Ano 2021. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do leit@r a repensar sobre a única forma de
mudar a sua realidade diante de uma situação angustiante é entender como você a
cria. Portanto a realidade é construída
pelo sujeito cognoscente; ela não é dada pronta para ser desvelada. A verdade [subjetiva]
pode, às vezes, estar próxima da realidade, mas depende das situações,
contextos, das premissas de pensamento, crenças, tendo de criar dúvidas
reflexivas. Quando enxergamos, ouvimos, sentimos, e os sentidos correspondem
àquilo que realmente é, entendemos que percebemos a realidade. Contudo, podemos
nos enganar se houver ilusões ou mesmo alucinações.
O
entendimento que os psicólogos têm do que é realidade e conhecimento, é a
realidade da qual temos consciência, o conhecimento que temos dela, e tudo isto
é um produto da sociedade. Essa última construída pelo próprio homem e, por
isso, ao mesmo tempo que o homem constrói e molda a sociedade ele é por ela
influenciado. Coexistem diversas realidades, exemplo, a realidade virtual, realidade
aumentada, realidade tecnológica, coisas, fatos, circunstâncias, situações,
percepções, mas a que atua com maior intensidade na dialética é a realidade da
vida cotidiana. A construção social da realidade é entendida como fenômenos que
existem independentes da nossa vontade, é construída por uma conjunção de
fatores sociais, decorrentes da ação humana.
Sustentada
pela realidade da vida cotidiana, a sociedade se apresenta em duas perspectivas
complementares, como realidade objetiva e como realidade subjetiva. Embora
exista uma realidade supostamente predominante da vida cotidiana, é possível
perceber a existência de outras. Dessa forma se explicam as origens de muitos
dos conflitos, pois o que pode ser fundamental para o indivíduo não o é para a
sociedade. Isso pode ser entendido também em relação às organizações sociais
que tem normalmente como maior finalidade a própria sobrevivência. Exemplo, o
desemprego para as multinacionais é uma realidade objetiva e necessária,
enquanto que o desemprego para o trabalhador não é percebido como algo
necessário para as grandes organizações, mas sim como um agente que traz
diversas contrariedades para sua realidade.
A
consciência é sempre intencional dirigida para tal ou qual coisa. Em miúdos, o
modo cotidiano pelo qual o indivíduo define a sociedade e percebe as ações
humanas e se interage com as pessoas constrói o mundo social. Assim, a
percepção dos sentidos em si é moldada pelos sentidos subjetivos atribuídos a
uma experiência objetivamente vivida.
A
realidade é por tanto captada pelos sentidos, estes transformam essa informação
em impulsos elétricos, de forma a serem interpretados pelo nosso cérebro. Logo,
o cérebro acede à realidade através da interpretação desses mesmos impulsos
elétricos recolhidos pelos sentidos. Desta forma, teoricamente, toda a
realidade poderia ser traduzida em impulsos elétricos, como acontece com os
sonhos. A realidade pode ser resumida a apenas um conjunto de sinais e impulsos
elétricos.
Inevitável
que nos perguntemos o que essa realidade com aspectos positivos e negativos que
gera angustia, representada pelo mundo externo com seus vínculos afetivos e
seus laços sociais, pedirá a esse sujeito psíquico e, consequentemente, o
quanto que a psicanálise compactuará ou não com distorções perversas que
poderão estar se originando do tal conceito de real. Como esse sujeito lida com
seus dados de realidade falará muito de como se organiza internamente; ou
falará tudo, eis que seu mundo interno acontece e atua dentro de uma realidade extracorpórea
e fundamentalmente composta por vínculos sociais normais ou patológicos,
neuróticos ou psicóticos, objetais ou narcisistas dentre outros. [...]
“A angústia é, dentre todos os sentimentos e modos da existência humana, aquele
que pode reconduzir o homem ao encontro de sua totalidade como ser e juntar os
pedaços a que é reduzido pela imersão na monotonia e na indiferenciação da vida
cotidiana. A angústia faria o homem elevar-se da traição cometida contra si
mesmo, quando se deixa dominar pelas mesquinharias do dia-a-dia, até o autoconhecimento
em sua dimensão mais profunda” (CHAUÍ, 1996 p.8-9).
