Ano 2022. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do leit@r a compreender o espaço circunscrito
por certos limites, ou o indivíduo que está impossibilitado de sair de certo
espaço ou de ultrapassar dados limites que de repente é geográfico, território,
região tais como, não ter acesso a certas vagas no mercado de trabalho, não
conseguir regressar no mercado de trabalho, não conseguir clientes nas redes
sociais e nem presencial na Cidade que habita, estar impossibilitado de viajar
para fora do país. As vezes o indivíduo chega a se sentir como se estivesse
dentro de um regime prisional, ou seja, em liberdade condicional. Parece que
este sujeito transita por entre os regimes fechado, semiaberto e aberto que são
os ambientes construídos artificial pelo homem na sociedade.
O
confinamento é o estado daquele que se acha em local fechado ou área reservada,
afastado do contato físico com outros [por punição, doença contagiosa, covid-19
ou outro motivo]. Já o termo reclusão se refere ao indivíduo que foi afastado
da convivência com outras pessoas e permanece em isolamento. Ou seja, o
indivíduo recebeu uma pena que consiste na privação da liberdade dele,
fechando-o em estabelecimento prisional, sob pena de prisão. Tanto o desemprego
como a pandemia são capazes de suscitar a sensação de reclusão/ e ou
confinamento na pessoa.
Quanto
ao conceito de liberdade condicional ou livramento condicional, nada mais é que
um benefício concedido ao condenado a pena privativa de liberdade com pena
igual ou superior a 2 anos. Uma vez concedido o benefício o condenado tem a sua
liberdade antecipada, desde que tenha cumprido um tempo mínimo de pena e
obedeça a alguns requisitos legais. Para a concessão da liberdade condicional a
sentença deve ter sido privativa de liberdade com pena igual ou superior a 2
anos. Devendo o condenado estar cumprindo a pena em quaisquer dos regimes,
quais sejam, o regime fechado, semiaberto ou aberto. Se observarmos a pandemia
trouxe um castigo sobre todos os cidadãos da sociedade, fazendo-os cumprirem
alguns requisitos dos chefes de Estado e da Organização Mundial Da Saúde, como
uma pena mínima até agora de 2 anos.
Fazendo
uma alusão os cidadãos no período de pandemia e desemprego se locomovem por
entre os três regimes e em função disto a sua liberdade condicional é adulterada
de acordo com o regime que se posiciona, seja, perca da liberdade, restrita
liberdade ou total liberdade. Cada vez que o indivíduo entra e sai da condição
de desemprego, este vivencia um experimento na sua história de vida com a abertura
para adquirir resiliência ou desenvolver doenças psicossomáticas, transtornos
mentais, estresse pós traumático, porque permanece experienciando, ou seja,
experimentando sentimentos e vivendo frustrações, decepções em decorrência do
experimento desemprego. Suas competências socioemocionais estão sendo testadas
naquele momento e se não apresenta disposição para que as desenvolva, o
adoecimento ocorre em função do meio ambiente construído a qual está instalado
o cidadão.
O
sujeito chega até interrogar-se, se contagiou-se com alguma contristação social,
para estar afastado da interação social ou afastamento da convivência com
outras pessoas sob pena que consiste na privação da liberdade, fechando-o em reclusão
no estabelecimento prisional ambiente desemprego. Onde o distanciamento o obriga
a evoluir, desenvolver competências socioemocionais e competências, habilidades
e atitudes [CHA] em psicologia organizacional, na aplicação dos saberes
acadêmicos. Um exemplo de confinamento é o desemprego, onde o a pessoa
permanece em um espaço restringido em um ambiente, a qual está confinada a agir
dentro de certos limites, sinalizando quase uma liberdade condicional, que está
sujeita a uma condição imposta por alguma figura de autoridade ou restrição por
ordem do mercado de trabalho, chefes do Estado e redes sociais.
