Novembro/2020.Escrito por Ayrton Junior -
Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo convida o leitor(a) a repensar, sobre o fenômeno que ocorre as
vezes em nossas vidas quando pronunciamos para nós mesmos ou para os outros que
Nada faz Sentido em nossa vida. Na verdade, não analisamos profundamente o que
estamos comunicando ao outro de fato, pois ao pronunciarmos que Nada faz
Sentido não estamos de fato percebendo que Nada faz Sentido a não ser o Sentido
que escolhemos naquele exato momento em relação as expectações que não
aconteceram.
Todos
nós queremos viver a vida de nossos sonhos, cheios de liberdade, realizações e
reconhecimento. Entretanto isso não acontece com todas as pessoas e isso pode
acarretar em uma fase ruim da vida, que é quando você apenas existe e não tem
objetivos, pois acaba dizendo para si mesmo que nada mais faz sentido. O ser
humano é movido por sonhos, metas e expectativas a serem cumpridos, quando o
sujeito não tem isso apenas se vive/ e ou empurra-se com a barriga a vida.
A
pessoa se sente desconectada da vida, dos propósitos, dos objetos. Mesmo que a
carreira profissional vá bem, o relacionamento vá bem ainda se sente
desconectado da vida? Isso é muito comum entre as pessoas, mas não é fácil de
ser percebido pelo próprio sujeito, nem de ser resolvido, pois a mudança está
apenas nele e não nas outras pessoas. Se observe e procure perceber porque você
está se sentindo desconectado!
A
infelicidade é algo real e muitas pessoas se sentem assim por diversos motivos
e um deles é não conseguir estar vivendo a realização dos objetivos, embora
tenha feito todos os esforços necessários e suficientes que esteve ao seu
alcance e ainda assim não atingiram os resultados esperados. Isso não é nada
bom, porque se o sujeito está infeliz nada a sua volta parece dar certo e acaba
se tornando uma pessoa cada vez mais sozinha, decepcionada, frustrada.
Você
vai trabalhar e estimular-se pelos seus sonhos para realizá-los, contudo é
muito importante se atentar a avaliar as condições que se encontra, compreender
que pode-se adiar os propósitos e até desisti, se depois da avaliação entender
que não vale mais apenas continuar a insistir nestes sonhos. Entretanto se desistir
de todos os seus objetivos, não há mais razão para motivar-se ou trabalhar.
Então pense nisso.
Às
vezes parece que estamos fora do mundo. Essas situações que provocam esse sentimento
de estar fora do mundo muitas vezes está relacionada com a perda de algo muito
importante para cada pessoa. Um exemplo clássico é a perda do emprego, um
divórcio, especialmente se não há boas perspectivas para conseguir outro que
seja equivalente ou preencha esse vazio.
Esta
perda pode ser o início de um grande mal-estar, onde uma pessoa passa por fases
de irritação, ansiedade, medo e até mesmo desespero. Se a situação não for resolvida
e, cause insegurança o pessimismo começa a ganhar terreno e de repente, a
pessoa pode desenvolver um comportamento auto destrutivo. [...] Esse
medo marcará nossa memória, de forma desprazerosa, e será experimentado como
desamparo, “portanto uma situação de perigo é uma situação reconhecida,
lembrada e esperada de desamparo” (Freud, 2006, p.162)
Compreenda
que ao se sentir fora do mundo é porque, de fato, o seu mundo, como era antes,
não existe mais, por isso nada faz sentido. Exemplo, o mundo antes da pandemia,
antes de estar desempregado, antes de estar em estado de desalento, antes de
ser despejado da moradia e outros. E se o seu mundo não existe, é como se você
não tivesse um lugar para ficar nele. O desinteresse está aí, sem estar. Os
sofrimentos ou as crises não resolvidas nos levam a um certo distanciamento.
Existem mecanismos inconscientes que nos fazem sentir culpa, ficar
decepcionados. No fundo, nós passamos a acreditar que quando acontecem eventos
negativos é devido ao fato de termos feito algo errado ou alguma coisa ruim.
Nesses momentos, não é raro que a pessoa perca a auto confiança; corremos o
risco de formar uma ideia/ e ou pensamento equivocado sobre o que podemos ou
não fazer.
