Ano 2021. Escrito por Ayrton Junior Psicólogo
CRP 06Q147208
O
presente artigo convida o leitor(a) a repensar sobre como é ser autor da
própria evolução de sua vida, em meio a fatos sociais, políticos, econômicos,
militares, pandemia, culturais, ou religiosos que fazem parte do passado,
presente e futuro de um ser humano ou
povo de um país. A difícil tarefa de ser autor de sua própria história. Muitas
vezes o indivíduo deseja praticar ações para crescer emocionalmente,
espiritualmente, profissionalmente, financeiramente para ser o autor principal
da vida que tanto deseja.
O
indivíduo reclama da sua condição atual, reclama que não consegue ser o
protagonista e parece que as coisas simplesmente não andam, que não consegue praticar
as ações necessárias. Deseja muito que as coisas aconteçam, mas, por alguma
razão que desconhece, as coisas não acontecem. Então, será que basta querer ser
o autor da própria história de vida? [...] Em sua obra “Além do
Princípio do Prazer” (1920, p.34), Freud afirma: a compulsão a repetição também
rememora do passado experiências que não incluem possibilidade alguma de prazer
e que nunca, mesmo há longo tempo, trouxeram satisfação, mesmo para impulsos
instintuais que foram reprimidos.
Ser
autor da própria história e comprometido com os próprios valores muitas vezes
implica em lidar com sentimentos difíceis. O sujeito para se aproximar de uma
vida com sentido, precisa ter a coragem para fazer escolhas, mudar
comportamentos, proferir alguns nãos para o outro e todo esse processo também o
inunda de sentimentos exemplo, de controle, de tristeza, de frustração e medo, apesar
dos esforços, apesar da persistência, do trabalho e do empenho. [...]
Esse medo marcará nossa memória, de forma desprazerosa, e será experimentado
como desamparo, “portanto uma situação de perigo é uma situação reconhecida,
lembrada e esperada de desamparo” (Freud, 2006, p.162)
O
indivíduo percebe que até a coisa mais simplesmente que está acostumado a
realizar parece não fluir. E não consegue entender o porquê. Com isto fica
frustrado, angustiado, irritado, briga com os outros, desisti dos sonhos, contudo
depois resolve por atuar retomando, insistindo e nada acontece de novo. Parece
que o sujeito está apático. Como se tivesse com uma âncora de dez toneladas
presa ao pé, impedindo a sua autonomia de locomoção para a obtenção de seus
propósitos para que sua vida evolua. [...] “A angústia é, dentre todos
os sentimentos e modos da existência humana, aquele que pode reconduzir o homem
ao encontro de sua totalidade como ser e juntar os pedaços a que é reduzido
pela imersão na monotonia e na indiferenciação da vida cotidiana. A angústia
faria o homem elevar-se da traição cometida contra si mesmo, quando se deixa
dominar pelas mesquinharias do dia-a-dia, até o autoconhecimento em sua
dimensão mais profunda” (CHAUÍ, 1996 p.8-9).
Aí,
de repente, do nada, assim do nada mesmo, a coisa melhora um pouquinho. E o
sujeito fica todo contente, e pensa: Puxa vida! As coisas estão melhorando,
estou no controle de novo. Fiquei irritado, frustrado à toa. Era só questão de
perseverança. Entretanto o tempo passa, e aquela pequena melhora não é suficiente
para que o indivíduo continue a evoluir. Agora a pessoa olha e vê que continua
no mesmo estágio. A melhora foi tão pequena que rapidamente ela se tornou insignificante.
Isso contribui para que o sujeito tenha aquela sensação de fracasso, de
frustação, de estar impossibilitado no mesmo lugar ou impotente.