Ou
seja, o livramento condicional é a liberdade antecipada, mediante certas
condições, conferida ao desempregado que se situa no regime do desemprego como
uma pena imposta a ele. No livramento o desempregado só alcança esse benefício
no curso da execução, caminhado por espaços restringidos da pena que lhe foi
imposta. A situação de pandemia pela covid-19 veio colocar o Serviço Nacional
de Saúde (SNS) exposto a uma avaliação sem precedentes. Os olhares da população
estavam focalizados não só no vírus, mas sobretudo na capacidade de resposta do
SNS. O medo estava instalado em muitas pessoas. Por um lado, o medo de contágio
e da doença, por outro o medo da possibilidade da existência de recursos
materiais e humanos insuficientes, nomeadamente escassez de camas em cuidados
intensivos ou de profissionais de saúde.
A
aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto do sujeito
na condição de desemprego permanece restrita, dando a sensação de regime
semiaberto/ e ou em liberdade condicional. A qual o sujeito sai durante o dia a
procura trabalho ou trafega pela internet em sites de emprego e as vezes não encontra,
mas deve regressar a residência, a qual é o seu meio ambiente construído
restringido e suportar os conflitos familiares, fora os conflitos exteriores impostos
pela sociedade, mercado de trabalho, redes sociais e o que você ser capaz de
imaginar enquanto lê o artigo.
Esse
indivíduo tem revogado todos os seus pedidos de vagas de empregos nos processos
seletivos aos quais participou. Ou seja, a sua liberdade/ e ou direito para
atuar em alguma profissão foi negada. Parece que o indivíduo fez o cometimento
de crime durante a vigência do benefício liberdade condicional ou demonstra que
o perfil deste sujeito destoa do padrão exigido pelas instituições que ofertam
as vagas de emprego. Ou seja, a pessoa não preenche os quesitos solicitados nas
vagas pelas empresas, seja saberes técnicos ou acadêmicos, idade aceitável
permitida pela organização, competências socioemocionais, competências
profissionais, tecnologia, velocidade de internet acima de 150Mg para atuar
como home office, experiência na função dentre outras exigências que não são
desveladas ao candidato.
Por
tanto continua a mover-se pelo meio ambiente restringido, onde não lhe é
permitido ultrapassar dados limites, visto que não é aprovado nos processos
seletivos. Então o mesmo se apercebe atuando na compulsão a repetição a qual
não lhe é permitido ultrapassar o limite desejado, ou seja, chegar do outro
lado, sinalizando que não está errado a maneira como está enxergando a situação
que se manifesta verdadeira, a proibição de limites. [...] Freud no seu
texto “Recordar repetir e elaborar” (1914), texto esse em que começa a pensar a
questão da compulsão à repetição, fala do repetir enquanto transferência do
passado esquecido dentro de nós. Agimos o que não pudemos recordar, e agimos
tanto mais, quanto maior for a resistência a recordar, quanto maior for a
angústia ou o desprazer que esse passado recalcado desperta em nós.
O
entendimento do que seja meio ambiente tem sofrido algumas reformulações
recentes. A ideia que se pretende assumir é a de que assim como não pode haver
organismo biológico sem ambiente, não pode haver ambiente sem organismo.
Segundo esse ponto de vista, um ambiente é algo que envolve ou cerca, mas, para
que haja envolvimento, é preciso que exista algo no centro para ser envolvido.
Dessa forma, deslizamentos de gelo, depósitos de cinza vulcânica e fontes de
água não são ambientes. São condições físicas a partir das quais ambientes
podem ser criados por seres vivos.
Assim
sendo, você, enquanto representante de uma espécie biológica que se relaciona
de diversas formas em locais diferentes, está sujeito a uma grande
variabilidade de ambientes. Isso significa que, no momento em que lê este texto
[sentado em seu quarto, no escritório, na universidade, dentro do ônibus], você
está inserido em um meio ambiente específico. Como lhe é autorizado a perceber,
as características de um meio ambiente são dependentes do organismo ou conjunto
de organismos que se leva em consideração. Portanto, há diferentes maneiras de
se pensar o ambiente, mas nos limitaremos aqui a estudar alguns aspectos do
meio ambiente construído pelo ser humano.
O
meio ambiente construído, ou artificial, corresponde àquele produzido pela ação
do homem ao transformar a natureza, representado basicamente pelas cidades. Há
cidades que nos parecem limpas, arborizadas, bonitas, pois tiveram seu
crescimento planejado, e outras, que ao crescerem desordenadamente, levam-nos a
pensar que seus prédios se acotovelam por uma beira na calçada. Um meio
ambiente construído sadio contribui para o bem estar da população que ali vive;
por outro lado, um meio ambiente artificial hostil gera não apenas sensação de
angústia em seus habitantes como também termina por levar ao abandono e descaso
e, não raras vezes, à agressão para com o espaço público.
