Outubro/2019, Escrito por Ayrton Junior -
Psicólogo CRP 06/147208
O
presente texto incita a reflexão, sobre o mal do milênio que é a busca pelo partilhar
de assuntos considerados pessoais, que já não são mais pessoais com outras
pessoas e a desvalorização da privacidade, o senso de ridículo, o senso de
pudor tudo baseado na necessidade de aparecer ou continuar a existir, ser
visível ao outro nas redes sociais. A necessidade em ter e não ser. O
exibicionismo marketing pessoal como peça importante nas redes socias como Facebook,
WhatsApp, Instagram mostra o indivíduo como ser humano faltante de atenção, de
necessidades realizadas, de valoração e alienado.
Se
o outro exibe na internet a postagem de sua viagem a Marrocos no navio
cruzeiro, indica que ele é um ser que tem, pois tem aquisições financeiras,
status, poder, aparência. Por tanto o outro que olha a postagem se apercebe as
vezes como inferior, que não tem nada, mas como ser faltante por não ter e também
não ser, como o outro, então acaba saindo
inconscientemente na busca desenfreada em ter algo valioso para postar no Facebook,
Instagram mostrando que também tem direito em ser notado, e isto acontece de
modo inconsciente, ou seja, o sujeito não tem consciência das suas atitudes,
pois isto é considerado normal na rede social.
O
indivíduo para justificar a sua atitude faz uso do mecanismo de defesa da
generalização, generaliza a sua ação com as ações do outro e diz, mas todo
mundo faz isso, pronto está atuando de modo alienado na compulsão a repetição
da alienação exibicionista das necessidades que não são satisfeitas. [...]
Freud no seu texto “Recordar repetir e elaborar” (1914), texto esse em que
começa a pensar a questão da compulsão à repetição, fala do repetir enquanto
transferência do passado esquecido dentro de nós. Agimos o que não pudemos
recordar, e agimos tanto mais, quanto maior for a resistência a recordar,
quanto maior for a angústia ou o desprazer que esse passado recalcado desperta
em nós.
A
necessidade de aparecer todos nós temos, uns mais, outros menos, seja por
motivos ou princípios diversos. É normal que queiramos contar as boas notícias,
mostrar as nossas vitórias, partilhar com quem gostamos tudo que conquistamos,
seja no ponto de vista material, emocional e espiritual.
Entretanto,
esse processo de exposição precisa ser feito sem deslumbramento, com maturidade
para não nos sujeitarmos forçosamente, uma vez que essa atitude deixa de ser
uma forma de comunicação e passa a ser exibicionismo. Uma necessidade de
supervalorização, seja por parte dos outros ou de nós mesmos.
Sigmund
Freud num estudo sobre o exibicionismo constatou que cada um de nós começou a
vida como um bebê exibicionista. Ele ainda verificou que a maioria das pessoas,
na fase adulta, têm êxito em conter esse impulso, contudo o exibicionista
patológico não consegue superar tal aspecto. Para a psicanálise o exibicionismo
é um modo de excitação erótica, que pode transformar-se em um ato de dimensão
patológica, onde se busca uma satisfação exclusivamente egocêntrica. Assim,
alguns indivíduos sentem o desejo de evidenciar sua potência sexual; os homens
precisam mostrar a sua virilidade e as mulheres o seu erotismo através de fotos
na rede social, seja elas vestidas ou seminua.
O
exibicionismo possui uma genealogia hostil, uma vontade inconsciente de revelar
as genitálias, entretanto, isso é impossível diante do princípio da realidade. O
mecanismo de defesa da negação do exibicionismo pode dar vazão as agressões
físicas, verbais e insinuações, que estão latentes ou escancaradas. Essas
coisas estão ligadas ao sentimento de inferioridade, uma necessidade de chamar
a atenção alheia, para mostrar que se tem sucesso, fama, dinheiro, carros, propriedades,
títulos, relógios, vestuários, comidas em restaurantes, baladas, viagens, celulares
ou até mesmo capinhas de celular. [...] Em sua obra “Além do Princípio
do Prazer” (1920, p.34), Freud afirma: a compulsão a repetição também rememora
do passado experiências que não incluem possibilidade alguma de prazer e que
nunca, mesmo há longo tempo, trouxeram satisfação, mesmo para impulsos
instintuais que foram reprimidos.
Vivemos
na era do exibicionismo, em que a grande mídia vende a ilusão que se pode ter
tudo que quiser, contudo, ela não diz que isso tem um custo elevadíssimo, que é
o endividamento financeiro e o aumento da ansiedade e da angústia. A redes sociais
transformaram-se num grande termômetro do exibicionismo, uma realidade
artificial que se alimenta das carências afetivas ou emocionais, que busca
através de likes ou comentários aumentar autoestima e autoconceito, para se
convencer daquilo, que não se tem certeza em si mesmo. Está constatado que se
não for possível conseguir a satisfação em um nível mais profundo,
inevitavelmente se buscará fora, ou seja, muitos estão buscando esse prazer nas
redes sociais de modo equivocado.
