Ano 2021. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo
CRP 06Q147208
O
presente artigo chama a atenção do leitor(a) a olhar para a sua vida e perceber
o comportamento de conformismo. Contudo, muitas vezes o conformismo torna-se a
única força que ajuda a pessoa a sobreviver e progredir [aceitar que pode
apenas fazer o que é possível a si mesmo cuidando-se no isolamento social e
deixar a cargo das autoridades a descoberta da vacina contra o Covid-19]. Às
vezes, a pessoa não percebe os sinais de um comportamento conformista porque
mergulha em um esquema de vida que a impede de apreciá-la. O sujeito pensa que
está, simplesmente, cumprindo com seu dever exemplo, de cidadão, de pai, de
profissional, de cristão, de esposa, de filho, de empreendedor e outros que
você possa pensar enquanto lê o artigo, e que é apenas isso que se espera dele.
No
entanto, o indivíduo não se atenta para refletir se suas realizações lhe
permitem evoluir ou não. Como estar na condição de desempregado/ e ou
isolamento social pode trazer evolução a pessoa? Exemplo, desempregados que
procuram emprego incessantemente para poderem se realizar e não encontram, isto
mostra a não permissão do mercado de trabalho para esses sujeitos continuarem a
evoluir por meio de fatos desconhecidos a eles. Muitas vezes o sujeito fica
angustiado em excesso por situações que não estão sob o seu controle, e às
vezes sofre mais por sua própria resistência em aceitar se conformando com o
acontecido, do que pelo fato negativo em si. [...] “A angústia é, dentre
todos os sentimentos e modos da existência humana, aquele que pode reconduzir o
homem ao encontro de sua totalidade como ser e juntar os pedaços a que é
reduzido pela imersão na monotonia e na indiferenciação da vida cotidiana. A angústia
faria o homem elevar-se da traição cometida contra si mesmo, quando se deixa
dominar pelas mesquinharias do dia-a-dia, até o autoconhecimento em sua
dimensão mais profunda” (CHAUÍ, 1996 p.8-9).
É
verdade que as emoções são extremamente necessárias e que não é aconselhável
reprimi-las. A tristeza serve para recuperar o equilíbrio após uma perda e
informar aos demais de que nos encontramos mal. A ansiedade nos ajuda a nos
protegermos de certas ameaças e perigos. O nojo nos preserva de nos
contagiarmos com alguma doença. O conformismo nos alerta que se eu desejo algo,
preciso perseverar e seguir na tentativa, mas o que é realmente importante é
entender que, por mais que eu insista por algo, pode acontecer de, no fim, não
dar certo por fatores que não estão sob meu controle, e aqui entra a
compreensão de conformismo.
Aceitar
significa compreender que as coisas, às vezes, estão ao seu favor e outras
vezes, não. Isso é algo normal, faz parte da vida. Portanto, é muito importante
dizer a si mesmo, tentarei fazer com que as coisas deem certo e colocarei todas
as minhas forças nisso, mas se não der certo, que pena, há coisas que não
dependem de mim e não ficarei irritado/ e ou ansioso além do necessário.
Entendo
que a interação candidato - organização provoca na dinâmica dos processos
seletivos os efeitos de conformismo e obediência na psique dos candidatos. O
conformismo é um modo de influência social que resulta do fato de um indivíduo
mudar o seu comportamento, atitudes por efeito de pressão do processo seletivo
em que se insere, é, portanto, uma forma de interação, um processo de
influência inerente ao funcionamento da organização.
Segundo
Kiesler (1969), o que é o conformismo? diz que o conformismo é uma mudança de
comportamento ou crença em relação a um grupo, como resultado de pressões desse
grupo. Krech, Crutchfield e Ballanchey (1962) dizem que para existir
conformismo tem de haver conflito. Isto quer dizer que persiste um conflito
entre aquilo que um indivíduo deseja e o modo como o grupo ou uma força
superior ao indivíduo o pressiona para actuar. Se o grupo não o pressionar, o
indivíduo não procederá como por vezes procede. Do mesmo modo como existem os
conformistas, surgem também os anticonfor-mistas que actuam em sentido
contrário.
No
processo seletivo, como exemplo, quando a pessoa acaba de passar por uma
entrevista de emprego, do qual deseja muito, só pode manifestar sua opinião
positiva consigo mesma, pois se manifestar a sua opinião com os outros
candidatos pode ser contrária a sua, e se sentirá pressionada a concordar ou
ficar em silêncio para não discordar da opinião da maioria. Por tanto trata-se
de um comportamento conformista. Como membros de um grupo, todos desejamos ser
aceites. Por esta razão dispomo-nos a conformar com as normas do grupo,
exemplo, a igreja, o clube de futebol, as amizades e por aí vai. Em qualquer
partido político acontece isso, do mesmo modo como em qualquer empresa ou até
mesmo na família.
