Ano 2021. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do leit@r a compreender, porque pessoas acumulam
objetos que julgam serem necessários em dado momento e depois ficam acomodados,
ou seja, inconscientemente esquecem de usá-los até que surja novamente a
necessidade ou não. Você sabe o que é Minimalismo, já ouviu falar sobre o tema?
O
ser humano é afetado pelo comércio através da visão consumo e não tem a menor
consciência, ou seja, se porta de modo alienado/autômato reinserido nos
ambientes comerciais. O que leva o sujeito as vezes, a alterar suas atitudes inconscientemente
na aquisição de produtos e outras vezes provoca resistência a mudança de
padrões de consumo.
O
minimalismo é sobre ter menos coisas e aproveitar a liberdade de ter menos,
acreditando que o menos significa mais contentamento e alegria. Minimalismo vai
contra a tendência geral da sociedade ocidental. Desde pequenos, recebemos
diversas informações do meio e pessoas próximas que nos cerca a respeito de
consumir produtos. Uma destas informações, menciona que seremos felizes quanto
mais instrumentos tivermos e melhor ainda, se estas coisas forem as mais novas
e modernas e cobiçadas. Em resumo, quanto mais a pessoa tiver, mais feliz ela
será. Ou ainda é o Ter cousas, para Ser fulano de tal, diante da sociedade
capitalista e consumista.
Como
citado, o minimalismo vai na contra mão do padrão de pensamento imposto pela
propaganda de marketing. Ao invés de acumular e acumular [só enxergamos, como
temos tarecos desnecessários, quando precisamos fazer uma mudança de casa], e
nisto o minimalismo defende que o indivíduo deveria ter o mínimo, isto é uma
sugestão e não uma imposição, pois depende do livre arbítrio e consciência de
cada um de acordo com a sua escala de necessidade. Falando deste modo pode
parecer que a pessoa perde, certo? Mas, para o minimalismo, o que perdermos é a
carga psíquica de possuir demais. O minimalismo é um estilo de vida em que os
sujeitos são mais importantes do que as peças que elas possuem.
Destarte
a pessoas começa a entulhar suas vidas, trabalha mais e mais, para comprar mais
e mais. O tempo, dinheiro e liberdade são perdidos nesta busca atormentada de
acumular o que não é necessário e útil. Portanto, para o minimalismo o
bem-estar não se adquiri na prateleira de uma loja no shopping. Mas, sim, na
possibilidade de a pessoa estar mais envolvida com o que realmente é importante
para ela, e aliviar um pouco a tensão sobre si mesma que gera angustia. [...]
“A angústia é, dentre todos os sentimentos e modos da existência humana, aquele
que pode reconduzir o homem ao encontro de sua totalidade como ser e juntar os
pedaços a que é reduzido pela imersão na monotonia e na indiferenciação da vida
cotidiana. A angústia faria o homem elevar-se da traição cometida contra si
mesmo, quando se deixa dominar pelas mesquinharias do dia-a-dia, até o
autoconhecimento em sua dimensão mais profunda” (CHAUÍ, 1996 p.8-9).
Existem
estímulos não observáveis atuando no ambiente comercial das pessoas que explicam
certos fenômenos de consumismo. O campo da subjetividade humana, o campo dos
estímulos psíquicos, no qual os dados da realidade são filtrados pela escolha da
mercadoria. O homem é produto do meio presente e do estimulo que possui em
determinado momento na aquisição do artefato. O ambiente psicológico [ou
ambiente comportamental consumista] é o ambiente tal como é percebido e
interpretado pelo sujeito. Mais do que isso, é o ambiente relacionado com as
atuais necessidades do indivíduo em relação a consumir itens.
As
peças, adquirem para o indivíduo uma representação positiva [quando podem ou
prometem satisfazer necessidades presentes do indivíduo] ou representação
negativa [quando podem ou prometem ocasionar algum prejuízo]. Os itens, de significância
positiva atraem o indivíduo e os de significância negativa o repelem. A identificação
é desejo dirigido para o utensílio; já a repulsa é a não identificação que o
leva a se afastar do utensílio.
Deste
modo a propaganda faz com que os indivíduos comprem sempre mais e mais.
Divulgam que, para a pessoa ser realizada terá que deter ou apegar-se a muitas bugigangas.
