Ano 2021. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do leit@r a compreender a moda, e o que nós
vestimos é o que estamos comunicando ou ocultando ao outro. Ao assistir ao
filme The Bold type no Netfliz, onde retrata a estória de três mulheres que
trabalham numa revista de moda chamada Scarlet. O filme retrata vários temas,
racismo, proibição de namorar no trabalho, transgressão de regras no trabalho,
bulliyng oculto no trabalho, assédio sexual no trabalho, traição, fofocas com
intenção de prejudicar, poder na rede social por meio de números elevados de
seguidores, amor e sexo, fotografia, orientação sexual lgbtqia, amizade,
sentimento de pertencimento a um grupo no trabalho, mulheres negras em cargos
de liderança, salários altos femininos, poder feminino, assessórios de moda,
sapatos femininos, cabelos, processo grupal dentre outros. Foi aí que urge o
insight sobre moda, pois a moda está dentro do consultório de psicologia tanto
presencial como online e naquele momento o que o cliente deseja comunicar ao
psicólogo sobre a forma como está vestido.
A
psicologia é uma ciência social que estuda a psique humana e a moda é uma
manifestação sociocultural, diretamente ligada a todos nós, indivíduos e
membros de uma sociedade. Entende-se então que a moda como expressão individual
e coletiva [social] pode ser objeto de estudo da psicologia. Podemos dizer que
nossa relação com a moda [mais especificamente com a maneira que nos vestimos]
é bidirecional. Isso porque nossas roupas são uma expressão do que estamos
sentindo, de nossa personalidade, individualidade, assim como também podem ter
um impacto em nossa autoestima e mesmo em como nos comportamos. Em nossa forma
de vestir, comunicamos nosso desejo de conforto, de transgressão, de
invisibilidade ou de nos destacarmos. [...] Esse medo marcará nossa memória,
de forma desprazerosa, e será experimentado como desamparo, “portanto uma
situação de perigo é uma situação reconhecida, lembrada e esperada de
desamparo” (Freud, 2006, p.162).
O
que a roupa mostra, esconde, o que leva escrito, sua atualidade, sua qualidade
e especialmente a relação que estabelecemos com ela, mesmo que de forma
inconsciente, pode estar pleno de significados. O sujeito cria associações com
determinados vestuários, como vestir terno está associado a advogado, pastor,
banqueiro. Outro exemplo, vestir jaleco branco, está associado a médico,
enfermeiro, dentista, psicólogo, revelando o poder profissional. Ainda
encontramos o uso e costumes da moda na religião, como a sai comprida, embora
muitas doutrinas já aboliram do vestuário feminino esse tipo de vestido.
Esse
exemplo é uma ilustração do impacto que a roupa pode produzir em nossa
performance, e mesmo em nossa autoestima e empenho em fazer as coisas. Por fim, outro aspecto resultante das escolhas
de vestuário e que atinge a autoestima indiretamente é a sensação de
reconhecimento e pertencimento a uma classe profissional, religiosa. Desde
sempre, o que vestimos, ornamentos e outros sinais, comunicam de que grupo ou
tribo fazemos parte. Essa identificação com o grupo e, ao mesmo tempo, a
expressão da individualidade, é um dos vários paradoxos da moda. É importante
destacar que a moda é muito mais do que a maioria das pessoas imagina. O
construcionismo social criado sobre moda a desenha como puramente tendências,
passarelas, compras e produto em si. Ou seja, desliga a moda de toda a sua
multidisciplinaridade, focando em objeto de consumo. Na realidade, moda está
altamente relacionada à economia, política, cultura, agronegócio, sociologia,
antropologia, dentre tantas outras coisas.
Já
a psicologia aplicada à moda trabalha construcionismo social, auto imagem e
percepção do self [eu], autoestima, bem-estar, comportamento do consumidor,
representatividade, senso de pertencimento, autoexpressão, sustentabilidade,
entre outros temas que exigem do profissional de psicologia aplicada à moda
alguma formação acadêmica em psicologia. Algumas outras maneiras de se abordar
a moda através da psicologia envolvem psicologia da motivação, psicologia da
emoção, psicologia da percepção e psicologia da personalidade.