E
podemos considerar o ambiente construído artificial desemprego como sendo
hostil, pois estimula na população a sensação de ansiedade em seus
desempregados, como também influência no crime, nos conflitos familiares,
fortalece a inadimplência, provoca o descaso nos processos seletivos, o medo do
abandono por não encontrar uma fonte de renda, manifestação agressivas contra
os chefes de Estado e outros.
E
este ambiente construído artificial pode ser a residência com os membros
familiares do indivíduo. A psicologia ambiental se preocupa em caracterizar as
incidências específicas de certos micro e macro ambientes sobre o indivíduo. Ou
seja, como, por exemplo, a casa de uma pessoa é capaz de influenciar a sua
percepção, avaliação, atitudes e satisfazer suas necessidades ou não. Mas
também se interessa em coisas muito mais amplas, como uma cidade, por exemplo.
Como ela influencia o comportamento e o cotidiano do indivíduo? De que forma o
indivíduo reage às condições constringentes do ambiente, como, por exemplo, o
estresse? Pois o estresse é uma palavra-chave na relação que o indivíduo tem
com essa entidade ambiental, a grande cidade. E é no regime fechado, semiaberto
ou aberto que se dá o estresse. Ou seja, é no estado de reclusão ou
confinamento que observamos o índice alto de estresse nos indivíduos. O
ambiente desemprego descortina o estresse.
Os
problemas das grandes cidades [transporte, moradia, alta densidade demográfica,
ruído, poluição, pandemia, desemprego] têm uma influência sobre o indivíduo e
essa influência depende de como ele percebe e avalia os diferentes aspectos
estressantes decorrentes do fato de viver nessa cidade. Aqui não podemos
descartar o desemprego. Esse ambiente vai ter uma influência sobre o nosso
comportamento. Será preciso decidir, por exemplo, não sair mais à noite por
medo [ainda que, talvez, não precisássemos ter medo], o que causará um certo
estresse, resultante da interação entre o indivíduo e o seu contexto físico.
Não é o contexto físico isoladamente que causa o estresse.
Não
é o desemprego, por exemplo, que provoca o estresse, mas, sim, a relação que a
pessoa tem com ele. Então, essas são as coisas que interessam à psicologia ambiental
e é isto que faz com que ela seja cada vez mais importante para resolver
problemas. O indivíduo tem uma noção de tempo que está relacionada com a
duração de sua vida, que é muito dependente do seu ciclo de vida. Em psicologia
ambiental a noção de história é importante. Não se deve esquecer que é através
da história residencial que o indivíduo constrói uma identidade residencial,
que vai influenciar a sua percepção e avaliação da residência atual. Assim
também ocorre com a identidade profissional construída que é através da
história organizacional, que influencia sua percepção e avaliação perante o
desemprego. [...] Em sua obra “Além do Princípio do Prazer” (1920,
p.34), Freud afirma: a compulsão a repetição também rememora do passado
experiências que não incluem possibilidade alguma de prazer e que nunca, mesmo
há longo tempo, trouxeram satisfação, mesmo para impulsos instintuais que foram
reprimidos.
Os
cidadãos que cometem crime são acomodados no regime prisional para cumprirem a
pena, enquanto permanecem no sistema prisional, estão desenvolvendo a
identidade prisional e estão sujeitos a todos os tipos de estresse originados
no ambiente construído por mãos humanas. O estresse é oriundo da interação
entre os detentos. Ou seja, todos tem comportamentos que contribuem para que o
Outro desenvolva o estresse e outras doenças físicas e psicossomáticas em
detrimento da interação social.
Agora
imagine isto acontecendo na sua casa entre os membros da família que estão em
isolamento social cumprindo a pena imposta pela corona vírus a todos os membros
ou ainda o desemprego imposto a um único membro da família que se posiciona
como chefe e ou provedor, sendo que o restante dos membros também reproduz o
estresse propiciado do comportamento estressante do desempregado. Isto é um
experimento cumprindo-se na história de vida de cada cidadão circulando de modo
perceptível pela população.