Levar
em conta a realidade, no que se refere às exigências do mundo exterior, onde se
origina essa relação transferencial, será dar voz e base, no sentido próprio do
caminhar juntos ao encontro de; pensar, realmente pensar, é pensar o novo; o
novo emerge sempre como angústia; o que me falta, aquilo de que estou separado
e necessitado de integrar; totalmente separado não, senão não sentiria a falta,
não sentiria o desgarrar. Emerge como
meu, mas em grave conflito; estendo a mão e apenas o toco. Tenho de fazê-lo
sentir que eu também lhe faço falta, exemplo, um emprego, uma namorada, tenho
de me entregar a ele, correr o risco
A
ação do princípio da realidade na relação ao princípio do prazer pode ser
esclarecida como a procura da satisfação e a realização do desejo a todo o
custo, procurando os caminhos mais curtos para a sua concretização e o
impedimento do imediato, adiamento do prazer em função das condições impostas
pelo mundo externo. Por tanto sonhar, fantasiar e imaginar são tarefas que
poderão ser deliciosas, mas que gerarão nos sujeitos desejantes a necessidade
de efetuar uma descarga em objeto anaclítico, ou seja, encontrar no real [aqui
entendido como mundo externo] uma situação ou alguém onde realizar suas
aspirações, longe e afastado de seu núcleo narcisista. Isso é condição
intrínseca daquilo que chamamos psicanálise.
Um
exemplo, é os cristãos usam do mecanismo de defesa da fantasia e fé racional,
com a intenção de gerar neles sujeitos desejantes a necessidade de construir
uma realidade de solução, ou seja, encontrar na realidade real [ o mundo
exterior onde as circunstância acontecem e geram angustia] uma outra realidade
construída por meio da fé, onde será realizado suas aspirações. Já no caso dos
psicólogos eles fazem isto por meio da alteração de pensamentos, ou seja, o
pensar adequado dentro da realidade real problema constrói a realidade por meio
das reflexões. [...] Mecanismo defesa Fantasia, é um processo psíquico
em que o indivíduo concebe uma situação em sua mente, que satisfaz uma
necessidade ou desejo, que não pode ser, na vida real, satisfeito. É um roteiro
imaginário em que o sujeito está presente e que representa, de modo mais ou
menos deformado pelos processos defensivos, a realização de um desejo e, em
última análise, de um desejo inconsciente.
Os
pensamentos de um indivíduo o condicionam em grande parte no seu estado de
saúde mental. A prática de certos hábitos de pensamento e a resistência à
mudança originam a própria realidade da pessoa. Existe uma realidade fora da
pessoa, e na verdade o indivíduo não interage com ela. A única realidade com a
qual o sujeito convive de verdade é uma simulação criada pelo seu cérebro por
meio de seus próprios pensamentos, que pode se aproximar mais ou menos da
realidade exterior que gera desprazer ou prazer. [...] Em sua obra “Além
do Princípio do Prazer” (1920, p.34), Freud afirma: a compulsão a repetição
também rememora do passado experiências que não incluem possibilidade alguma de
prazer e que nunca, mesmo há longo tempo, trouxeram satisfação, mesmo para
impulsos instintuais que foram reprimidos.
Em
teoria, quanto menos influenciados estiverem os pensamentos de uma pessoa, mais
ela se aproxima da precisão. O problema aparece quando as pessoas são educadas
com generalizações, preconceitos e dicotomias que as afastam do real. Pensar é
como respirar, o indivíduo faz isto sem perceber, mas não podemos acreditar em
tudo que pensamos. Estima-se que uma porcentagem pequena dos nossos pensamentos
chega a se tornar realidade.
Os
seres humanos têm pensamentos que não correspondem com a realidade do momento
ou da situação; estes pensamentos são chamados de pensamentos disfuncionais ou
irracionais. Exemplo, um indivíduo na realidade de desemprego e não obtêm
resultados satisfatórios seus pensamentos e percepções serão disfuncionais e
distorcidos diante da realidade problema o que dificulta construir a realidade
para sair da situação. São ideias que vem à mente e que nos impedem de ver a
realidade exata das coisas; costumam nos levar ao erro e isso influencia em
grande parte e diretamente o nosso próprio estado emocional.
