Ano 2021. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do leit@r a observar o afeto em sua vida. As
vezes o ser humano desperdiça energia dentro de uma relação cheia de conflitos
familiares. No senso comum afeto tem a representação de amor, carinho adoração,
amizade, afeição, admiração, apego, benquerença, dedicação, dileção, estima,
meiguice, querença, simpatia, ternura, mas vai muito além disto. E não seriam
as emoções, portanto, resultados, destinos e traduções, daquilo que nosso corpo
e nossa mente [ambos em função de uma cadeia de significantes] experienciam a
partir dos afetos? Ou, pelo menos, como aprendemos a nomear tais coisas?
O
afeto é um sentimento por alguém, que se manifesta de várias maneiras, como
amizades, namoros e relações familiares. Para a psicologia, a afetividade é a
capacidade do ser humano de experimentar tendências, emoções, paixões e
sentimentos. São através de atitudes que
o afeto se revela. A psicanalise tem como conceito afeto é, um representante
pulsional, que, ao lado da representação, intermedia o acesso da pulsão à
esfera psíquica, já que a primeira tem sua fonte no corpo. Para Freud, o afeto
é uma energia, enquanto que a representação é uma ideia. [...] Freud
comparou os afetos às forças energéticas e termos como afeto, quota de afeto,
soma de excitação, emoção, quantidade, intensidade, energia de investimento
foram utilizados, mesmo que de forma imprecisa, para descrever o aspecto
quantitativo envolvido na questão da transferência de afetos e suas
manifestações (FREUD, 1894/1974, 1896/1974; STRACHEY, 1974).
Demonstração
de afeto é uma maneira de demonstrar um sentimento de carinho ou de caráter
emotivo, como amor, raiva, entre outros, por meio de gestos tal como o beijo, o
toque no ombro e outras demonstrações de afeto que envolvem os abraços,
cafunés, e por aí vai. A afetividade é uma sensação de extrema importância para
a saúde mental de todos os seres humanos por influenciar o desenvolvimento
geral, o comportamento e o desenvolvimento cognitivo. O afeto desenvolve
adultos seguros e confiantes. [...] O afeto
positivo reflete o quanto uma pessoa está sentindo-se entusiástica, ativa e
alerta, enquanto o afeto negativo é uma dimensão geral da angústia e insatisfação,
o qual inclui uma variedade de estados de humor aversivos, incluindo raiva,
culpa, desgosto, medo (Watson, Clark & Tellegen, 1988)
Afeto
é a disposição de alguém por alguma coisa, seja positiva ou negativa. É a
partir do afeto construído que se demonstram emoções ou sentimentos. Pode se
ter afeto por algo, uma pessoa, um objeto, uma ideia, crenças, rituais de
feitiçaria ou um lugar. É também o objeto da afeição, como em meus afetos são
meu cachorro e meu trabalho. Relações familiares conturbadas, que causam
insatisfação, podem ser fruto da falta de afeto. Mães que se sentem solitárias,
pais tristes e filhos que não se sentem reconhecidos e amados. O abandono
afetivo dos filhos ocorre quando os pais da criança [ambos ou apenas um] não
cumprem o dever, previsto na constituição, de garantir, com absoluta
prioridade, o direito ao respeito, convivência familiar e cuidado. [...]
Em sua obra “Além do Princípio do Prazer” (1920, p.34), Freud afirma: a
compulsão a repetição também rememora do passado experiências que não incluem
possibilidade alguma de prazer e que nunca, mesmo há longo tempo, trouxeram
satisfação, mesmo para impulsos instintuais que foram reprimidos.
As
transformações da sociedade atual, o individualismo exacerbado, os processos de
exclusão, de desenraizamento pessoal e coletivo, bem como, a crescente
radicalização e polarização no mundo social, inunda os sujeitos contemporâneos
de afetos intraduzíveis ou mesmo de sentimentos e emoções, que parecem caminhar
para além do modelo tradicional da teoria de angústia freudiana. Contudo,
estamos em contato, na clínica atual, com angústias difusas, complexidades
afetivas e formas extremas de sofrimento, onde o medo, o desamparo, o
ressentimento, o ódio, a vergonha, o tédio, dentre outros afetos, expressam-se
de forma contundente. Nesse sentido, tais sofrimentos, além de apontarem para o
mal-estar da vida em cultura (FREUD, 1930/1976), apresentam-se como
manifestações de agonia, dor e desesperança, diante da deterioração das formas
atuais de inserção no mundo social. [...] Esse medo marcará nossa
memória, de forma desprazerosa, e será experimentado como desamparo, “portanto
uma situação de perigo é uma situação reconhecida, lembrada e esperada de
desamparo” (Freud, 2006, p.162)
A
afetividade é uma dimensão psicológica, que abrange de modo complexo e dinâmico
o conjunto de emoção e sentimento. Neste sentido, o ser humano sente a
alteração no corpo, pelas modificações emocionais [isto é, biofisiológicas], e
existe também um sentido subjetivo, o qual se dá um valor às experiências
emocionais vividas. Como uma dimensão do psiquismo, a afetividade faz com que
seja conferido um sentido especial às vivências e às lembranças. A afetividade
afeta sensivelmente os nossos pensamentos, dando-lhes forma, matiz e conteúdo.