Mas
nem todos tem a percepção e o saber acadêmico cientifico para compreender a
realidade, pois a grande maioria se fundamenta no senso comum que é o
conhecimento adquirido pelas pessoas a partir dos costumes, das experiências e
vivências cotidianas. É um conhecimento superficial baseado na maneira de
pensar da maioria das pessoas, correspondendo a algumas noções que são, via de regra,
admitidas por boa parte dos indivíduos. É aquele conhecimento que adquirimos ao
observar, vivenciar e experimentar o mundo.
Não
é por acaso que certos doentes se encontram em certos lugares e não em outros,
da mesma forma que algumas doenças se encontram em determinados lugares e não
em outros. O descontentamento do indivíduo com o seu ambiente, seja, [o lar, a
instituição, o desemprego] pode facilitar a emergência de certas doenças, sejam
mentais ou físicas.
O
desemprego é como um câncer que desapropria o cidadão de direitos de ir e vir
na sociedade, ficando limitado nas ações, nos recursos financeiros, nos
recursos de especialização e atualização profissional, além do propiciar o
afastamento do desempregado junto a pessoas e até limitado na busca de serviços
gratuitos da saúde, seja psicologia e medicina. Pois um desempregado com
pouquidade de recursos, ou até desprovido se locomove ou percorre lentamente cercado
por pessoas, quase que invisível ou imperceptível ao Outro. O seu direito de
autonomia localiza-se restrito no momento, por tanto é como se estive no regime
prisional com liberdade condicional cerceada, enquanto atravessa o maior
experimento da história na sua vida.
E
ainda não é capaz de perceber que se encontra sendo testado na resiliência, na
paciência, na resolução de problemas, na mansidão, na perseverança e até na sua
fé, seja em si mesmo ou religiosa. Tanto a vertente da psicologia, da medicina
e religião estão sendo postos à disposição para o indivíduo usar destes meios e
se apropriar dos benefícios de modo apropriado. Mas infelizmente alguns
continuam agindo como autômatos, alienados e inconscientes, ou seja, estão
dormindo e não querem acordar para defrontar-se no maior experimento do século
o confinamento da história humana.
Exemplo,
de um caso verídico, com permissão da pessoa para narrar o experimento
desemprego, onde o sujeito possui a velocidade de internet em sua residência de
50Mg e se candidata a uma vaga de home office e é aprovado. Porém só ao iniciar
o treinamento lhe é informado que a exigência da empresa é que o trabalhador em
home office possua internet com velocidade mínima de 150Mg. Por que os
softwares da empresa não rodam com velocidade abaixo de 150Mg.
Ele
está propenso a perder o trabalho, por não se apresentar dentro das exigências
tecnológicas da empresa. Como este indivíduo poderia ter uma atualização de
aumento de velocidade, se o mesmo se encontra com o recurso moeda escasso.
Outra opção seria buscar junto a operadora de internet uma contratação da
velocidade de 250Mg, que foi sugerida pelo atendente porque a operadora não tem
disponível a velocidade de 150Mg.
O
agravante é que o período de instalação da velocidade é de 15 dias e o sujeito
entrará em operação de home office em 10 dias. O mesmo sujeito se viu com sua
autonomia limitada, onde teve que desistir do trabalho de home office por não
estar em conformidade com as exigências de velocidade da empresa. Se percebeu
nas mãos da operadora, ou seja, mãos atadas sem poder agir para permanecer
contratado pela empresa. Resumindo só restou a tomada de decisão de desistir do
trabalho de home office, por conta das dificuldades que se manifestaram na
história da sua vida, limitando impossibilitando o êxodo do ambiente construído
desemprego.
Observe
a maneira que se deu a reclusão na história deste indivíduo. Para este
indivíduo lhe foi legitimo compreender o espaço circunscrito por certos
limites, onde o indivíduo está impossibilitado de sair do espaço ou de
ultrapassar dados limites, visto que é o desemprego. Onde o fator operadora de
internet, a ausência de recursos financeiros para realizar aumento de velocidade
antecipada proporcionaram que a pessoa permanecesse ainda confinada no
desemprego, como regime semiaberto.
