Setembro/2019.Escrito por Ayrton Junior -
Psicólogo CRP 06/147208
Este
texto vem mostrar como podemos ser afetados por eventualidades é por tanto um chamado
a compreender que a vida pode piorar, além do que já estamos fazendo para
evitar tal ato de piorar. Somos condicionados a reproduzir a crença que nossa
própria vida não pode piorar, mas somente a do outro. E ao percebermos que a
vida piorou em algum momento é frustrante, é decepcionante aceitar ou conviver
com aquela situação de piora. Por estarmos quase sempre agindo como autômatos,
não exercitamos a reflexão e nem a compreensão do para que esta piora na vida
contribui.
Buscamos
enxergar por meio da percepção macro, e o primeiro agravante que enxergamos é a
crise no governo que leva as multinacionais demitirem funcionários e diminuem a
frota de automóveis para vender para os usuários na sociedade seguida do
desemprego. Outro fator que observamos é a natureza com as chuvas
desproporcionais que destroem a lavoura, a agricultura e como consequência
sobem os preços dos alimentos, a tarifa de ônibus que abaixo devido a
manifestação da população, o combustível de automóveis que abaixou o preço e
outros exemplos que você se lembrar. Tudo isto faz com que a vida piore ou
melhore. Embora não procuramos dar muita atenção as más eventualidades, desviamos
nossa atenção delas e focamos nos objetivos para seguirmos em frente, negando a
existência dessa piora na vida.
Percebo
o mecanismo de defesa do Ego da negação da realidade. Muitos acontecimentos na
vida humana despertam pensamentos e sentimentos capazes de nos questionarmos
sobre a vida que estamos levando no momento, sendo possível avaliar a
potencialidade de cada fato. A princípio, muitas coisas surgem e são vistas
como algo ruim, onde as pessoas se identificam com a fragilidade, se fecham e
se isolam. Fatos da vida que quando são sentidos e vividos de forma negativa,
levam o ser humano a se depreciarem. [...] Negação: Provavelmente é o
mecanismo de defesa mais simples e direto, pois alguém simplesmente recusa a
aceitar a existência de uma situação penosa demais para ser tolerada. Exemplo, um
gerente é rebaixado de cargo e se vê obrigado a prestar os mesmos serviços que
exercia outrora.
No
mundo existem vários tipos de pessoas. Umas mais fortes, mais positivas, que
são capazes de transformar o negativo em positivo, superando com mais
facilidade certos tipos de traumas. Outras, que se remetem ao passado, cada vez
que relembram o caso. Muitas vezes, dificuldades e obstáculos surgem na vida
das pessoas para que aprendam a enfrentá-las e amadurecer com o tempo. [...]
Freud no seu texto “Recordar repetir e elaborar” (1914), texto esse em que
começa a pensar a questão da compulsão à repetição, fala do repetir enquanto
transferência do passado esquecido dentro de nós. Agimos o que não pudemos
recordar, e agimos tanto mais, quanto maior for a resistência a recordar,
quanto maior for a angústia ou o desprazer que esse passado recalcado desperta
em nós.
Tudo
o que se aproveita em momentos difíceis, serve para o fortalecimento do fator
psicológico do ser humano. Em certos momentos não é preciso estudar psicologia
para saber lidar com fatos inesperados que influenciam no fator psicológico e
passar as experiências vividas. Ninguém melhor do que pessoas que superaram
problemas difíceis, que sobreviveram a uma tragédia, que suportaram desilusões
amorosas, problemas familiares, doenças; enfim, pessoas que venceram
positivamente tais momentos, se tornam mais fortes e têm mais facilidade para
falar do assunto, dar apoio às outras pessoas, sem se abalar de forma negativa.
Não há nada que fortaleça e motiva mais uma pessoa, do que a superação de
traumas, mas com tudo isso a pessoa não estava preparada para a sua vida
piorar, ou seja, nunca para reflexionar sobre tal tema, mesmo assistindo a
noticiários de tv que anunciam todos os tipos de tragédias na sociedade, na
família, nas organizações.
As
pessoas que pensam de modo disfuncional se prendem aos fatos, mantendo se
afastadas de lugares, pessoas, palavras, tornando difícil e quase impossível um
bom relacionamento em alguns ambientes. A influência psicológica é muito
importante na vida de qualquer um, porém, é necessário que se tenha capacidade
de controlar tal influência e principalmente direcionar o pensamento e as ações
de acordo com o momento e os fatos. Esse direcionamento é importante e ao mesmo
tempo difícil porque existem dois lados, duas forças: O Negativo e o Positivo.
Cada
pessoa tem seu jeito de ser, sentir e agir individualmente e não deve viver com
base nos acontecimentos da vida de outros. Não é porque algo aconteceu com ela,
que com você será a mesma coisa, pois, o que é negativo para um, pode ser
positivo para outro, tudo isso é questão de observação e interpretação. As
informações são elaboradas e transmitidas para a consciência através da maneira
que a pessoa percebe e entende os fatos.