A
leitura mental e as interpretações sobre a realidade são as que nos levam a ser
pessoas estáveis ou instáveis a nível emocional, mais do que a realidade
própria. O que pensamos de nós mesmos e de nossa experiência é o que realmente
cria os problemas de ansiedade / e ou síndrome de pânico, tão comuns no mundo
interior, e não a situação em si. Duas pessoas, diante da mesma situação, podem
vivenciá-la e entendê-la de forma diferente, evidenciando que a realidade, em
última instância, é criada por nossos pensamentos.
A
realidade é aquilo que, quando a gente deixa de acreditar nela, não desaparece.
Se você quer mudar a sua realidade, mude seus pensamentos, crenças e percepção.
A psicologia cognitiva baseia parte das suas terapias na substituição de
pensamentos disfuncionais por outros que se adequem melhor aos fatos reais.
Aprender
como transformar os pensamentos disfuncionais em pensamentos racionais é o eixo
principal do pensamento adequado à realidade. As pessoas que são capazes de
modificar estes pensamentos podem ter muito controle sobre suas emoções e serem
capazes de tomar decisões mais adequadas. Uma das técnicas mais usadas no
atendimento clinico para mudar os pensamentos inadequado é o debate, onde o
paciente é ensinado a modificar suas crenças através de perguntas formuladas
por parâmetros racionais, até que este seja capaz de ir gerando um pensamento
alternativo muito mais adaptativo ou adequado.
O
objetivo é, no fim das contas, que o paciente seja capaz de substituir ou
aparar seus pensamentos de uma forma autônoma. Embora as circunstâncias sejam
complexas, como as que podem acontecer em torno de um desemprego ou de um conflito
familiar que não chega ao fim, estas situações não irão melhorar por mais que
pensemos nelas. Em muitas situações difíceis, a margem de atuação é muito mais
uma questão de intervenção sobre os próprios pensamentos, crenças e percepção do
que sobre a própria realidade. [...] Berger e Luckmann (1985) fazem a
análise da vida cotidiana sob o aspecto da fenomenologia. Quem também se apoia
na fenomenologia é Schutz (2004) para estudar a construção social da realidade.
Para Schutz (2004), a realidade é constituída pelo sentido de nossas
experiências, ou seja, está relacionada ao conceito de tipificação, que
compreende o contexto biográfico e o acervo de conhecimento que o ser humano
possui. E é a partir dessas informações que o homem age tipicamente no dia a
dia.
Como
pensar de forma adequada e racional? Os acontecimentos não causam os problemas
emocionais e de conduta, mas estes são causados pelas crenças que residem nas
interpretações desses problemas. Um dos aspectos básicos a ressaltar é a
diferença entre crenças racionais e crenças irracionais. Pensar de forma
racional é pensar relativizando, se expressando em termos de desejos e gostos [eu
gostaria, preferiria, desejaria]. Quando as pessoas pensam de forma saudável,
mesmo quando não conseguem o que desejam, os sentimentos negativos que estas
situações provocam não impedem a conquista de novos objetivos ou propósitos.
Ao
contrário, pensar de forma dogmática e absolutista nos leva a nos expressarmos
em termos de obrigações, necessidades ou exigências [tenho que, preciso, sou
obrigado a]. A sua não realização provoca emoções negativas inadequadas [depressão,
culpa, ira, ansiedade, frustração, decepção, medo] que interferem na realização
dos objetivos e geram alterações da conduta como o isolamento, a conduta de
evasão ou a fuga e o abuso de substancias tóxicas.
Exemplo,
um indivíduo se encontra inserido dentro de uma situação real que é a sua
realidade de desemprego e convivendo numa família, onde impera conflitos
familiares. Esse indivíduo já se utilizou de todos os recursos internos e
externos possíveis para sair da realidade problema, mas os resultados são
sempre insatisfatórios, pois seus pensamentos já se tornarão disfuncionais e a
percepção está distorcida diante da realidade.