Ou
seja, permanece com a liberdade condicionada por causa dos fatores externos que
estão sujeitos a operadora de internet e a escassez do recurso financeiro. O
ambiente construído desemprego, é o local ideal para executar de modo
consciente o desapegar-se de algo, que significa dizer deixá-lo ir. Já que as
perdas são inevitáveis, perda da imagem corporal profissional, perda monetária,
perda residencial, perda da empresa, diminuição no consumo da alimentação,
emagrecimento do corpo físico, divórcios, doenças dentre outros, por exemplo.
Vivemos
em uma cultura que promove a acumulação de objetos. Criamos nossa identidade
pessoal e profissional e segurança pessoal baseadas em coisas que nos
pertencem, enquanto estamos empregados, mas não nos damos conta de que o que
estamos construindo é na verdade um ambiente subjetivo prisional na
consciência.
Precisamos
ter mais e mais para nos sentirmos confortáveis, e o desemprego vem na contra
mão para nos destituir, ou seja, privar de um emprego, de agir como autoridade,
ou ter acesso a uma figura de autoridade, privar da dignidade que é a qualidade
moral que infunde respeito e respeitabilidade, exonerar de um cargo, depor ou
obrigar a deixar a atuação de uma profissão, desprover o indivíduo, ou seja,
tirar as provisões recursos financeiros que lhe é necessário neste momento. E
deste modo a história do confinamento vai se convertendo, junto com a autonomia
condicional.
Os
problemas de desemprego têm a ver não só com o medo, mas também com o
distanciamento social. É constatado que longos períodos no desemprego causa angustia
psicológica, que pode se manifestar como pesadelos, terrores noturnos, medo de participar
em processos seletivos, medo de não conseguir trabalho, irritabilidade,
hipersensibilidade emocional, apatia, nervosismo, dificuldade de concentração. Excesso
na busca de vagas e além do desemprego, os desempregados precisam estar atentos
a outras adversidades do cotidiano em tempo de desemprego. [...] Esse
medo marcará nossa memória, de forma desprazerosa, e será experimentado como
desamparo, “portanto uma situação de perigo é uma situação reconhecida,
lembrada e esperada de desamparo” (Freud, 2006, p.162).
É
orientado que os indivíduos não se afoguem em informações. Mudar de um site de
emprego para outro propicia ansiedade, angústia e sofrimento emocional. Apesar
das dificuldades impostas pela reclusão desemprego, dos riscos de superexposição
vergonhosa e das possibilidades reais de afastamento e alastramento do
desemprego, acredita-se que o desemprego não tenha o desfecho dos romances
distópicos. É bom as pessoas não terem medo. As distopias acabaram no passado
por causa do ímpeto humano de enfrentá-las.
O
mesmo se dá conosco, seres humanos, que somos seres
bio-psico-socio-espirituais. Além dos males físicos que o desemprego é capaz de
nos causar, o estado de constante ameaça e vulnerabilidade também nos afeta
negativamente. Somado a isso, ainda temos as medidas necessárias de proteção e
recolhimento, que têm seu lado eficaz, porém, traz dificuldades e efeitos
colaterais mediante o covid-19. O estado constante de ameaça, característico na
pandemia e no desemprego causa-nos, ansiedade extrema, preocupação com a
doença, medo de contaminação, medo dos efeitos na economia, irritabilidade, alto
nível de estresse, sintomas depressivos, tristeza, sintomas de estresse
pós-traumático, confusão mental, abuso de substancias, medo de não conseguir outro
emprego.
Somado
a isso, temos a reclusão com a liberdade condicional cerceada pela pandemia e o
desemprego, o isolamento social, e o chamado home office, que é trazer para
dentro de casa o seu trabalho. Confinados, somos impedidos de realizar algumas
atividades de lazer que éramos acostumados, gastar dinheiro em coisas
supérfluas, rompemos vínculos importantes e modificamos nossa rotina, focando
exclusivamente nossa atenção ao ambiente doméstico que é agora o espaço
restringido, e constatamos que nossa autonomia ficou limitada a certos espaços.