Na nossa maneira de entender, cognição e afetividade se completam entre si,
formando um todo não divisível. Assim, pensamos a partir daquilo que nós
sentimos e sentimos a partir daquilo que nós pensamos de acordo com a nossa
representação daquele objeto.[...] Freud no seu texto “Recordar repetir
e elaborar” (1914), texto esse em que começa a pensar a questão da compulsão à
repetição, fala do repetir enquanto transferência do passado esquecido dentro
de nós. Agimos o que não pudemos recordar, e agimos tanto mais, quanto maior
for a resistência a recordar, quanto maior for a angústia ou o desprazer que
esse passado recalcado desperta em nós.
As
manifestações afetivas são muitas em nossas vidas. Inicialmente adotamos a
ideia de afetos bons e ruins. Afetos bons são todos aqueles que trazem algo de
positivo. Um bom exemplo de afeto positivo é o amor. Muito próprio de nós seres
humanos, ao amar alguém, a pessoa consegue perceber o significado de gostar de,
sem a necessidade de algo em troca. O afeto ruim, ou então chamado de negativo,
traz consigo toda uma carga afetiva diminuta, pequena; tendo efeito expressivo
no estado de ânimo, no temperamento e no humor. A tristeza pode ser concebida
como um afeto negativo. É interessante notarmos que a tristeza traz consigo uma
verdadeira complexidade de respostas emocionais e sentimentais, o que pode
envolver diversas características angústia, mágoa, ressentimento, nervosismo,
entre outros. [...] “A angústia é, dentre todos os sentimentos e modos
da existência humana, aquele que pode reconduzir o homem ao encontro de sua
totalidade como ser e juntar os pedaços a que é reduzido pela imersão na
monotonia e na indiferenciação da vida cotidiana. A angústia faria o homem
elevar-se da traição cometida contra si mesmo, quando se deixa dominar pelas
mesquinharias do dia-a-dia, até o autoconhecimento em sua dimensão mais
profunda” (CHAUÍ, 1996 p.8-9).
Enfatizamos
que o autoconhecimento da dimensão afetiva, ou seja, aquilo que nos emociona e
sentimos, ajuda nas inúmeras decisões do dia a dia e do mesmo modo na resolução
de conflitos de natureza pessoal e interpessoal. É importante vermos o que
estamos sentindo sobre uma determinada vivência. Isso vai ajudar tanto no
conhecimento de qualidades pessoais [autoestima], quanto na qualidade do
relacionamento familiar.
O
afeto é a representação de apego de uma pessoa para outra, bem como a alguma
coisa. Essa tendência em um laço acaba por gerar carinho entre as partes, bem
como confiança, intimidade e saudade quando o indivíduo está distante um do
outro. Condensa bem o amor que uma pessoa sente pela outra, seja por palavras
ou ações. Também é visto como um conjunto de atribuições psíquicas que se
movimentam através dos sentimentos, emoções e paixões. Podemos dizer que também
há uma certa dualidade nesse movimento. Isso porque sempre vem acompanhado de
alegria ou tristeza, dor ou prazer, agrado ou desagrado, satisfação e
insatisfação, e o que você conseguir pensar enquanto lê o artigo.
O
afeto serve para aproximar os indivíduos de um mesmo círculo ou não. Por meio
dele, passamos uma imagem positiva e agregadora, informando que aceitamos e/ou
precisamos da presença daquele ser. Isso gera confiança entre as partes,
ajudando a nutrir um vínculo que pode ser vital à sua existência. O afeto vai
muito além do que aparenta, acarretando benefícios a quem o pratica e a quem o
recebe. Ainda que não seja palpável, consegue produzir reações químicas que
afetam diretamente o corpo e a mente.