Sempre em busca de algo que a satisfaça, que a faça animada. Sendo assim, o
sujeito torna-se escravo das coisas e das dívidas. Ou seja, inconsciente atua na
compulsão a repetição do consumir. [...] Freud no seu texto “Recordar
repetir e elaborar” (1914), texto esse em que começa a pensar a questão da
compulsão à repetição, fala do repetir enquanto transferência do passado
esquecido dentro de nós. Agimos o que não pudemos recordar, e agimos tanto
mais, quanto maior for a resistência a recordar, quanto maior for a angústia ou
o desprazer que esse passado recalcado desperta em nós.
O
desejo é a causa das ações, a motivação. Quando existe uma necessidade, se
produz uma vontade, o que leva à produção de uma atividade consumista. Estas
atividades têm uma valência que pode ser positiva ou negativa. Por outro lado,
a valência das ações consumista dirige desejos até as outras atividades [positivas]
ou contra elas [negativas]. O comportamento resultante corresponde à mistura
psicológica de diferentes estímulos. A realidade de cada pessoa depende da sua subjetividade
e, como tal, registra um grau de interesse e desinteresse.
Ao
eliminar excessos de mercadorias acumuladas ao longo dos meses, a princípio o
sujeito cai em desconforto, mas depois com o passar do tempo e a prática
consciente, ocorre a melhoraria na qualidade de vida. O indivíduo vive com
menos stress, e tem mais tempo para investir no que realmente tem significado
para si. Pois a prática do desgrudar exige o despertar da consciência, ou seja,
a pessoa sai do modo alienante de acumulo de acessórios, para pensar
conscientemente e racional sobre a real necessidade, de ter-se muitas peças
acondicionadas simplesmente sem usá-las. Já parou para pensar que, todas as quinquilharias
já estão de certo modo armazenadas na memória como lembranças e que despertam
prazer e desprazer. [...] Em sua obra “Além do Princípio do Prazer”
(1920, p.34), Freud afirma: a compulsão a repetição também rememora do passado
experiências que não incluem possibilidade alguma de prazer e que nunca, mesmo
há longo tempo, trouxeram satisfação, mesmo para impulsos instintuais que foram
reprimidos.
Habitamos
em um mundo em que o normal é acumular mais cousas do que precisamos, sejam
materiais de escritório, roupas, sapatos, maquiagem, ferramentas, tecnologia
dentre outros. Estes pertences ocupam espaço físico nos lares, enchem armários,
caixas, bolsas de viagem, sapateiras, mas o pior é que também ocupam o espaço
mental de cada um e o tempo, já que os sujeitos tem que classificá-los,
organizá-los ou limpá-los.
Peças
de roupas, presentes, cartas e outros, dos quais as pessoas não são capazes de despojar-se,
porque lembram épocas passadas de suas vidas, é como se nos objetos materiais
estivessem as lembranças de exemplo, alegria, tristeza, raiva, insegurança,
contentamento, frustração, decepção e por aí vai.
O
minimalismo é um exercício que ajuda o indivíduo a se despegar das cacarias materiais,
entendendo que as lembranças residem dentro dele, e não nos objetos. A cultura
consumista moderna vende a ideia de que uma vida de prazer, é uma vida repleta de
pertences. De conquistas materiais.
Com
este formato de crença as pessoas compram mais e mais. Desta maneira, ao longo
da vida vai-se acumulando muito treco. O apto fica cheio de móveis, as
prateleiras tomadas de enfeites, as gavetas cheias de cacarecos, os armários
cheios de roupa e assim vai. É importante que o sujeito tenha noção daquilo que
ele considera essencial. Não estou afirmando aqui que os troços materiais não
tem importância, porque isso não é necessariamente a verdade. Entretanto não
podemos ignorar que muitas vezes os sujeitos gastam seu dinheiro em cacarecos que
são totalmente descartáveis.
De
igual modo, o minimalismo liberta os indivíduos de serem marcado e admirado pelas
coisas que eles têm e não pelo que são. Deixa-se de dar valor à aparência e as posses
materiais, e começa-se a dar valor a sua Essência e a dos Outros. Quando o
sujeito atua dando menos importância para os utensílios, pode-se abrir espaço
para o que é realmente importante em sua vida. O minimalismo combate o
consumismo desgovernado, que leva a comprar aquilo que não precisa de modo
irrefletido. Reflita!
Referência
Bibliográfica
CHAUÍ,
MARILENA. HEIDEGGER, vida e obra. In: Prefácio. Os Pensadores. São Paulo: Nova
Cultural, 1996.
FREUD,
S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de
S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.
FREUD,
S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914).
"Recordar, repetir e elaborar ", v. XII
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