Para
uma parte das pessoas a perda da capacidade de sentir prazer se deve a
experiências destruidoras intensas que deixaram marcas profundas. Depreendo que
a falta de animo, assim que percebida pode gerar um impulso na busca de
soluções. Considero isso ótimo, pois perceber isto significa que ainda há
alguma energia para buscar solução e não deve ser desperdiçada. A psicoterapia
é uma opção tanto para entender o que causou como para encontrar formas de
superação.
No
consultório, nada faz sentido a não ser o sentido que escolhemos está presente toda vez que o questionamento é
a respeito do Para quê? ou seja, Para quê levantar cedo pela manhã e ir
trabalhar? ou Para que continuar com este relacionamento vazio? ou Para que
estudar, fazer exercícios físicos, ficar em isolamento social devido a pandemia
causada pelo Covid-19, trabalhar, casar, ter filhos, procurar emprego no
mercado de trabalho ou na internet, trabalhar como Home Office se eu não
consigo os resultados esperados?
A
resposta da biologia para o sentido da vida é a reprodução. Portanto, o sentido
da vida no estudo da vida [biologia] é a manutenção da vida, a reprodução da
espécie. Algumas vezes acontece na vida eventos que parecem não ter sentido,
pois não se trata muitas vezes de ir para outro lugar, de sair de uma condição
de infortúnio, de chegar até uma meta, de concluir algo, mas confrontar as
adversidades e avançar.
Muitas
vezes nos esforçamos até a exaustão, investimos tempo, energia, emoções e afeto
e, no entanto, o destino nos traz um irônico revés e todo esforço, todo sonho
fica dizimado. Desmoronar nesses casos é mais do que lógico e compreensível.
Assumir que não podemos mudar o que está acontecendo como uma pandemia, como o
fato de que não se conseguirá reinserir-se no mercado de trabalho por ter idade
acima do estabelecido pela hierarquia organizacional ou ficar em isolamento
social forçado para evitar contrair o vírus isso nos deixa prisioneiros das
circunstâncias e que não há nada a se fazer.
Compreender
e procurar aceitar que, efetivamente, não podemos mudar o que está acontecendo,
embora podemos apenas mudar nossa atitude em relação a essas situações. [...]
Em sua obra “Além do Princípio do Prazer” (1920, p.34), Freud afirma: a
compulsão a repetição também rememora do passado experiências que não incluem
possibilidade alguma de prazer e que nunca, mesmo há longo tempo, trouxeram
satisfação, mesmo para impulsos instintuais que foram reprimidos.
Nestes
momentos necessitamos ser capazes de aplicar uma atitude mais forte, resiliente
e positiva para poder, assim, encontrar um sentido da vida mais esperançoso,
superior onde nada faz sentido a não ser o sentido que escolhemos. O ser humano
tem a necessidade de buscar um significado para a sua vida. O homem sempre procurou dar um sentido à sua
existência. A frustração dessa necessidade gera o vazio existencial e uma crise
de identidade. Procure ouvir a sua voz interior e seguir a sua indicação.
Vez
ou outra na vida passamos por aquela sensação que mistura um pouco de tédio,
agonia e impaciência. Temos a sensação de não pertencimento daquela vida
automática e sem sentido. Uma onda de negativismo paira sob nossos pensamentos
e tudo aquilo que parecia normal, rotineiro, passa a não trazer mais satisfação
pessoal. Já se sentiu assim?
Apesar
de soar negativo, na realidade são nesses momentos que percebemos que algo não
está bom, algo dentro de nós está desconectado de nós mesmos e passamos a fazer
alguns questionamentos do tipo: O que estou fazendo da vida?, Nada mais faz
Sentido ou Estou fazendo exatamente o que eu gostaria? ou ainda Eu não sou
aquela pessoa que pensei que seria nessa idade. E agora?