Dentre
elas podemos destacar alguns exemplos, como quando falamos de construcionismo
social e a discussão de padrões de beleza e o que uma sociedade entende como
belo, quais as implicações disso para a formação da auto imagem de jovens mulheres,
principalmente levando as mídias sociais em consideração? Também podemos
discutir a saúde mental dos trabalhadores na indústria; estilistas e outros
profissionais que sofrem pressões imensas para se enquadrarem em padrões
comerciais e de comportamento; trabalhadores algodoeiros que cometem suicídio
por contas das dívidas geradas através do monopólio de sementes geneticamente
modificadas; mulheres exploradas e abusadas verbal e fisicamente em confecções,
dentre tantas situações. [...] Freud no seu texto “Recordar repetir e
elaborar” (1914), texto esse em que começa a pensar a questão da compulsão à
repetição, fala do repetir enquanto transferência do passado esquecido dentro
de nós. Agimos o que não pudemos recordar, e agimos tanto mais, quanto maior for
a resistência a recordar, quanto maior for a angústia ou o desprazer que esse
passado recalcado desperta em nós.
Não
é necessário ser um entusiasta da moda para perceber a importância da forma
como nos vestimos para a maneira como os outros nos veem. A roupa pertence ao
conjunto de elementos que nós analisamos quando, por exemplo, somos
apresentados a alguém. A roupa que vestimos permite projetar a imagem de nós
mesmos que queremos mostrar aos outros. Tudo isso é englobado pela psicologia
da moda. Mesmo quando essa não é a nossa intenção, a forma de se vestir pode
dizer muito aos outros sobre nós. Além disso, pode ser que o que nós tentamos
transmitir através da nossa roupa não seja o que os outros interpretem.
A
crença de que as mulheres são mais conscientes em relação à moda do que os
homens estão bastante difundidos. No entanto, as pesquisas mostram que os
homens são mais condicionados pela moda do que a maioria de nós imagina. As roupas podem influenciar, desde o
resultado de uma partida esportiva (Hill e Barton, 2005) até a impressão de um
entrevistador sobre a sua capacidade de realizar um trabalho de forma eficaz
(Forsythe, 2006), mas isso vai muito além de ser homem ou mulher.
Além
disso, independentemente de ser homem ou mulher, as escolhas de moda que você
fizer podem afetar tanto a sua própria imagem e a impressão que você transmite
aos outros, quanto o modo como as pessoas se comportam com você. No começo, o
principal objetivo da roupa era nos manter aquecidos e secos, além de nos
proteger do sol ou do pó. Era somente uma questão de sobrevivência. Pouco a
pouco, ela foi adquirindo, também, uma utilidade prática para facilitar as
tarefas cotidianas [vemos isso na inclusão de bolsos nas calças]. Conforme os
meios tecnológicos foram avançando, a roupa começou a deixar de ser tão
importante em termos de sobrevivência e utilidade.
Em
muitas sociedades, o modo de se vestir representa a riqueza e o gosto pessoal.
