Abril/2020.Escrito por Ayrton Junior -
Psicólogo CRP 06/147208
O
presente artigo chama a atenção do leitor(a) a olhar para a angustia de
castração quando não se tem para onde ir, ou seja, não ter como sair de uma situação
desconfortável ou sadomasoquista. O indivíduo se apercebe sendo castigado pelas
eventualidades que o impedem a todo custo de sair da condição que se encontra e
vivência as aflições impostas por outros sujeitos no mesmo ambiente seja ele
familiar, organizacional e o que você pensar agora e isto pode ser entendido
através de uma leitura mental e interpretação por meio do sonho.
O complexo de Édipo através das
considerações tecidas acerca do caso Pablito. Pablito, na idade adulta, começa
a apresentar uma fobia a cachorros, e no sonho outros cachorros tentam morder
sua mão. Pablito é um homem religioso e seu pai paterno é falecido. Na adolescência
Pablito teve um cachorro de raça pequenez chamava-o de “changue” e amava-o
muito. Analisando os sintomas de Pablito
e suas construções acerca dos mesmos, percebemos que, na verdade, o cachorro
representava a figura de seu pai [paterno/ e ou arquétipo Deus]. Assim, a fobia
de cachorros expressava um conflito disfarçado, cujo conteúdo inconsciente era
o medo do pai/ e ou arquétipo [agente castrador da vivência edípica]. O pai
edípico, portanto, representa e promulga a lei de proibição do incesto.
Na
pessoa normal, o complexo de castração e suas muitas associações,
principalmente a edipiana, dão lugar em grande medida mecanismos de defesa como
a formações de reativação, sublimações, substituições, identificações extra
parentais e outros, que caracterizam o chamado período de latência. Durante o
período de latência, a ameaça de castração, especialmente a oriunda do pai, faz
com que o filho se identifique com o pai, assim estabelecendo em seu íntimo as
proibições paternas/ e ou religiosas. Deste modo, o complexo de castração é
internalizado, "encoberto"; também está livre de autoridade externa,
até ser reanimado na puberdade ou na religião.
O
adolescente/ e ou adulto cristão poderá se sentir como que 'castrado', quando
for proibido por seus pais [paterno/ materno/ arquétipo] de fazer determinada
coisa. O Adulto sentirá angústia igual quando não conseguir passar em um
concurso público, quando não conseguir atuar em emprego e trabalho que deseja.
E o que muda?
A
forma como ele lidará com os efeitos da castração, como ele vai superar esta
angústia. Em geral, as pessoas medianamente saudáveis conseguem sublimar a
raiva e os efeitos deste complexo; significa que conseguem superar perdas com
maior resiliência; quando não conseguem as coisas que desejam, são capazes de
buscar por novos objetivos e desejos. Mas o medo e a raiva continuarão ali, por
mais que não pensemos nele. Apenas deslocamos a angústia de sermos pegos e
mutilados, para outras imagens, exemplo sermos presos, maltratados, agredidos,
processados, ficando doente, afastando-se de pessoas próximas/ e ou arquétipo
religioso, recebermos uma multa ou uma expulsão do campo de futebol ou da sala
de aula, e a base desta angústia começou lá atrás, com o medo de ser castrado.
A
imagem da castração é tão forte, que é incomum que um adulto se lembre dela,
irá ter “fantasias” com vários outros tipos de imagem. Um cão mordendo sua mão,
no sonho, por exemplo, os dedos sendo
cortados e a análise simbólica, prática corrente da psicanálise, auxilia na
identificação do eco de fundo do complexo de castração, e assim, trazendo a luz
sobre a angústia inicial da pessoa, baseada na culpa, fazê-la superar o medo
que deu origem ao complexo, que tornou-se irreal, fantasmático, diriam alguns.
Historicamente,
o ser humano sublima o complexo com resiliência e superação. A culpa do complexo de Édipo, e depois o medo
de ser punido sendo castrado, é superada pela sublimação da raiva, enfrentando
o medo, e para isto é necessário introjetar uma visão mais realista de si mesmo
e do mundo. Aceitar o que se perdeu e o que não se pode ter, dá início ao
processo de deslocamento da energia que antes era focada na angústia da perda.