Todavia
se autoestima e autoconceito estiverem consolidados, não será preciso ficar se
expondo, com facilidade, pois se conquistou a inteireza e a autoconfiança em si
mesmo e sem a obrigação de clamar atenção dos outros. Uma coisa é fato, de que
nós seres humanos não somos autossuficientes e não conseguimos manter a nossa
existência isolada, carecemos de outros seres humanos. Entretanto, a melhor
forma de sermos lembrados é sermos nós mesmos, do que alguém que somente gosta
de aparecer. Se realmente gostarmos de nós mesmo de verdade, compreenderemos
que a mídia social tem intenção em causar alienação, ou seja, manter nos
alienados ao padrão que a mídia, a propaganda e redes sociais querem que
sejamos.
Até
pessoas que foram famosas em dado momento e agora estão fora das passarelas se
utilizam do exibicionismo dos órgãos genitais, através de redes sociais para
não caírem no esquecimento dos fãs e continuarem a eternizar-se na mente delas.
O exibicionismo também guarda analogia e está relacionado com o impulso que
certas pessoas têm para praticar, de surpresa, atos públicos indecorosos ou
dizer obscenidades ao ouvido de outras pessoas do sexo oposto, jovens e
inocentes. Tanto nestas manifestações como no exibicionismo, o caráter
inesperado e surpreendente dos gestos provoca reação de choque emocional, de
desagrado e asco é, mesmo, hostil, por parte da vítima. Esta reação violenta é
que, de fato, o exibicionista deseja provocar com seu ato, simbolicamente um
símile de coito.
O
individuo está sujeito a necessidade coletiva das redes sociais quanto ao ato
exibicionista. Ou seja, cada ser humano esforça-se muito para satisfazer as
necessidades do coletivo e não suas necessidades pessoais ou profissionais. Exemplos
de necessidades, de segurança: São aquelas que estão vinculadas com as
necessidades de sentir-se seguros: sem perigo, em ordem, com segurança, de
conservar o emprego, de continuar a ser visto nas redes sociais.
Necessidades
sociais: São necessidades de manter relações humanas com harmonia: sentir-se
parte de um grupo como as redes sociais, ser membro de um clube, receber
carinho e afeto dos familiares, amigos e pessoas do sexo oposto.
Necessidades
de estima: Existem dois tipos: o reconhecimento das nossas capacidades por nós
mesmos e o reconhecimento dos outros [redes sociais] da nossa capacidade de
adequação. Em geral é a necessidade de sentir-se digno, respeitado por si e
pelos outros, com prestígio e reconhecimento, poder, orgulho e o que vier a sua
imaginação enquanto lê o texto. Incluem-se também as necessidades de
autoestima.
Necessidades
de autorrealização: Também conhecidas como necessidades de crescimento. Incluem
a realização, aproveitar todo o potencial próprio, ser aquilo que se pode ser,
fazer o que a pessoa gosta e é capaz de conseguir. Relaciona-se com as
necessidades de estima, a autonomia, a independência e o autocontrole.
O
indivíduo nem sequer sabe diferenciar suas quase necessidades das necessidades
psicológicas e sociais, ao distingui-las isto constitui sim um passo importante
para se alcançar felicidades e realizações. Visto que a energia é direcionada
para a busca constante do crescimento, e não para minimizar pressões externas
exibicionistas. As necessidades sociais somente aparecerão após as necessidades
de segurança serem supridas. [...] Maslow (1943) na hierarquização das
necessidades fundamentais, até à Teoria da autodeterminação (Deci & Ryan,
2000), que postula que as necessidades psicológicas constituem o conteúdo
motivacional da ação do ser humano
O
sujeito se estimula por meio das necessidades sociais que são amizades,
socialização, aceitação em novos grupos de redes sociais, intimidade sexual e
outros. Já as necessidades de status e estima ocorrem depois que as
necessidades sociais foram supridas. E as necessidades de status e estima são:
autoconfiança, reconhecimento, conquista, respeito dos outros, confiança dos
mesmos. Agora as necessidades de autorrealização são elas: moralidade,
criatividade, espontaneidade, autodesenvolvimento, prestígio.
Quando
as necessidades humanas não são supridas sobrevêm sentimento de frustração,
agressividade, nervosismo, insônia, desinteresse, passividade, baixa
autoestima, pessimismo, resistência a novidades, insegurança e outros. Tais
sentimentos negativos podem ser recompensados por outros tipos de realizações
ou substituídos por meio de outros quando a pessoa faz uso do mecanismo de
defesa Substitutivo. [...] Formação Substitutiva A representação do
desejo inaceitável é recalcado no inconsciente. Fica então uma falta que o ego
vai tentar preencher de forma sutil e compensatória. Tentará obter uma
satisfação que substitua aquela que foi recalcada e que obtenha o mesmo efeito
de prazer e satisfação que aquela traria, mas sem que essa associação apareça
claramente à consciência.
Os
indivíduos estão num processo de desenvolvimento contínuo, e tendem a evoluir
ao longo das necessidades, satisfazendo uma após a outra seguidamente, de forma
constante em busca de autorrealização. Reflita sobre sua necessidade de
aparecer nas redes sociais e em outros momentos.
Referência
Bibliográfica
FREUD,
S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de S.
Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.
FREUD,
S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914).
"Recordar, repetir e elaborar ", v. XII
FREUD,
A. O ego e os mecanismos de defesa. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal
Popular, 1968.
MASLOW, A.H. (1943). A theory of human motivation. Psychological
Review, 50,370-396. doi:10.1037/h0054346
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