Se
obstáculos cruzam os seus caminhos, não os subestime e nem tenha medo de
encará-lo, pois eles são a base que solidifica e fortalece seus passos e
edifica seu ego, sua mente. O primeiro passo para aceitar as mudanças é
entender que a vida não é sempre estável, pode piorar um pouco mais e que
mudar, seja o que for ou quando for, é inevitável. Por isso, ajustar o
pensamento é essencial para que a ansiedade e a preocupação não tomem conta.
Toda
etapa da vida tem seus encantos, limites e descontentamentos. Mas, parece que
nosso olhar se volta, quase sempre, para os conflitos e desafios que a vida nos
impõe. O adulto espera por coisas que planejou, embora se torne mais consciente
dos limites e dificuldades da vida, e não leva tanto em consideração que a vida
ainda pode piorar. Olha para o início de um declínio de sua força e vigor
físico e começa a se preocupar com as pequenas rugas que surgem, com as
pequenas mudanças físicas e dificuldades que sofreu em algumas relações,
contudo ainda não conclui que a vida pode piorar mais um pouco.
Não
valoriza tanto a liberdade que adquiriu ou a possível segurança financeira, a
realização profissional quando conquistada ou a família construída. Neste
momento, o que passou começa a ter um olhar especial. Sente saudade das
experiências, pronto percebeu que a vida piorou. E sua busca agora é tentar
recuperar suas perdas, retardar o envelhecimento, ter saúde, conquistar
empregos, dinheiro e etc. Esforça-se para ter o corpo que perdeu e a liberdade
dos tempos da juventude que tão depressa lhe escapou.
A
maturidade, segurança, conquistas, equilíbrio e sabedoria que adquiriu com suas
experiências não são observados como algo de tanta importância, por tanto a
vida começou a piorar. A etapa de envelhecimento é considerada por nossa
cultura como a mais difícil e é quase impossível ver o que se pode ter de bom
nessa fase da vida. Os limites que o corpo apresenta, tais como, a falta de
vigor, as perdas e separações de pessoas queridas que trazem ao psicológico de
alguns idosos o interesse por isolar-se ou deprimir-se. Nesse momento, a vida
pode ficar ainda mais pesada se não valoriza suas pequenas e grandes
conquistas; se não supera a insegurança a fim de transmitir às novas gerações o
seu saber.
O
que quase sempre o idoso não sabe é que, seu mais valioso tesouro está guardado
em seu íntimo, em suas histórias. E apesar do tímido movimento que apresentam
alguns idosos atualmente, seu olhar está para o passado que viveu e para as
perdas que sofreu. Provavelmente, pensar no passado e a falta de perspectivas
para o futuro são os motivos da tristeza que vemos em seu olhar levando ao
pensamento que a vida piorou.
Ser
capaz de valorizar e curtir as etapas da vida pode ser um desafio, embora não
seja impossível. Se repararmos nas conquistas, realizações de cada fase, não
damos importância ou não queremos as vezes acreditar que em algum dado momento,
a vida pode piorar tal como a crise econômica no país que leva o sujeito a perda
do emprego com possibilidades em ser despejado da residência por falta de pagar
o aluguel; uma possível doença
psicossomática se instala no momento de instabilidade emocional; o parente que
tem certa doença terminal e levou o indivíduo a morte; sofrer as consequências
de um motorista imprudente alcoolizado no trânsito que causou o atropelamento
com dano físico e deixou o indivíduo impossibilitado de locomover-se na
sociedade tornando-o um deficiente; um incêndio provocado por um curto circuito
devido as gambiarras feitas nas instalações residências por morar na favela e
como causa a perda de tudo; perante um
assalto que traz como consequências traumas e outros exemplos que está na sua
imaginação sobre a sua vida que você
conseguir lembrar agora.
Entretanto
o grande problema é saber aceitar estas catástrofes que surgem em nossas vidas
que faz piorar a vida inesperadamente sem que fosse preciso pedirmos. Imagina
quão insensato é alguém pedir para que a sua vida piore. A grande maioria das
pessoas procuram através do mecanismo de defesa da negação, negar que um dia
possa ocorrer algum evento em sua vida que piore tudo, isto apenas acontece com
o outro. [...] Em sua obra “Além do Princípio do Prazer” (1920,
p.34), Freud afirma: a compulsão a repetição também rememora do passado
experiências que não incluem possibilidade alguma de prazer e que nunca, mesmo
há longo tempo, trouxeram satisfação, mesmo para impulsos instintuais que foram
reprimidos.
É
preciso compreender que não podemos controlar alguns acontecimentos, não
podemos, nem nunca poderemos saber precisamente o que produz, o que para que, nossa
vida tenha piorado tal como está neste momento. O que podemos é extrair do
negativo forças para superar a situação nos tornando mais resilientes a cada
momento.
Referência
Bibliográfica
FREUD,
S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de
S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.
FREUD,
S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914).
"Recordar, repetir e elaborar ", v. XII
FREUD,
A. O ego e os mecanismos de defesa. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal
Popular, 1968.
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