A capacidade de selecionar uma vestimenta também nos oferece uma possibilidade,
a de nos diferenciarmos, e de nos tornarmos mais atraentes para aquela pessoa
que queremos como nosso companheiro amoroso. Também podemos usar a roupa para
nos misturar em uma multidão e esconder a nossa individualidade; por exemplo,
ao nos vestirmos com um uniforme, ou adotarmos um estilo mais ou menos
homogêneo em um determinado entorno. Também é preciso destacar que a
superficialidade das escolhas das roupas raramente é o único fator, com
respeito ao vestuário, que condiciona a imagem que nós fazemos dos outros ou
que os outros fazem de nós. Dessa forma, não importa apenas a roupa, mas também
como nós a vestimos ou a combinamos com outras peças. [...] Fuga –
Ocorre durante um período difícil, uma situação aversiva em que a pessoa sente
uma necessidade muito grande de remover, sair do incômodo que causa a situação
atual. Dormir, devaneios, drogas, hiperatividade, etc. Nota: Muito comum em
situações ou fases difíceis, quando estamos insatisfeitos com a vida ou quando
acessamos o vazio deixado pela auto alienação de nosso self (Eu verdadeiro),
nessas três situações, é muito comum devanear ou fugir. Fazemos isso de
diversas formas, dormindo excessivamente, sonhando acordado evitando ação e
construção da realidade, drogas, álcool, jogos, internet, trabalhando comendo,
comprando, praticando sexo e fazendo exercícios de uma forma exagerada, tudo
isso para não entrarmos em contato conosco mesmos e nossos incômodos.
Qual
a identidade que estamos construindo através da roupa que vestimos? Qual a
relação da nossa roupa com a autoestima? E com o grupo que nos cerca? O que a
nossa roupa tem a ver com as demandas da sociedade? A seguir, farei uma análise
de como a moda está diretamente ligada com a psicologia e com o comportamento
dos grupos. As emoções, pensamentos e comportamentos levam as pessoas a se
vestirem da forma como se vestem. As experiências que temos a partir das roupas
e dos elementos que compõem nosso visual estruturam a nossa imagem pessoal, o
que está diretamente ligado à formação da autoestima e autoconceito. A
autoestima é o que sentimos a respeito de nós mesmos, os sentimentos e as
emoções. mesmos, mas também interfere em como as pessoas pensam e sentem a
nosso respeito.
Antigamente,
a adoção de calças pelas mulheres representava um importante reajuste da
definição de feminilidade, mas não necessariamente uma mudança no equilíbrio de
poder existente (Paoletti e Kregloh, 1989). Contribuindo assim, nessa via de
mão dupla, para a construção do nosso autoconceito, da nossa identidade. Desta
forma, as roupas e acessórios são o elo entre os aspectos mais profundos do eu
e a imagem externa que estamos produzindo. A mídia nos invade com imagens do
que é belo de acordo com cada grupo ou sociedade. Assim, a influência do que
vemos na internet, na TV e nas revistas direcionam o que deveria seria um
visual ideal para a aceitação dentro de um grupo. Essa imagem que produzimos de
nós mesmos determinam a relação de cada um consigo mesmo e com a sociedade.
Mas a moda não é apenas a expressão das
tendências, ela representa a relação profunda de si mesmo e com os outros, com
a pessoa que somos [eu real], com o que gostaríamos de ser [eu ideal] e com o
que pensamos que devemos ser. Para isso, buscam se distanciar do núcleo
familiar e se identificar com o seu grupo para depois formar casais, famílias e
unidades autônomas. Essas identificações acontecem através da música, dos
interesses comuns e muito através da roupa. Cada turma ou tribo tem a sua
vestimenta específica. Segundo Solomon e Schopler (1982) demostraram que os
homens são, com frequência, mais influenciados do que as mulheres com respeito
ao seu modo de se vestir e a forma como eles são avaliados.
Com
isso, são identificados entre eles e pela sociedade, buscando o senso de
pertencimento e importância. Cada roupa ou acessório, cada marca, só faz
sentido em relação a um grupo de referência. Com a moda sonhamos acordados e construímos
em nossa mente as imagens que satisfazem nossos desejos, compensando nossas
ansiedades com roupas, bolsas, sapatos e joias que nos ajudam a enfrentar a
realidade, a resolver conflitos e medos pessoais e perseguir algumas metas
sociais para sentir-se integrado a um grupo.