Como
construir a realidade subjetiva? Compreender que está fazendo todos os esforços
necessários e possíveis que estão a seu alcance, respeitando seus limites
internos e externos, pois já construiu a realidade subjetiva com ações que
estimularam pensamentos, sentimentos e comportamentos adequados baseados na
crença da tríade cognitiva, para a saída da situação atual de infortúnio. Usar
da crença em si mesmo acreditando que a realidade construída, já está pronta
para a saída da realidade problema, e aguardar a concretização da realidade
construída subjetiva ser desvelada a consciência.
Outro,
exemplo, um sujeito sonha que está à beira de um rio em pé e observa boiando
sobre as águas sendo levados pela correnteza vários sapos do tamanho de um
homem. A crença deste indivíduo está de acordo com a sua percepção, onde não
existe sapos do tamanho de um ser humano, o seja a percepção está aumentada distorcida. Este sujeito sabe que de acordo com a crença
internalizada no superego na adolescência sobre a superstição de sapo, que sapo
pode causar a morte por meio de magias.
Isto
agora está desmistificado e desconstruído deste pensamento, crença e percepção
irracional, por que não existe uma força superior do mal que atua por meio do
animal sapo capaz de causar-lhe danos a sua realidade, impedindo de conseguir
coisas. Então basta para isso acreditar na realidade construída subjetiva a
partir da nova crença, pensamento e percepção através da desmistificação da superstição
que girava em torno do sapo.
Um
exemplo verídico, um indivíduo tem a vontade de cursar psicologia, mas trabalha
como técnico em mecânica em uma organização multinacional. Ele presta
vestibular por 4 vezes seguida na Universidade UNIMEP, tendo como primeira
opção psicologia e a segunda filosofia. Isto acontece de 1988-1989-1990 e 1991
passa em filosofia, pois não conseguiu entrar em psicologia em nenhuma das
datas citadas. Porém surge na sua vida problemas inesperados e o impede de
cursar filosofia e a tão sonhada psicologia fica esquecida por 25 anos no
inconsciente. Este sujeito moveu-se na sociedade em busca de outros objetivos, perdeu
o emprego e sempre procurando resolver os problemas da sua realidade. Mas ele
tinha a crença que seria psicólogo. Contudo em 2013 conversando com uma pessoa
sobre psicologia, a mesma lhe fez a seguinte pergunta; porque não vai cursar
psicologia.
Pronto
o desejo no inconsciente por exatamente 25 anos é desvelado a consciência e faz
com que o sujeito entre em ação através do pensamento, sentimento e
comportamento colocando a percepção subjetiva para realizar a realidade
construída a 25 anos adormecida. A universidade UNIP a qual o indivíduo vai
cursar psicologia foi construída a 10 anos, indicando que foi construída em
1998. Esse sujeito teve que esperar por 10 anos para a construção da
universidade que totalizou 25 anos para ter a sua realidade construída em 2013.
O
sujeito repensou sobre a única forma de mudar a sua realidade atual diante do
desejo de cursar psicologia e entendeu como havia criado a 25 anos atrás. Ele
tornou a construir a sua realidade, mudando seus pensamentos, crenças e
percepção para o desejo que ficou adormecido por 25 anos.
Referência
Bibliográfica
BERGER,
Peter; LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade: tratado de
sociologia do conhecimento. Petrópolis, RJ: Vozes, 1985.
CHAUÍ,
MARILENA. HEIDEGGER, vida e obra. In: Prefácio. Os Pensadores. São Paulo: Nova
Cultural, 1996.
FREUD,
S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de
S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.
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S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914).
"Recordar, repetir e elaborar ", v. XII
FREUD,
S. O ego e os mecanismos de defesa. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal
Popular,
1968
FREUD,
S. (1930) O Mal-estar na civilização. Rio de Janeiro: Imago, 1997.
FREUD,
S. (2007e). Más allá del principio de placer (Obras Completas, Vol 18, pp.
1-62). Buenos Aires, Argentina: Amorrortu. (Originalmente publicado em 1920).
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