Com
isso pensa: Eu não vejo solução? E não compreende que está na compulsão a
repetição da perda de controle. Ou seja, parou de evoluir segundo a sua
percepção, mas o mesmo indivíduo ainda continua a evoluir, contudo não dá
maneira que planejou, mas sim de outros modos de acordos com os eventos que se
apresentam controlando a sua história de vida, exemplo, a pandemia, o
isolamento social que está forçando o sujeito de modo inconsciente a evoluir na
sua história de vida, embora ele ainda não percebeu isso, pois está focado
apenas em ser autor da própria história que perdeu o sentido neste exato
momento, deixando um vazio existencial na sua história. [...] Freud no seu
texto “Recordar repetir e elaborar” (1914), texto esse em que começa a pensar a
questão da compulsão à repetição, fala do repetir enquanto transferência do
passado esquecido dentro de nós. Agimos o que não pudemos recordar, e agimos
tanto mais, quanto maior for a resistência a recordar, quanto maior for a
angústia ou o desprazer que esse passado recalcado desperta em nós.
Noto
que o homem do século XXI procura na virtualidade um substituto para a relação
afetiva consistente. Engana seu estado de solidão e sentimento de vazio
existencial com os milagres oferecidos pela tecnologia, o celular, a internet,
a relação virtual. O ser humano está mais habituado a descobrir sentido na
criação, como na arte e na poesia, ou na construção de vínculos afetivos. Mas
não está acostumado a descobrir sentido no vazio provocado por outras
eventualidades por ele desconhecida.
Assim
como os sentidos são únicos, eles também são mutáveis. O que pode levar a pessoa
a descobrir algum propósito também em situações desfavoráveis, quando enfrenta
uma sucessão de fatos em sua vida que não pode ser mudado. Esse indivíduo está tão
habituado a pensar sobre alguns aspectos da vida por determinados prismas que,
quando questionado a respeito de certos temas, já tem uma opinião previamente
formada. E na maioria das vezes as respostas são baseadas em livros, conhecimento
acadêmico ou científico, cursos de especialização, cursos técnicos, cursos
universitários, revistas, notícias publicadas em jornais, e veiculadas por
canais de televisão, ou simplesmente foram reproduzida por ele desde pequeno a
partir do momento em que, algum dia, alguém, de alguma forma, seja verbalmente
ou através de ações, lhe ensinou.
Observamos
que a cada dia é possível perceber mais pessoas vivendo de forma atomata,
reproduzindo modos de pensar e agir sem parar para avaliar se esse modo lhe é
próprio, ou se ainda lhe faz sentido para continuar evoluindo na sua história
de vida. A Psicologia pautada nas abordagens existenciais entende que somos um
eterno vir-a-ser, ou seja, a todo momento, nos transformamos e somos
transformados e compartilhamos o mundo com outras pessoas e nessa relação afetamos
os outros e somos afetados por eles a todo momento.
E
o indivíduo neste modo de interação, faz com que o outro muitas vezes seja a referência
em sua vida. E a partir deste ponto de vista, a pessoa pode pensar no que
deseja ou não para si mesmo e isso implica em uma abertura para novas
possibilidades. Então, quando outro modo de fazer – que não o seu – lhe faz
mais sentido, acaba por se questionar o porquê de não ter dado conta antes de
que poderia pensar por outros ângulos ou fazer de uma outra maneira algo que fez
sempre tão igual.
E
é nesse processo de desvelamento, de descortinar que lhe faz sentido, que passa
a ter a si mesmo como referência e não o outro, como estava tão habituado.
Assim passa a ser quem é verdadeiramente, e a descobrir qual é o seu perfil e a
viver uma vida muito mais autêntica. Quero dizer com isso que o indivíduo não
está pronto nem acabado ou transformado, pois ao longo da vida tem a
possibilidades de fazer isso a cada momento.
O
autoconhecimento é muito importante, para o sujeito, pois é mais do que a
oportunidade de evolução, é uma forma que a pessoa usa para se sentir e
perceber inserida em uma realidade que lhe foi dada e dentro da qual cabe a ela
fazer escolhas para que possa vivê-la de modo autêntico, mantendo o que deseja
e que verdadeiramente lhe faz bem, transformando o que não faz sentido por não
ser genuíno para que continue a ser autor da própria história de vida.
Referência
Bibliográfica
CHAUÍ, MARILENA.
HEIDEGGER, vida e obra. In: Prefácio. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural,
1996.
FREUD,
S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de
S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.
FREUD,
S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914).
"Recordar, repetir e elaborar ", v. XII
FREUD,
A. O ego e os mecanismos de defesa. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal
Popular,
1968
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