Portanto,
precisamos entender o significado das escolhas das roupas, independentemente do
gênero. As escolhas das vestimentas podem afetar tanto a sua autoimagem, a
impressão que você transmite aos outros e, por sua vez, a maneira como as
pessoas se comportam em relação a você. Naturalmente, muitas das descobertas
das pesquisas sobre a psicologia das escolhas de moda e vestuário estão
sujeitas aos valores culturais da sociedade em que a pessoa vive. As diferenças
culturais na interpretação da moda é uma variável importante que precisa ser
compreendida dependendo de cada país.
Um
estilista pode ajudar você a se vestir de acordo com o seu tipo físico, com o
que está na moda, enquanto um psicólogo da moda o ajuda a estar de acordo com a
sua personalidade, pensando no porquê de você se vestir de determinada maneira
e como isso impacta no seu modo de ser. As roupas refletem o seu estado de
espírito e as pessoas escolhem as roupas para se sentirem bem. [...] Em
sua obra “Além do Princípio do Prazer” (1920, p.34), Freud afirma: a compulsão
a repetição também rememora do passado experiências que não incluem
possibilidade alguma de prazer e que nunca, mesmo há longo tempo, trouxeram
satisfação, mesmo para impulsos instintuais que foram reprimidos.
Com
relação ao consumo, assistimos frequentemente alguns grupos que gastam
compulsivamente. Eles buscam o luxo, precisando mostrar que podem, que querem,
que tem, que tem empoderamento. Agem como se, sozinhos, não fossem ninguém, por
isso precisam de uma marca que os defina. Por tanto a modo revela o seu poder
pessoal. Reforma visual proporciona conhecimento e autonomia para você
escolher, quem quer ser e estar pronta e bem vestida para todas as
oportunidades que a vida oferecer. Viva, o Empoderamento!
Portanto,
a Psicologia nesse campo tem como foco o estudo e tratativa das cores, noção de
beleza, estilo, imagem, formas, e outros, e seus efeitos no comportamento e na
mente humana. Dessa maneira atua-se diretamente com as pessoas desenvolvendo
sua percepção de si mesmas, dos seus comportamentos e hábitos em relação ao
vestir e apresentar-se para o mundo.
Fashion
Psychologist, como é chamado no exterior, é o profissional que atua aplicando
os conhecimentos da Psicologia à Moda e Imagem Pessoal. O trabalho leva a uma
mudança visual, mas a grande transformação começa por dentro. É importante
examinar emoções e processos mentais que levam as pessoas a se vestirem da
forma como se vestem. Identificar como elas se sentem, como gostariam de se
sentir, como gostariam de ser vistas. Quais experiências e resultados gostariam
de ter a partir das roupas e outros elementos que compõem a nossa imagem
pessoal.
O
ponto importante aqui é que a nossa Imagem Pessoal não só influencia a forma
como as pessoas pensam a nosso respeito, mas, também, na forma como pensamos a
respeito de nós mesmos [autoconceito]. Contribuindo assim, nessa via de mão
dupla, para a construção da nossa realidade. É como eu costumo pensar, não
adianta você ser a pessoa mais competente se você não parecer competente. De
nada adianta você ser super inteligente, se você não parecer inteligente. Não
adianta você ser uma pessoa honesta e leal se você não transmite
confiabilidade. O que você deseja comunicar e transmitir ao outro com sua
vestimenta?
De
maneira resumida podemos dizer que a personalidade, a auto percepção, as
pessoas com quem nos relacionamos e como nos relacionamos com elas são os
principais fatores que impactam nossa relação com a moda, nossas decisões de
compra e a forma como nos apresentamos para o mundo. Os benefícios dessa
prática podem ser relacionados a diversas áreas da vida pessoal e profissional.
Aumentando, por exemplo, a autoestima, a autoconfiança, o desempenho e,
consequentemente, os resultados profissionais. Além de ajudar a desenvolver
noções de beleza e imagem corporal mais saudáveis e construtivas.
Referência
Bibliográfica
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FREUD,
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S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914).
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JUSTO,
Carmen Silvia Porto Brunialti; MASSIMI, Marina. Contribuições da psicologia
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Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S2177-093X2017000200008&lng=pt&nrm=iso>
.
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