Já a criatividade é uma forma mais evoluída de superá-lo, encontrar novos meios
de se conseguir o objeto desejado e proibido pelas vias que acreditávamos
anteriormente. Ao mesmo tempo em que se foca em outros objetos [diferentes do
inicialmente desejado, por ser proibido] ou novos caminhos para se atingir o
que se quer, gasta-se menos energia na angústia de ser punido, do medo de
sofrer represálias, medo de não se conseguir.
Vários
autores encontram nesta forma de sublimação um caminho que justifica a melhor
forma de lidar com este complexo encontrada pelas mulheres, que pelas
dificuldades encontradas em uma sociedade machista, que impõe uma “castração”
muito maior a mulher que ao próprio homem, que não possuindo, em geral, meios
para impor sua vontade [através da rebeldia], encontram na criatividade ou na
arte uma forma de sublimar a raiva, superar a angústia do medo inicial. Temos
que acrescentar também o papel do Amor e da Ética, não menos importante.
O
amor pelos outros, e consequentemente, o verdadeiro respeito à ética, ao
destino das pessoas à sua volta, vê-los como pessoas tão importantes como você,
pode se dar após grandes choques com o complexo de Castração. Grandes derrotas
seguidas na vida podem mostrar que só há dois caminhos a seguir, exemplo bater
de frente no muro, que não irá ceder, e viver constantemente angustiado por não
superá-lo [com o medo da represália da vida, das pessoas, de tudo que você
combateu] ou entregar-se à aceitação, entender o que não se pode ter. Amar é
aceitar, e por mais que quando você começou a ler este artigo sobre “castração”
não imaginou que ele terminaria falando de amor, digo que esta é uma das
diversas grandes surpresas que a psicologia e a psicanálise guardam.
Castração
pode se traduzir como capacidade para o prazer. Você só supera o medo da
castração se a vontade de buscar o que te dá prazer for maior. E para isto,
você tem que admitir que a fonte de prazer vale realmente a pena. E amar é
isto. Amar é aceitar as imperfeições [eis aí uma grande castração, a fantasia
da pessoa perfeita]. Por isto pessoas que idealizam demais sua alma gêmea não
consegue amar, vivem angustiadas, pois a castração é uma imagem constante,
quando estão com a pessoa real ao seu lado. [...] Em sua
obra “Além do Princípio do Prazer” (1920, p.34), Freud afirma: a compulsão a
repetição também rememora do passado experiências que não incluem possibilidade
alguma de prazer e que nunca, mesmo há longo tempo, trouxeram satisfação, mesmo
para impulsos instintuais que foram reprimidos.
Enganam-se
também os que buscam literalmente o prazer físico pensando ludibriar a
castração, fetichismo é algo sempre cercado de desajustes com o complexo de
castração e em geral são pessoas que não criam vínculos [sua fixação no objeto
de fetiche sexual é uma proteção, pois tentam fugir da angústia de um
relacionamento real, amoroso, com uma pessoa de carne e osso]. Elas temem não
poder controlar a relação, temem se entregar, temem amar, temem a dor emocional
e a física. Para concluir a importância do amor para superar o complexo de
Castração, é necessário dizer que em todas as grandes histórias de amor da
humanidade a ameaça de perda, de castração, está presente, exemplos Sansão e
Dalila, Tristão e Isolda, Heloísa e Abelardo, Lancelot e Guinevere, seja
castração literal ou figurativa.
O
verdadeiro amor precisa de um obstáculo, precisa ter uma punição vinculada e se
tornar um desafio a ser superado. E é a entrega do amante ao risco, para
alcançar o seu objeto de amor, que o faz superar a angústia do medo da punição.
Afinal, o amor vence tudo, não é? O complexo de castração tem um lugar fundamental
na evolução da sexualidade infantil. Sua estruturação e seus efeitos são
diferentes no menino e na menina. O menino teme a castração como a realização
de uma ameaça paterna em resposta às suas atividades sexuais [cujo objeto
original é a mãe], do que advém a intensa angústia de castração. Na menina, a
ausência do pênis é vivenciada como um dano sofrido e que ela procura negar,
compensar ou reparar.