O
conformista é inerte e mentalmente preguiçoso pelo menos na área em que se
considera incapaz, inábil. Não exerce suas escolhas por medo de assumir riscos.
Não expande o seu espaço de crítica. Prefere ser vítima à autor modificador de
sua história, prefere ser amante da insegurança a parceiro do entusiasmo. Dizem
que está tudo bem, porém não assumem suas reais dificuldades. Não pedem ajuda e
nem treinam o seu Eu para correr riscos. Têm medo de serem criticados, vaiados
e vencidos. [...] Esse medo marcará nossa memória, de forma
desprazerosa, e será experimentado como desamparo, “portanto uma situação de
perigo é uma situação reconhecida, lembrada e esperada de desamparo” (Freud,
2006, p.162)
Repenso
que todo ser humano se embriaga de doses de conformismo em algumas áreas de sua
vida. Há indivíduos que são peritos para resolver problemas dos outros, mas são
péssimos para solucionar os seus. E em algumas ocasiões, eles se sentem bem, já
que, escolhem se conformar, aceitando e desfrutando da realidade. É o momento
de se adaptar e se acomodar ao momento presente. No entanto, em outras
ocasiões, essa atitude faz sofrer, ao renunciar aos próprios interesses, e limita
paralisando no caminho que o indivíduo deseja percorrer.
O
conformismo é uma atitude frente à vida, que se escolhida a partir da reflexão,
pode até trazer muita satisfação, já que permite ao sujeito aceitar e desfrutar
do que acontece no dia a dia e impede que a pessoa viva em constante lamentação
daquilo que não pode mudar, exemplo, todos esforços e ações na busca de empego
sem resultados, o aviso de uma doença terminal que se aproxima; o isolamento
social sem data prevista para termino e por aí vai.
Já
a dependência informativa está relacionada com a importância que as avaliações
e as opiniões dos outros representam para o sujeito. Neste sentido, o
conformismo cresce quando cresce a importância numérica da maioria, sendo que é
necessário um mínimo de três sujeitos no grupo maioritário para que se obtenha
conformismo. Por outro lado, o conformismo cresce, quando aumenta a ambiguidade
do estímulo ou quando os sujeitos devem responder com base na memória. O
conformismo, muitas vezes, está tão enraizado no ser humano que é necessário um
grande esforço pessoal para superá-lo. Isso não depende da sua conta bancária
atual, da sua profissão, das condições de trabalho ou de qualquer outra
circunstância, mas apenas da sua vontade de vencer e de realizar os seus sonhos
quando possível. [...] Em sua obra “Além do Princípio do Prazer” (1920,
p.34), Freud afirma: a compulsão a repetição também rememora do passado
experiências que não incluem possibilidade alguma de prazer e que nunca, mesmo
há longo tempo, trouxeram satisfação, mesmo para impulsos instintuais que foram
reprimidos.
Noto
que a identificação plena com as figuras de poder muitas vezes é um dos sinais
de um comportamento conformista. Por identificação, entende-se o processo pelo
qual se tomam como próprios as características e os valores alheios. Isso é
normal e saudável as vezes. O ser humano é parte da cultura por identificação
com características e padrões familiares.
No
entanto, às vezes a identificação não representa realmente nossos desejos e
nossas necessidades. Algumas vezes tornamos nossos os valores de uma figura de
poder, [exemplo, supervisor, pai, esposa, Deus, pastor, professor, político e etc.]
por um sentimento de insignificância em relação a nós mesmos ou por medo de
quem exerce a autoridade. É nesse momento que, por exemplo, o sujeito se torna
conformista porque assim é exigido pelo seu líder político, religioso, social
ou profissional. [...] Freud no seu texto “Recordar repetir e elaborar” (1914),
texto esse em que começa a pensar a questão da compulsão à repetição, fala do
repetir enquanto transferência do passado esquecido dentro de nós. Agimos o que
não pudemos recordar, e agimos tanto mais, quanto maior for a resistência a
recordar, quanto maior for a angústia ou o desprazer que esse passado recalcado
desperta em nós.
Por
fim, para as figuras de poder, sempre é conveniente que os demais sejam
submissos. Por isso, de forma imperceptível, o indivíduo está sendo conformista.
Não se trata de se rebelar contra toda forma de poder ou autoridade. Às vezes,
essa atitude só é reflexo de um problema. No entanto, o importante é se perguntar,
honestamente, se você está sendo conformista. Se a resposta for sim, é hora de
avaliar com sinceridade o que está acontecendo.
Referência
Bibliográfica
CHAUÍ, MARILENA.
HEIDEGGER, vida e obra. In: Prefácio. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural,
1996.
FREUD,
S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de
S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.
FREUD,
S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914).
"Recordar, repetir e elaborar ", v. XII
FREUD,
A. O ego e os mecanismos de defesa. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal
Popular,
1968
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