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O passado do indivíduo


Fevereiro/2020. Escrito por Ayrton Junior - Psicólogo CRP 06/147208
        A intenção deste artigo é trazer reflexão o passado, o presente e o futuro. As vezes o fato do sujeito se embriagar [fuga da realidade] na tentativa de voltar a buscar o objeto amado que perdeu no passado [namorada] pode leva-lo a agressividade pelo simples fato da namorada o rejeitar induzindo-o a permanecer controlado pela raiva ou em submissão ao Id que é os impulsos de agressão e sexual. Identificar um conflito emocional no paciente em terapia, através de um sonho percebemos que o passado e o desejo estão vivos no presente, ou seja, que existem emoções presas, traumas revividos e repetições que buscam satisfações não realizadas devidamente e provocam sintomas e mal-estar por meio da compulsão a repetição. [...] Freud no seu texto “Recordar repetir e elaborar” (1914), texto esse em que começa a pensar a questão da compulsão à repetição, fala do repetir enquanto transferência do passado esquecido dentro de nós. Agimos o que não pudemos recordar, e agimos tanto mais, quanto maior for a resistência a recordar, quanto maior for a angústia ou o desprazer que esse passado recalcado desperta em nós.
Contudo, o futuro está vivo no presente também, pois o futuro nada mais é do que algo que estamos criando no presente, uma ideia em nossa mente, um desejo do que está por vir. Vejamos, por exemplo, quem deixou de fazer certas coisas após ser vítima ou testemunha de acontecimentos que causaram estresse pós-traumático, exemplo acidente, assalto, sequestro, abusos e outros. Ou, quem viu seu futuro mudar ao viver determinadas situações, tais exemplos, sofrer uma perda significativa, conhecer um novo amor, ter um filho, passar no vestibular em uma cidade distante, ganhar um prêmio milionário, perder um emprego, ser despejado da moradia e outros que você pensar agora.
Diante disso, podemos pensar que o passado e o futuro mudam todos os dias, sendo que a medida que recordamos os fatos do passado que nos perturbam durante a psicoterapia podemos reavaliá-los e dar a eles um novo significado, do mesmo jeito que podemos aspirar novas conquistas e sonhar novos sonhos para o futuro.


Na análise há alguns momentos em que se voltar para o passado faz todo sentido para se entender o presente. Todas as pessoas carregam uma história e é através dela que se pode entender como algumas coisas que não ficaram bem resolvidas ainda cobram, no tempo presente, um preço muito alto na qualidade de vida. Alguns fatos passados ficam como marcas e muitas delas machucam, exemplos, términos de namoro/ e ou casamento, demissão de empregos, luto, conflitos familiares e outros. Voltar-se ao passado não é só uma questão de ficar preso a ele e se lamentar, mas sim a oportunidade de enfrentá-lo e criar para si outra história onde existe a possibilidade de haver liberdade. É se recriar, é se reinventar.
São muitos os indivíduos que se mantêm atados ao passado e assim vivem o presente como se ainda estivessem num tempo que já não mais existe. Estão parados no tempo e viver dessa forma causa um empobrecimento na vida. Por isso, enfrentar o passado e se reconstruir é uma das melhores maneiras de viver um presente bem mais confortável e um futuro bem mais alentador. Para se compreender esse passado é preciso tempo e trabalho. Em outras palavras é necessário paciência para que as coisas comecem a fazer sentido. Não existe uma coisa tal qual uma Fast-Análise ou psicoterapia.
Pensemos então primeiramente no passado, pois esse sim parece ser real, à medida que o futuro nada mais é do que uma abstração de infinitas possibilidades as quais a grande maioria vai sendo consumida pelo presente, conforme ele acontece e que, de certa forma também é irreal o presente quando é percebido, já deixou de ser. Nos sobra então o passado, que de alguma forma é de fato tangível, passível de análise, estudo e observação. Na verdade, já entendemos que para a psicanálise o passado está sempre presente através do inconsciente que determina mais do que podemos imaginar. [...] Em sua obra “Além do Princípio do Prazer” (1920, p.34), Freud afirma: a compulsão a repetição também rememora do passado experiências que não incluem possibilidade alguma de prazer e que nunca, mesmo há longo tempo, trouxeram satisfação, mesmo para impulsos instintuais que foram reprimidos.
Neste ponto achamos um sentido diferente para se revisitar o passado, e por frações de tempo presente, talvez conduzir melhor o futuro para uma das infinitas possibilidades. De certa forma, sob o ponto de vista do inconsciente, estamos sempre de volta para o futuro, como se fossemos visitantes do então presente, ao passado e a cada visita nosso presente se modifica e, quando voltamos de lá, nosso futuro apresenta outras infinitas possibilidades. Voltando então ao futuro, se pudermos revisitar o passado criando novas possibilidades de futuro, por que não fazê lo? Esqueçamos a máquina do tempo, mas tenhamos a psicanálise como ferramenta à disposição. Podemos lançar mão deste recurso constantemente para termos sempre novas possibilidades de futuro a nossa frente.
Claro que o passado físico não pode ser modificado, embora já entendemos não ser exatamente sobre ele essa reflexão, e sim de um passado interno, ou fragmentos dele que podem ganhar novo significado em nosso ínfimo presente, garantindo melhores ou talvez maiores possibilidades. Para desconstruir o passado e construir o futuro é necessário definirmos responsabilidades, o que depende ou dependia de nós fazer e nos comprometermos em fazê-lo; também em reconhecer o que não depende ou não dependia de nós resolver, eximindo nossa culpa indevida. Nesse sentido quando nos culpamos pelo passado, nos castigamos, sentindo-nos merecedores de punições. Diferente disso, somente quando realmente assumimos a nossa responsabilidade por nossos problemas e por nossos desejos é que podemos mudar o nosso futuro. Pense nisso!



Referência Bibliográfica
FREUD, S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.
FREUD, S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914). "Recordar, repetir e elaborar ", v. XII

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