As
vezes não percebemos que estamos desconectados de nós mesmos, mas somente do
mundo, pois nada mais faz sentido nas coisas que percebemos no mundo. Vamos
fazendo e vivendo algumas coisas que consideramos o esperado par cada idade, na
cultura em que se está inserido, exemplo, se formar na escola, no colégio,
escolher um trabalho, escolher um curso acadêmico, ter um relacionamento, ter
um a empresa, comprar uma casa, namorar e casar, ter filhos ou não. Perceba que
quando digo o esperado, falo que essas crenças estão enraizadas na vida das
pessoas e que pensam ser o certo, por conta da história de vida de cada ser
humano. [...] Freud no seu texto “Recordar repetir e elaborar” (1914), texto
esse em que começa a pensar a questão da compulsão à repetição, fala do repetir
enquanto transferência do passado esquecido dentro de nós. Agimos o que não
pudemos recordar, e agimos tanto mais, quanto maior for a resistência a
recordar, quanto maior for a angústia ou o desprazer que esse passado recalcado
desperta em nós.
Contudo
em dado momento essas coisas esperadas param de fazer sentido, ou seja, podemos
não desejar mais participar daquela vida que sentimos que nos foi imposta pelos
desejos dos Outros. Exemplos, podemos não querer mais aquele trabalho de
telemarketing, de técnico em mecânica, de advogado, de enfermeiro, aquele
relacionamento, aquele apto que levou tempo e investimento para ser adquirido
de acordo com os sonhos. Eis a questão, Sonhos de Quem?
Será
que nada faz sentido, pois percebemos que não são os nossos sonhos que estamos
perseguindo, mas sim os desejos dos Outros! Eram sonhos de uma sociedade toda, de
um amigo ou parente que te indicou para um determinado emprego, de um curso em
que foi influenciado por um professor ou líder religioso, dos pais, dos parentes
mais velhos, dos amigos, mas não meus!
Percebemos
que o mundo paralisou e o que almejamos não conseguimos, por mais que tentamos,
nos apercebemos numa estagnação, ou seja, há falta de progresso nos nossos
projetos. É difícil aceitar e assumir que desejamos outra vida e que somos
responsáveis por tudo aquilo que estamos sentindo como raiva, decepção,
frustração e, principalmente pelas escolhas que continuamos persistindo. [...]
“A angústia é, dentre todos os sentimentos e modos da existência humana, aquele
que pode reconduzir o homem ao encontro de sua totalidade como ser e juntar os
pedaços a que é reduzido pela imersão na monotonia e na indiferenciação da vida
cotidiana. A angústia faria o homem elevar-se da traição cometida contra si
mesmo, quando se deixa dominar pelas mesquinharias do dia-a-dia, até o
autoconhecimento em sua dimensão mais profunda” (CHAUÍ, 1996 p.8-9).
E
isso significa, renunciar a tudo aquilo que não está dando mais certo como
determinados projetos e decepcionar muitas pessoas ao seu redor que depositaram
expectativas em você e encarar o medo do desconhecido, ou seja, encontrar um
novo significado, onde nada faz sentido. O sentido da vida consiste em realizar
valores e para tanto é necessário conhecê-los. Cada indivíduo possui sua própria
escala de valores. Para uns, o que importa é possuir poder, dinheiro, status,
bens materiais ou seja: ter. Para outros, o que importa é ser e não ter.
Para
estes a realização pessoal consiste em descobrir o verdadeiro sentido em suas
vidas, em adotar uma série de valores coerentes com sua realidade pessoal e com
a realidade do mundo em que vivem e assim têm possibilidade de serem felizes. E
neste momento repense sobre nada faz sentido a não ser o sentido que atribuímos
as nossas expectativas.
O
sentido da vida pode ser encontrado naquilo que fazemos, naquilo que vivemos e
nas atitudes que tomamos perante as circunstâncias da vida, perante a pandemia
e o que você pensar enquanto termina de ler o artigo. Descobrir, porque nada
faz sentido, depois de empreender esforços para alcançar resultados e nada
acontece como esperado não é tarefa fácil. As vezes pode ser necessário
renunciar a todos os objetivos que foram colocados esforços para serem
alcançados e gerou frustração, decepção e a percepção que nada faz sentido,
para recomeçar de modo diferente. Se puder procure a ajuda de uma psicoterapia
e verá que com a análise de si próprio, aprimorará o auto conhecimento e
encontrará novos caminhos para percorrer.
Referência
Bibliográfica
CHAUÍ, MARILENA.
HEIDEGGER, vida e obra. In: Prefácio. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural,
1996.
FREUD,
S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de
S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.
FREUD,
S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914).
"Recordar, repetir e elaborar ", v. XII
FREUD,
A. O ego e os mecanismos de defesa. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal
Popular,
1968
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