Em
relação ao complexo de Édipo, também situa-se de maneira diferente em cada sexo;
para a menina, a busca do pênis paterno [e seus equivalentes simbólicos, como
ter um filho do pai] equivale ao momento de entrada no Édipo, enquanto que, no
menino, o surgimento da angústia de castração sinaliza a crise final do Édipo,
interditando à criança o objeto materno.
A
fantasia de castração é encontrada sob diferentes variações, exemplo o objeto
ameaçado pode ser deslocado [cegueira de Édipo, arrancar os dentes, amputação
de uma perna, perda de trabalho etc.], o ato pode ser substituído por outros
danos à integridade corporal [acidente, cirurgia, automutilação, doenças
psicossomáticas etc.] ou psíquica [loucura como consequência da masturbação] e
o agente/ e ou arquétipo religioso [pai] pode ser substituído por [animais].
Seus efeitos clínicos vão desde a inveja do pênis, sentimento de inferioridade,
tabu da virgindade, alguns fenômenos psicopatológicos presentes no
homossexualismo e no fetichismo até à impotência e frigidez.
O
aparente medo infundado que o pequeno Pablito sentia de cachorros mordendo sua
mão nos sonhos, na verdade nada mais era do que o medo da castração que, em sua
fantasia, aparecia na forma de um cachorro que poderia extirpar seus órgãos
genitais a dentadas. Na ocasião, Pablito encontrava-se no auge de sua atitude
edipiana na qual o arquétipo religioso pai era seu maior rival, impedindo-o de
ter o objeto desejado e amado que é o emprego almejado. Pablito nutria por seu arquétipo
pai um sentimento ambivalente de amor e ódio, e sua fobia, representou uma
tentativa de solucionar este conflito, recalcando o impulso de hostilidade/ e
ou rival contra o pai. [...] Freud no seu texto “Recordar repetir e
elaborar” (1914), texto esse em que começa a pensar a questão da compulsão à
repetição, fala do repetir enquanto transferência do passado esquecido dentro
de nós. Agimos o que não pudemos recordar, e agimos tanto mais, quanto maior
for a resistência a recordar, quanto maior for a angústia ou o desprazer que
esse passado recalcado desperta em nós.
A
ideia de castração esforçava-se para não vir à tona, mascarando-se através de
um componente de angústia fóbica. Existe também outro aspecto digno de nota,
exemplo Pablito temia ser dilacerado pelo cachorro. Esse medo de ser dilacerado
remonta a um impulso passivo de ser tomado pelo pai religioso como objeto. Além
disso o arquétipo pai de Pablito tinha por hábito de acordo com a doutrina
teológica só conceder o desejo se estivesse isento de pecado; daí a escolha do cachorro
como objeto de sua fobia. Pablito, portanto, tinha medo de ser castrado pelo arquétipo
pai, e através da formação substitutiva, deslocou este medo e raiva para a
figura do cachorro.
O
amor em sua relação ao objeto amado [emprego] e a agressividade direcionada
contra o arquétipo pai desapareceram através do mecanismo do recalque, sendo
substituídos pelo sintoma fóbico. A vantagem do sintoma é que o Eu passa a ser
ameaçado por um perigo interno o arquétipo pai, que é o objeto da fobia [cachorro],
e não mais por um perigo externo/e ou de fora [mercado de trabalho, processos
seletivos, preconceitos contra meia-idade, perfil que destoa da vaga, ausência
de especialização, falta de experiência, falta de Quem Indica para alguma vaga
e outros], uma vez que o que vem de dentro [pulsão] é mais difícil de ser
refreado do que o que vem de fora.
Referência
Bibliográfica
FREUD,
S. (1920), "Além do princípio do prazer” In: FREUD. S. Obras completas de
S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVIII.
FREUD,
S. (1996). Obras completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago. (1914).
"Recordar, repetir e elaborar ", v. XII
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