uma a outra,
diminuindo as interferências físicas entre elas. Para o casal a briga tem um
efeito muito semelhante. Em alguns momentos ela será o ajuste de contas. A
forma de equilibrar e ajustar o que não está bom para uma das partes, ou para
ambos. A briga traz estragos sim, como num terremoto. Existem perdas, existem
ferimentos, mas é possível acertar as coisas e reconstruir. [...] O mal de tudo isso é
que buscam as agitações da vida como se a posse das coisas que buscam devesse
torná-los verdadeiramente felizes. O problema é que não os tornam, nunca estão
satisfeitos com nada. A grande consequência disso é que abandonam seu projeto
essencial. As preocupações da vida constantemente os distraem e o perturbam. “O
ser-humano, em sua vida cotidiana, seria promiscuamente público e reduziria sua
vida à vida com os outros e para os outros, alienando-se totalmente da
principal tarefa que seria o tornar-se si mesmo” (CHAUÍ, 1996 p.8).
Os
extremos devem ser analisados com cuidado. Quando atendo um casal que diz que
nunca brigou, já ligo um alerta. Numa situação assim é bem provável que um dos
dois tenha cedido mais do que gostaria. Em contrapartida, quando brigam de mais
ou por motivos irrisórios, é provável que nenhum deles esteja disposto a ceder,
se desculpar ou nem mesmo perceber sua parcela de culpa na situação. Estar
atento aos motivos, a forma de resolver e em como cada um reage ao conflito é
fundamental para que a briga não seja um desgaste em vão, mas sim a
possibilidade de entendimento do casal.
Relacionamentos
duradouros não são aqueles que nunca encontraram dificuldades, são aqueles que
conseguiram sobreviver às crises e se fortalecer nos momentos difíceis. A
parceria e a cumplicidade podem ser mantidas, mesmo que as discussões existam.
Mas lembre-se sempre de manter o equilíbrio. Veja qual sua parcela de responsabilidade
em cada uma das discussões e tente ajustar o que for necessário. Teimosias e
comportamentos provocativos tendem a ter um impacto negativo bem importante nos
conflitos, e quando não há um cuidado pode cansar o outro, irritar o outro.
Comunicação
é a chave de quase tudo. Se você definir fazer apenas uma coisa para ajustar o relacionamento,
vale ficar atento à comunicação. É através do diálogo claro e franco que o
casal pode aparar as arestas e resolver os conflitos. Diga o que pensa, abra
seu coração e deixe o amor dar a base das suas palavras. Não espere o emocional
transbordar para dizer o que precisa, seja coerente com seus sentimentos e
busque uma comunicação franca e direta. Conflito não é ruim, ruim é não saber
ou achar que não é você quem precisa fazer algo para resolver. O conflito é uma
situação que envolve mais de uma pessoa, o ajuste deve ser feito por ambos,
para que não sobrecarregue ninguém. Amor como base da comunicação e comunicação
como base do relacionamento. Quando uma base é sólida o que é construído em
seguida tende a ser duradouro.
Brigar
muito, antes de ser ruim ou bom, é um sinal de que algum aspecto da relação
está em desequilíbrio e que está faltando algum acordo entre o casal, entre a
relação na organização, entre a relação religiosa, entre a relação de amigos e
outros. É ruim por um lado porque há sempre um desgaste emocional que resulta
dessas brigas. E pior ainda quando elas ocorrem com frequência, pois o efeito
químico do estresse gerado por brigas é estocástico no organismo, ou seja, o
cortisol e outros hormônios liberados se acumulam e geram efeitos inflamatórios
no corpo. Entretanto, se essa briga diz respeito a um problema de maior
importância, isto é um sinal de que a fase da conversa já passou, agora é a
hora de agir, de alterar a atitude [comportamento] que contribui para o
desentendimento familiar, conjugal e outros.
Não
misturem os assuntos, pois é comum um casal começar a discutir, exemplo, o não
cumprimento dos afazeres domésticos, o tempo demais no celular, o tempo demais
no vídeo game, o não sair do casal para ter tempo de lazer, a falta de dinheiro
e o que você imaginar agora enquanto termina a leitura do artigo e, depois de
15 minutos, já estarem brigando sobre outros problemas e desentendimentos do
passado. Não façam isso. É preciso ter foco e discutir apenas o assunto que é
necessário. Trazer à tona problemas antigos só tornará a discussão infundada,
confusa e sem objetivos. Se isso acontecer em um momento da discussão,
interrompa o seu parceiro e diga. Esse não é o assunto da discussão, vamos
voltar a falar do real motivo? A tentação de rebater a provocação pode ser
grande, mas seja firme.
Para
Ayrton, uma relação saudável pode e precisa ter harmonia, sintonia, equilíbrio,
respeito, admiração, confiança, amizade e a ausência de competição. Isso não
significa não ter brigas e discussões, pois isso faz parte de qualquer relação,
contudo elas devem ser bem direcionadas e conduzidas. Um relacionamento precisa
de manutenção, é um sistema em constante movimento e mudança. Ou seja, para
você manter seu emprego é necessário fazer concessões, mudar hábitos,
comportamentos e ser responsável com os compromissos assumidos.
O
que não dá para aceitar numa relação de jeito nenhum são brigas que culminam em
agressão física, verbal ou psicológica, ou ainda traições recorrentes. Se a
relação chega nesse ponto é melhor separar, ou seja, o divórcio é considerado
saudável, explica o psicoterapeuta.
Referência
Bibliográfica
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