Cada
um vai sentir seus benefícios de forma diferente, mesmo resultando nos mesmos
caminhos. Ainda na infância, quando se é negado uma ação afetuosa para uma
criança, isso gera marcas. Sem esse alento para moldar suas emoções, o pequeno
tende a se revoltar e gerar um indivíduo agressivo. Além disso, passa a ver
esse vínculo de forma negativa quando alguém o pratica perto dele.
O
afeta está diretamente relacionado com algo que nos afeta, sendo uma tendência
para responder de forma positiva ou não a experiências. Está ligado com a
capacidade de dar e receber, perturbar algo ou ser perturbado, bem como amar e
ser amado. Os escritores, os poetas e músicos são aclamados porque conseguem
transformar os afetos vivenciados em sentimentos, pois foram, através da
linguagem, traduzidos do individual para o coletivo. Isto é, através do que
eles escrevem é possível ao leitor ler e escutar os próprios afetos. Encontrar
representação.
Estes
seriam dificilmente verbalizados durante a própria experiência, mas agora estão
perfeitamente localizados, representados nos significantes escolhidos por
aqueles que souberam unir sua experiência idiossincrática à coletiva. Algo
possível apenas àqueles dotados de uma avançada percepção da linguagem, perante
aquilo que os afeta. Pode se ter afeto por algo, uma pessoa, um objeto, uma
ideia, ou um lugar. Ódio também é um
afeto, tanto quanto amor, e é estabelecido a partir de experiências negativas.
E explicitado por meio de emoções relacionadas à raiva. As vezes o sujeito
precisa descortinar o objeto que causa preconceito ou até mesmo discriminação
que pode estar bloqueado ou negado conscientemente para que ocorra a
representação do afeto por meio de uma ideia ou desejo. [...] Em Freud
(1900/2007a), o desejo é caracterizado por um impulso na busca da reprodução de
uma satisfação original, mas de forma alucinatória; ou seja, faz referência a
um objeto atrelado originariamente à satisfação e não mais encontrado, um
objeto perdido e, então, representado na ordem do Simbólico. Assim, o desejo
pode se realizar sem nunca se satisfazer- diferentemente do que acontece com a
necessidade -, e sempre de forma parcial, na medida em que o encontro com o
objeto, tomado pelo desejo circunstancialmente, também produz remissão ao
mítico objeto perdido para sempre, reabrindo a insatisfação e relançando o
desejo em sua incansável circularidade. Sendo assim, o indivíduo carente
[aquele que sofre a falta de algo], procura identificar-se com algum objeto e
faz deste objeto [emprego específico, namoro, amizades] o que ele próprio
gostaria de experimentar que é o prazer
Ou
seja, o indivíduo busca orientação, a qual tem a ver com o desejo de se
relacionar afetiva com outros objetos, projetos, empregos, ideias, pessoas. Em
um ciclo natural, essa descoberta acontece entre a vontade e o desejo, mas, por
preconceito e discriminação, ela pode ser bloqueada e até mesmo negada. O afeto
é um comportamento. Influencia diretamente na forma agente modificador do como
pensamos sobre algo. Qualquer coisa com a qual uma pessoa se depara, vai
existir um afeto envolvido, seja negativo ou positivo. No caso da neutralidade,
de algo desconhecido, o afeto passa a ser construído desde o primeiro contato.
E vai alterar a forma como a pessoa interage com aquilo.
Os
indivíduos depositam afeto em crenças, superstições, cultos, mitos e
curiosidade sobre macumba e feitiçaria, rituais com fins malignos ou egoístas
que envolvem bichos [sapo, galinha], objetos [vela, bebidas] ou ossos.
Referência
Bibliográfica
CHAUÍ,
MARILENA. HEIDEGGER, vida e obra. In: Prefácio. Os Pensadores. São Paulo: Nova
Cultural, 1996.
FREUD,
S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de
S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.
FREUD,
S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914).
"Recordar, repetir e elaborar ", v. XII
FREUD,
S. O ego e os mecanismos de defesa. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal
Popular,
1968
FREUD,
S. (1930) O Mal-estar na civilização. Rio de Janeiro: Imago, 1997.
FREUD,
S. (2007e). Más allá del principio de placer (Obras Completas, Vol 18, pp.
1-62). Buenos Aires, Argentina: Amorrortu. (Originalmente publicado em 1920).
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