Sintomas
depressivos, ansiosos e de estresse pós-traumáticos também surgem por conta da
reclusão que simboliza o afastamento da convivência com outras pessoas, o
afastamento das contingências para aplicação dos saberes técnicos ou
acadêmicos. Tudo isso se soma e recai sobre os membros do ambiente construído
familiar, que estão agora todos juntos, com os filhos exclusivamente em casa e
que têm de saber defrontar com um turbilhão de emoções e sentimentos, com
problemas reais, sem deixar desmoronar tudo que construíram ao longo dos anos,
sem deixar que a soma de tantos efeitos e sintomas se manifestem na forma de
brigas e conflitos.
Se
o ambiente construído subjetivo desemprego nos tira de nossa ventana de
tolerância, ou seja, daquilo que damos conta de suportarmos sem irmos para
estados emocionais inadequados, como então amenizar os efeitos no casamento,
com os filhos ou membros da casa? Frente ao desemprego/ e ou pandemia, todos
precisam passar por fases até chegar a estabilização. Passamos pelo medo, pelo
desespero, pela negação, até que chegamos ao fortalecimento. Porém, é preciso
entender que cada um tem seu tempo para transpor por cada fase, alguns têm mais
estrutura, mais recursos internos e financeiros para se apegar e chegam
sozinhos, outros precisam de ajuda profissional [psicologia, medicina,
religião] e de recursos exteriores.
Estamos
todos debaixo da mesma intempérie, mas nem todos estão ou têm o mesmo saber
acadêmico, técnico/ e ou científico, ou seja, a grande maioria tem o
conhecimento do senso comum. As estruturas psíquicas são diferentes, porque são
formadas de modo diferente, porque as realidades e circunstâncias da vida são
diferentes. É preciso apreender que cada um resolve da forma que pode. Uns defrontam
mais rapidamente, outros precisam de mais tempo. Alguns estavam antes revigorados,
e outros já antes vinham enfrentando as dificuldades, com questões
psicológicas, físicas, no trabalho, no relacionamento.
O
primeiro passo é compreender isso. Outra atitude importante são as conexões
humanas. É provável que haja brigas, diferenças, crises e dificuldades, mas se
há a conexão, se há aquele sentimento de que a desordem chegou, mas todos estão
junto nessa eventualidade, há também a segurança de que tudo ficará bem. Portanto,
fortalecer as interações é fundamental e são os momentos em conjunto que
realiza isso. O que não pode faltar nunca, sobretudo em momentos de reclusão, é
cuidar de sua saúde mental. Como foi dito, somos seres
bio-psico-socio-espirituais, e se não estamos bem em alguma dessas instancias,
é impossível que consigamos que nossas relações fiquem bem. Afinal, afetamos e
somos afetados por onde estamos. Se estamos com incômodos, nosso casamento terá
objeções, nosso trabalho, nossa função de pais, de filhos, de membros de uma
sociedade também terão resistências.
Ou
se estivermos com contrariedades devido o desemprego, teremos inconvenientes no
casamento, na relação sexual, na manutenção da casa, no gerenciamento da moeda
ativa, na procura por emprego e outros. Isto representa que estaremos demarcados
em todas as áreas de nossa vida. Ou seja, liberdade condicional, que
permanecesse sujeita a uma condição, seja a figura [emocional, paterna, juiz,
chefe Estado, vírus], motivos externos desconhecidos, agentes operadoras de
internet que agem para produzir um efeito negativo ou positivo na vida de uma
pessoa. O sujeito se comporta de modo inconsciente, como se pertencesse a um
regime prisional.
Portanto
o ser humano não precisa ter cometido um crime na sociedade para pertencer a um
regime prisional. Diversas queixas colocam as pessoas a todo momento em
confinamento subjetivo modificando e limitando a ação de liberdade, seja a
autonomia exterior ou interior. Cada um deve observar em que experimento se
acha em dada história de vida. Seja, covid-19, doença contagiosa ou terminal,
desemprego, crise conjugal, crise financeira, crise de ansiedade e o que você
ser capaz de repensar agora que terminou de ler o artigo.
Referência
Bibliográfica
FREUD,
A. O ego e os mecanismos de defesa. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal
Popular, 1968
FREUD,
S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de
S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.
FREUD,
S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914).
"Recordar, repetir e elaborar ", v. XII
Comentários
Postar um comentário